domingo, 31 de janeiro de 2010

APAGÃO TURÍSTICO?

Um dos muitos motivos que me afastam de qualquer pretensão de carreira política é a obrigatória convivência a que se sujeitam os atores do teatro público com pessoas que, em condições normais, talvez jamais existisse.
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Não que na vida privada não estejamos sujeitos a isso, mas é bem mais fácil evitar certos constrangimentos como aparecer numa foto “todo sorrisos” ao lado de personagens que aparentemente deixaram a vida pública pela porta dos fundos. Aparentemente, pois quase sempre essas figuras da política “caem para cima”.
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Nessa ótica, não há como deixar de lamentar a imagem do atual chefe do executivo de Poços de Caldas, flagrado por muitas câmeras da imprensa local ao lado de um gesticulante Milton Zuanazzi, consultor de um para mim até ontem desconhecido instituto, que esteve na cidade para participar de um workshop “com o objetivo de estreitar as relações das cidades que compõe o Circuito Caminhos Gerais”, conforme noticiou o Jornal de Poços de anteontem, 29/1. O instituto, ainda de acordo com a reportagem, é “responsável pela execução do projeto”. A presença do chefe do executivo se justifica em nome dos interesses da cidade, e é para isso que foi eleito, e aí estão os riscos da função.
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“Esse workshop visa com que a região tenha uma estratégia de gestão envolvendo o público e o privado e tenha uma estratégia de marketing. Então, isso é muito importante, evidentemente que isso é matemática do setor privado porque é quem vende e comercializa nossos produtos”, filosofou o consultor. Será que uma cidade com o cabedal histórico e turístico de Poços precisa de consultorias para se "encontrar"? Ou será que todos nós –incluindo a secretária de turismo- não temos um quê de especialistas no tema, além de sermos 150 mil técnicos de futebol?
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A bronca. Dizem que o brasileiro tem memória curta. Sou brasileiro, mas tenho uma memória muito boa, especialmente para os temas que me afetaram diretamente. Memória boa é fácil de guardar, para isso valem até antigas fotos, mas as lembranças ruins permanecem ali no arquivo da cachola, voltando quando menos se espera.
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Todo esse meu repentino amargor remonta a setembro de 2006, quando começou a maior crise da aviação brasileira, conhecida como "Apagão Aéreo", desencadeada com o acidente do voo 1907, da Gol. Três meses depois, o País registrava índices superiores a 55% de atrasos nos voos. Nessa época eu viajava quinzenalmente de avião, e por pouco não virei um daqueles zumbis que vagavam penados pelos aeroportos brasileiros, disputando um banco na sala de espera como se fosse um leito de luxo.
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A crise custou até a cabeça do comandante da Aeronáutica, levando o governo federal a criar, em março de 2007, um “Gabinete de Crise Aérea”, mesmo mês em que os controladores de tráfego aéreo entraram em greve. A coisa foi ganhando corpo e chegou ao clímax (no mau sentido, óbvio) quando a então ministra do turismo Marta Suplicy arrebentou com o já clássico "Relaxa e goza que depois você esquece de todos os transtornos", um mês antes do acidente da TAM em Congonhas.
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Em agosto de 2007, dois diretores da ANAC –Agência Nacional de Aviação Civil- renunciaram aos cargos, e outros dois seguiram o mesmo caminho no mês seguinte. Em outubro de 2007 finalmente o presidente da ANAC renunciou.
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Adivinhe (ou lembre), amigo leitor, quem era esse presidente? Ele mesmo, Milton Zuanazzi, que estava no comando da ANAC, de onde saiu “atirando”: “o que vemos são meras ações midiáticas, manifestações despreparadas, discursos sem qualquer conteúdo técnico, revelando um jogo pobre, que tanto mal tem feito ao Brasil", escreveu Zuanazzi sobre o Ministro da Defesa, na carta de demissão entregue ao presidente Lula. Nelson Jobim, o ministro, permanece até hoje no cargo. Ao confirmar a renúncia, Zuanazzi disse que iria procurar emprego na iniciativa privada na área de turismo e que voltaria a lecionar. Pelo jeito está cumprindo suas metas.
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Ufa! Estamos seguros. Temos enfim um grande piloto a comandar as linhas mestras do turismo regional, e melhor, é o líder da esquadrilha dos “pilotos sem brevê”, como ficou conhecida aquela direção da Anac.
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“Sua memória está ruim, você precisa de fósforo”, dizia minha avó.
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