Como consertar um estrago tão grande? Esta deve ser a pergunta que circula nos corredores do velho palácio da Avenida Francisco Salles, após a sucessão de erros políticos e estratégicos que culminou na maior pedra no sapato da trajetória política -e do mandato- do prefeito Paulo César Silva, incluindo tentativas de minimizar o problema ou desqualificar a oposição, que redundam num emaranhado cuja saída certamente vai resultar numa "emenda pior que o soneto". O caso é, em resumo, assim:
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-em março de 2009 o vereador petista Flávio Faria encaminhou requerimento de votação cujo teor era um pedido de documentos do contrato entre a Prefeitura e o Instituto Sollus, gerenciador do Programa de Saúde da Família (PSF). O pedido teve votação desfavorável ao vereador;
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-posteriormente, novo pedido de igual teor foi apresentado, desta feita aprovado pelos vereadores, mas a prefeitura não forneceu as informações oficialmente solicitadas, de acordo com o vereador sob a alegação de "contenção de gastos", pois demandaria cerca de 3.000 cópias. Uma xerox custa uns R$ 0,10, o que signficaria um gasto de R$ 300, muito pouco diante das cifras envolvidas no contrato;
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-descontente, o vereador petista colocou requerimento pedindo intervenção do Tribunal de Contas do Estado na análise das contas, obtendo vitória na demanda ao contar com o voto de um aliado do prefeito e, especialmente, o "voto de minerva" do presidente da Câmara;
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-consumada a votação do pedido de intervenção estadual, ato contínuo chega à Câmara um ofício assinado pela prefeita em exercício (o prefeito estava em "viagem oficial" aos EUA), informando que o Executivo não poderia fornecer a documentação requerida pois a mesma estava extraviada na quase totalidade -a mesma documentação para a qual economizaram nas cópias simplesmente sumiu, de acordo com as palavras da vice-prefeita;
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-de volta de sua viagem aos EUA, o prefeito assume o "gabinete de crise", afirmando que não tem preocupações com o Instituto, apesar de ter bloqueado os pagamentos, justificando: "Nós ainda não avaliamos se o que ele (Instituto) apresenta de conta está totalmente avaliado pela nossa comissão e equipe econômica desse pagamento. Portanto, eles têm pagamento bloqueado de 2008 e 2009";
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-na mesma entrevista o prefeito tentou virar o jogo fazendo acusações contra a gestão petista na Prefeitura (2001/2004), desenterrando até um tal de "Che Guevara" que prestou serviços àquela gestão;
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-justificando a demora no envio das informações ao vereador petista, o prefeito disse singelamente que "se deu por conta de um levantamento que estava sendo realizado e não por qualquer outro motivo";
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-depois, o prefeito partiu para o campo minado das suposições/acusações, colocando em dúvida as reais intenções do vereador oposicionista: "Por que será que o vereador quer saber dos documentos que sumiram e estavam na Secretaria (da Saúde)?".
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Provocado, o ex-prefeito Paulo Tadeu, hábil com as palavras, respondeu com nada menos que um pedido de impeachment do atual prefeito, ao dizer: "Se a Câmara assumir a responsabilidade que tem, e que pela atitude do presidente, assumirá, este é um caso de impedimento do prefeito", fulminando o adversário e ex-companheiro de legenda: "trata-se de um cidadão cuja subalternidade pessoal faz com que rasgue toda uma trajetória política. Mais preocupado em continuar agradando o seu chefe, ele atira na sua própria história".
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Resumo da ópera: chega uma hora na vida em que é preciso deixar o ninho e voar com as próprias asas. Ou deixar as janelas abertas e esperar o vento levar... sabe-se lá para onde.
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Mas a questão continua a mesma. Será que voa?
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