Parece até que foram pegos de surpresa por uma infundada ação de despejo, com mandado apresentado pelo oficial de justiça em plena madrugada: a Secretaria de Turismo literalmente se "agarra ao pincel" e suspira, abandonada, sem ter para onde ir. Não entendeu? Pois é. As obras de recuperação do Palace Casino já deveriam ter começado, e a Secretaria de Turismo, "inquilina" do prédio, simplesmente não tem para onde ir.
Para começar, discordo da utilização de um espaço nobre como aquele para "escritório". Engana-se quem pensa que com essa aplicação o local seria preservado. Não. Começa pela colocação de meses, cadeiras, divisórias, telefones, gabinetes e termina como depósito de material como madeiras para montagem de palcos (sobre o chão de tacos, lembra?), além de mesas, telão e outros objetos utilizados nas ações da secretaria.
A "ordem de despejo" veio do combalido Complexo Santa Cruz, precisamente da Secretaria de Planejamento, solicitando que seja definida a data de desocupação do Palace, para que comecem os trabalhos. Furado. Em vez de solicitar, a Secretaria de Planejamento deveria "informar" a data na qual os atuais ocupantes deveriam estar na rua, já que a pauta é antiga. Enquanto o órgão se engalfinhava com os moradores da Rua Rio de Janeiro, fincando o pé na realização do até agora mal explicado corredor do axé (que acabou acontecendo na porta da Prefeitura), nossa equipe de Turismo não foi capaz de conseguir um novo endereço.
Deixando de lado os "memorandos" do primeiro escalão, uma coisa não está bem definida: o Palace vai sofrer que tipo de obra? Dizem revitalização, recuperação, reforma ou restauração como se fossem todas a mesma coisa, mas de comum só há o fato de começarem com a mesma letra "r".
Exemplificando metaforicamente pelo antigomobilismo, "ciência" não oficial que se dedica à arte da preservação dos automóveis antigos: "restaurar" um veículo clássico significa devolver à condição original, como quando era novo, permitindo-se eventualmente o uso de materiais contemporâneos, como uma tinta melhor ou uma fiação mais segura, mas sempre dentro da configuração "de fábrica"; já "revitalizar, recuperar ou reformar" transitam entre deixar em condições decentes de uso ou trazer de volta à vida.
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Assim, se alguém encontrar um antigo Cadillac 1957 abandonado há décadas numa garagem de fazenda, terá basicamente duas opções: reformá-lo, se a condição permitir, ou restaurá-lo, à condição de zero km. A primeira é mais simples e menos dispendiosa; a segunda, demorada e cara, porém com resultados muito mais interessantes.
Nesta ótica, foi bastante oportuna a saudável discussão do tema protagonizada por José Carlos Polli e Roberto Tereziano, âncoras do Jornal do Meio Dia, da TVPlan, no programa de hoje (6/3). A questão é que, no local onde hoje está a deteriorada Boate Azul, no passado ficava um belíssimo teatro, com três frisas e camarotes, que poderia ser resgatado se o Palace for efetivamente restaurado, no sentido estreito da palavra.
Pesa o fato de a boate ser trabalho da artista Mary Vieira, "precursora do movimento concretista", na palavra dos especialistas, e que, entre outras obras é autora do Monumento aos Heróis de Monte Castelo, na Itália. Vieira deixou sua marca em Poços junto à obra de Eduardo Pederneiras, "criador" do Palace Hotel, Casino e Thermas.
De toda forma, ficando a boate ou voltando o antigo teatro, o assunto parece correr em sigilo. Gostaria -e tenho certeza que muita gente em Poços também- de saber como será a obra no Palace. Se for só para "jogar uma tinta", esqueçam. Logo a pátina do tempo marcará novamente o velho palácio, dando espaço a tristemente memoráveis banhos de cerveja pelos enormes salões. Prefiro a restauração, o que certamente definirá um futuro muito mais nobre àquelas escadarias de mármore.
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