sexta-feira, 18 de setembro de 2009

QUEBRA-MOLAS NO MONOTRILHO?


Já falei algumas vezes sobre o quanto gosto da expressão "emblemático". E quebra-molas se enquadram perfeitamente no pior significado que se pode dar à palavra: representam o que há de ruim, relaxado ou mal cuidado na questão do trânsito brasileiro.
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Em tese, um quebra-molas (ou ainda lombada, obstáculo transversal, rampa de lançamento ou qualquer outro nome que se dê a esse real primor da engenharia) serviria como um mero redutor de velocidade apelando não para a consciência do motorista, mas para o prejuízo, uma vez que passar acima da velocidade representa dano ao veículo -por isso "quebra-molas".
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Típico dos países subdesenvolvidos -muitos deles conhecidos pelo eufemismo "em desenvolvimento", Brasil inclusive- o quebra-molas é, na prática, a assinatura com o polegar no certificado de incapacidade das autoridades brasileiras de gerirem seus próprios problemas de trânsito. Não é possível educar os motoristas para respeitarem os limites impostos? Quebra-molas! Porta de escola? Quebra-molas! Não há como fiscalizar? Quebra-molas! Travessia de pedestres diante de um hospital? Quebra-molas! Notou o "diante de um hospital"? É tão pouco sensato que até as ambulâncias são obrigadas a reduzir a velocidade.
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Quando da criação do Código de Trânsito Brasileiro, os quebra-molas foram proibidos, visto que a lei era ampla, abrangente e, se cumprida e fiscalizada, dispensaria qualquer alternativa paralela, contando com severas punições aos infratores, por meio de pontos acumulados e multas pesadas. Mas o Contran logo deu uma aliviada, possibilitando às autoridades locais a criação de novas lombadas, dentro de critérios técnicos definidos, considerando dimensões dos obstáculos e tipos de veículos que transitam numa determinada via, entre outros.
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Há sim lombadas em países desenvolvidos, como os "speed bumps" norte-americanos, simples ondulações para reduzir a velocidade, que servem de alerta ao motorista, por exemplo, entrando em zona de menor velocidade e que podem até ser ultrapassadas sem diminuir a velocidade, sempre em ruas residenciais, clubes e um ou outro shopping. Aqui, a praga iniciada oficialmente em Curitiba alastrou-se até em rodovias. Se você pilota uma moto sabe o risco que é um garupa desavisado num quebra-molas. Uma carreta carregada também é problema, um caminhão-tanque de bombeiros idem.
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A mais recente contribuição de Poços de Caldas para o tema "brotou" na novíssima (e duplicada) avenida Edmundo Cardillo, em área movimentada, é bem verdade, junto a um hospital, um parque de diversões e um grande hotel, em plena véspera da semana de campanha nacional de educação no trânsito. Tal qual aquele arremedo de "traffic calming" instalado na confluência das ruas Assis e Junqueiras, o novo quebra-molas, que você vê nas fotos acima, parece ser fruto da sede de mostrar "atenção com o povo", mesmo que isso não seja consequência de aprofundados estudos técnicos.
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Assim, pelo menos R$ 30 milhões foram investidos na duplicação mal ajambrada de uma avenida, como Viva Poços! já abordou algumas vezes, com suas guias de cantos vivos, trechos de asfalto que sucumbiram à primeira chuva, drenagem irregular com enxurradas cruzando a pista, sucessão de curvas apertadíssimas com muros muito próximos e até mesmo erros de acentuação na sinalização de solo, uma obra "moderníssima", como disseram sobre a pista, agora recorrendo a jurássicos obstáculos, pelo jeito em desacordo com a resolução 39/98 do Contran (confira abaixo).
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O triste é imaginar que outros quebra-molas virão. Enquanto isso, os prometidos radares, licitados, contratados, testados mas não implantados, continuam sendo esperados. Antipáticos, tidos como caça-níqueis se não corretamente empregados, são sim a moderna solução para resolver o problema de excesso de velocidade, mexendo diretamente no bolso de quem não se educa ou insiste em abusar. Fiscalização ostensiva também funciona -se o motorista apressadinho souber que há uma pequena chance de ser flagrado pela impiedosa "caneta multadora", certamente vai tirar o pé do acelerador. Este é o caminho, e não trancar a passagem daqueles que andam na lei. Quem não anda no limite vai continuar a vida, passando pelo quebra-molas e acelerando forte em seguida. Nunca vou aceitar essa história dos "bons pagando pelos maus" nem soluções baratas. Me intriga pensar em quebra-molas para outros tipos de transporte: trens, lanchas, aviões. Já pensou, quebra-molas no monotrilho?
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O que diz a resolução 39/98: As ondulações transversais às vias públicas deverão apresentar as seguintes dimensões:TIPO I - largura igual à da pista, comprimento de 1,50 m e altura até 0,08m, instaladas quando houver necessidade de serem desenvolvidas velocidades até um máximo de 20 km/h, em vias locais, onde não circulem linhas regulares de transporte coletivo; TIPO II - largura igual à da pista, comprimento de 3,70m e altura até 0,10m. Só poderão ser instaladas nas vias rurais (rodovias), em segmentos que atravessam aglomerados urbanos com edificações lindeiras; coletoras; locais, quando houver necessidade de serem desenvolvidas velocidades até um máximo de 30km/h.
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Confira a íntegra da resolução em:
http://www.pr.gov.br/mtm/legislacao/resolucoes/resolucao039.htm
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3 comentários:

  1. Seria bacana também que na avenida Edmundo Cardillo construíssem redutores e não montanhas como o que foi 'implantado' no último sábado. É ridículo e lamentável ! E o semáforo que estavam colocando? Por que em frente ao hotel e ao parque sempre deve existir redutores? afff

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  2. Caro Caruso
    Concordo com voce em quase tudo.
    Com relação ao quebra-molas também acho que é uma ignorancia. Como acho que se a sociedade fosse perfeita, não precisariamos de leis, nem de polícia (com todo o respeito que os PMs merecem). ("Polícia para quem precisa"). Mas, o que ocorre é que uma grande maioria não tem a mesma consciencia que voce tem. E aí a torca porce o tabo. Muitos são os que precisam de multas, porque não seguem as leis. Os que precisam de cadeia, porque não respeitam os direitos dos outros e nem cumprem com o seus deveres. E infelimente, os que precisam de quebra-molas para em determinado trecho reduzirem a velocidade. E neste caso, "os maus" determinam as regras. Voce diz que os "bons não devem pagar pelos maus", porém, o excesso de velocidade fazem muitos "bons" pagarem com a vida pelo desrespeito dos "maus". Acredito apenas que os quebra-molas deveriam ser feitos com muito planejamento, com estudos sobre o trecho onde deveriam ser colocados, com placas de sinalização, e principalmente nas dimensões conforme determina a lei que voce cita. Alias, os mesmos que colocam os quebra-molas, infelizmente, quebram as leis...
    abraços

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  3. Caruso,
    Sou fã de quebra molas de carteirinha, e tudo aquilo que "freia" e atrasa os irresponsáveis e mau educados cidadãos .
    Na mesma medida sou contra todo o tipo de lombadas eletrônicas e coisas do gênero.
    Abraços!

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