quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

COMPLEXO

Há um lugar em Poços de Caldas que considero desses “tesouros perdidos”. Não conheço a história exata, não localizei referências sobre sua construção ou finalidade. A estrutura se parece com a dos hotéis dos anos 1970, grandiosa, amplos salões, acabamento em pastilhas. A localização privilegiada proporciona uma excepcional visão panorâmica da cidade, permitindo observar detalhadamente espaços como a Thermas Antonio Carlos ou o Palace Hotel. Olhando a partir do Palace, é possível ver um “esqueleto” inacabado, à direita do prédio, bem como um esquecido Funicular, este à esquerda.

Ao lado do prédio principal há um belíssimo complexo esportivo com duas piscinas cobertas, sendo uma de grandes dimensões e profundidade -olímpica ou semi- e uma quadra, esta sobre o “esqueleto” referido acima. Absolutamente abandonados, o telhado das piscinas está destruído, com grandes buracos ou telhas inteiras faltando. A maior utilidade do que resta de cobertura é servir de garagem a uma moto. O que deveria ser a quadra é um cimentado largado. A outra piscina, não esportiva, é um verdadeiro brejo, de água tão suja que penso que até a fêmea do Aedes Aegypti tem nojo de depositar ali seus ovos.

Perto da piscina maior, uma inacreditável “instalação artística” com canos vazando, inflitrações e um precário sistema de reforço estrutural composto de -pasme- "magrelos" troncos de madeira. Tudo isso devidamente “umidificado”. Dá medo. Fosse na minha casa certamente já teria sido interditada.

Na parte interna do prédio, amplo salão por onde passam centenas de pessoas todos os dias, além das que lá trabalham. Uma observação rápida e imediatamente percebe-se a ausência de equipamentos de combate a incêndio. Se existem estão escondidos, e aí não têm utilidade.

Perguntei a uma pessoa que trabalha no local -e tem qualificação técnica para julgar minha questão- sobre a razão de não recuperarem a piscina. A resposta: “se encher a piscina o prédio cai”. Com relação aos extintores: “no arquivo tem!”.

Fico tentando entender como é que Bombeiros, Defesa Civil, Prefeitura e outras entidades que têm responsabilidade sobre a integridade da população permitem que um local naquelas condições não tenha sido demolido até hoje. Interdição seria o mínimo.

Se você ainda não identificou o local do qual estou falando, trata-se do Complexo Santa Cruz, cujo nome oficial é "Adelino Esteves", denominação dada pela lei municipal 6.198, de 1996. Ali funcionam, entre outros, a Rádio Libertas, as secretarias municipais de Assistência Social, de Edudação e Cultura, de Esportes (a quadra e as piscinas...) e a de Planejamento e Coordenação, cujas responsabilidades incluem “fiscalizar a construção de edificações, elaborar os projetos das obras públicas, coordenar e implementar a política de proteção do patrimônio histórico edificado”, nas palavras do site da própria prefeitura.

Encerrando: na psicologia analítica junguiniana, “um complexo interfere na vida consciente, envolvendo-nos em situações contraditórias, provocando lapsos e gafes, perturbando a memória, arquitetando sonhos e sintomas neuróticos”. E olha que Carl Gustav Jung nem conheceu o “nosso” Complexo...
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2 comentários:

  1. Segundo consta, essa encosta de morro teria sido DOADA pela prefeitura para que ali se construisse um hotel de cinco estrelas. Depois de muitos anos do insucesso do empreendimento, a prefeitura (claro que com o nosso dinheiro) comprou novamente a área, então "valorizada" por aquele espanto de construção...

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  2. Meu nome é Eduardo Fernandes e cheguei a me hospedar com minha família nesse prédio muito curioso em 1987, quando tinha 13 anos. Era um edifício residencial na época com uma parte interditada. Percorri quase todo o prédio, pelo menos nas áreas onde não haviam corredores bloqueados por paredes em alvenaria e fiz algumas fotos. Cheguei bem perto desse funicular, mas não houve como visitar sua garagem. Ao perguntar sobre o prédio ao zelador da época. Me disse que havia sido construído por um senhor português, era para ter sido um hotel e o funicular levava ao restaurante e áreas de diversão. O tal português na época já estava muito doente e morreu antes de sua conclusão. Sua esposa não deu continuidade e faliu, perdendo o imóvel endividado. Não cheguei a verificar a veracidade da história, até porque moro em Santos-SP e era muito jovem nessa época. Mas sempre tive vontade de me aprofundar no assunto, pois hoje trabalho com computação gráfica e faço pesquisas sobre antigos imóveis. www.edufernandes.com.br

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