sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

CARNAVAL, CERVEJA E CAMISINHA

"Me tirem os tubos!". Saiu a programação do finado Corredor do Axé, reencarnado num corpo que não lhe pertence, agora com novo RG, no qual se lê "Corredor da Folia".
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Aconteceu em 3/2 coletiva de imprensa na Thermas, com presença das altas autoridades momescas de Poços de Caldas, entre elas o Secretário de Comunicação Social e a Secretária de Turismo. O primeiro, no estrito cumprimento do dever, sacou a bola de cristal e disse que "as atrações irão agradar a população". Não generalize, secretário. Considero-me da população - apesar de sempre ser alcunhado de "elite" quando me insurjo contra temas como o carnaval- garanto qie, apesar das sensacionais, fenomenais e inesquecíveis atrações do corredor, vou correr de lá. Bom, de repente o o nome "corredor" cai bem, nesse caso. E ficaria esquisito se ele falasse que a população vai detestar.
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Ainda na sua fala, o simpático secretário, mui modestamente, vaticinou que "tanto Poços de Caldas quanto a XeD estão dispostas a fazer um carnaval diferenciado, que deverá ser o divisor de águas". Essa modéstia quase crucificou uma vereadora, que bateu no peito e proferiu a mesma frase antes de assumir a cadeira na Câmara, e hoje deve se arrepender da promessa não cumprida. Se bem que acho que só o fosfosol aqui lembra disso. Essa coisa de "divisor de águas" é bem recorrente em Poços, talvez por sermos uma "cidade aquática", o que não quer dizer que São Sebastião da Grama seja uma cidade "gramática". Mas é ou não é diversão pura pensar em alguém vestido de Moisés, chegando à Cascata das Antas, abrindo a passagem dos foliões, fechando então as "águas divididas"? Moisés sim é um verdadeiro divisor de águas!
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Já o diretor da empresa XeD, citada pelo secretário e vencedora da licitação, destacou na coletiva que no sábado de carnaval a atração será a "banda Boquinha da Garrafa. O ponto alto do evento será o domingo, com Tchacabum, que é uma banda de nível altíssimo". Não dá, não posso acreditar que qualquer coisa com esse nome seja assim de nível altíssimo. Mas, se o homem falou na frente de toda a imprensa da cidade, quem sou eu, modesto e solitário blogueiro, para duvidar? E o tal Boquinha da Garrafa, será uma versão cover da lendária Carla Perez, hoje quase erudita se comparada com o triste panorama musical pátrio?
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O produtor disse ainda que o encerramento na terça será com "a banda Axé Hits, que também é de expressão, não tão nacional quanto as outras, mas é incrível". Não entendeu? Explico: é boazinha, mas não é assim uma Brastemp... Ninguém merece tamanha humildade.
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Quanto aos ingressos, os valores não são nada humildes, especialmente porque não me enquadro nas categorias "estudantes" ou "sexagenários", que desembolsarão R$ 20 a título de meia-entrada. Sou um tiozinho de meia-idade, no momento integrando o "movimento dos sem carteirinha de estudante". Caso não corresse do Corredor, deixaria na bilheteria pelo menos R$ 80 por noite, incluindo o ingresso da minha mulher -cavalheiros da minha estirpe sempre respondem pelos gastos da dama. Outra ausência importante: não haverá abadás -bem que poderiam reciclar os que sobraram do ano passado. Sem abadá não dá! Parece anúncio da Manah, quem é do meu tempo sabe o que é.
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Rápida pesquisa no Google e não há qualquer referência à empresa vencedora da licitação. Já sobre seu titular, uma notícia publicada no Tribuna de Minas, em 2007, relativa a um cancelamento de show, mas não há informações sobre a conclusão do assunto. Confira em http://www.ufjf.br/dircom/2007/11/22/22-11-2007/ , no título "Show de Gal Costa Cancelado".
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Que carnaval deixou de ser popular há décadas isso é fato, exceção honrosa feita, evidentemente, às charangas e outras atividades familiares, como as boas diversões preservadas com muito sacrifício por seus organizadores, em Poços inclusive. Zeloso, evito até mesmo viajar nessa época, por conta da alta incidência de acidentes com imbecis motoristas bêbabos. No fim das contas, o conceito de diversão no carnaval virou isso: bebedeira e venda de camisinhas. Ou alguém acha que os fabricantes de preservativos não ganham muito dinheiro no carnaval?
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Por sorte, meus ouvidos -e de muita gente- foram poupados de discursos espetaculares que importantes membros da Municipalidade usaram ano passado quando inventaram o tal corredor do axé. Coisas como "apesar que a rua é pública e podemos insistir em fazer lá” na Rua Rio de Janeiro ou “os jovens saem daqui para gastar e ocorre evasão de divisas com o dinheiro que deveria circular no nosso município” ou ainda “ano passado, 10 mil habitantes deixaram a cidade para passar o carnaval em outros lugares, gastando cerca de R$ 500 em hospedagem, alimentação etc, o que daria R$ 5 milhões não gastos em Poços”.
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Fechando igual quarta-feira de cinzas, já disse muitas vezes e não escondo que não gosto de carnaval, e esssa é uma opção minha. Muita gente gosta, e como dizia minha avó, gosto não se discute. Mas sou capaz de afirmar que essa não é uma conta meio a meio, entre os que gostam e os que não gostam. Como o IBGE não pergunta isso no Censo, fico com o senso da minha tese. E como as tvs locais não apresentam Ibope de 100% cada na cobertura dos desfiles, nem vejo 75 mil poçoscaldenses nas ruas sambando tresloucadao, minha conta burra indica que mais da metade da população de Poços não está nem aí para os festejos. Logo, que festa democrática é essa em que a maioria não ganha?
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Vou nessa. Com toda minha altura quem sabe não arrumo uma vaga de "boneco gigante" na Charanga dos Artistas?
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FOTO: Anúncio publicado no jornal Commercio de Iguape" em 1879. Clique nela para ampliar.
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6 comentários:

  1. sou da "metade" que nao gosta de carnaval....rsrsrsr.....tao serio seu blog mas eu dou boas risadas!!!

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  2. Bom texto Rubens!!!!

    Eu também me lembro da vereadora Moises!!!!

    Abraços

    Prof. João Alexandre

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  3. Vossa Senhoria estava deveras inspirado nessa postagem :)

    Do tiozinho de meia idade 'as pérolas das autoridades locais, posso garantir que talvez sua postagem seja o item mais divertido do Carnaval Poços Caldense.

    Carla Perez , nesse Brasil de bundas e garrafas realmente já virou um clássico.

    Enquanto isso a "Estância" continua pecando, e não só nesta area, pela falta de identidade.

    Trabalha para minorias, e a maioria viaja pra se refugiar.

    Mas gostaria de vê-lo de boneco gigante na Charanga , seria deveras , inusitado.

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  4. Vamos fazer uma estatística entre os que comentam o artigo, mais o autor. Fica 3x0 pra metade que näo gosta de Carnaval.
    Artigo muito bom, escancarando mais um exemplo da incompetência administrativa que se arrasta desde há décadas em Pocos, quando o assunto é Carnaval.

    Abraco
    Zé Elias
    PS: desculpe a falta de cedilha e til. Estou num teclado estrangeiro...

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  5. Epa, corrija aí se eu disse "incompetência administrativa quando o assunto é Carnaval". Eu quis dizer Turismo.

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  6. Acho sua opinião egoísta. Eu moro em Poços de Caldas e fico feliz em não ter que sair da minha cidade para aproveitar um bom carnaval. Pelo menos assim espero.

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