segunda-feira, 29 de março de 2010

A CHAVE DO SUCESSO


A humanidade poderia ser dividida entre duas categorias: os com chaves e os sem chaves. Pode observar: quanto mais importante é um sujeito, menos chaves ele carrega no bolso. Descobri isso enquanto selecionava no meu chaveiro a chave que abre a porta do escritório. Cheguei à conclusão que minha vida se perdeu em um amontoado de chaves. São chaves de alumínio, de latão, com quatro segredos numa só, pequenas, médias e as que sequer cabem no bolso.
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É sério. Fiquei imaginando quantas chaves o presidente carrega no bolso. Imagine: teria que portar as de casa -o Palácio da Alvorada, que, como todo palácio, tem uma infinidade de portas; depois o chaveiro da "firma", no caso o Palácio do Planalto. Outra montanha de chaves do gabinete, da sala de reuniões, da garagem. O chefe do executivo de Poços, quantas chaves terá? Se ele quiser fazer uma horinha extra no domingo, será que ele tem a chave da prefeitura? Não, nada disso. O poder define o número de chaves. Quanto mais poderoso, menos chaves. Na vida pública ou na privada, as portas literalmente se abrem para quem manda. Sempre haverá um segurança, um porteiro ou puxa-saco para fazer esse serviço sujo.
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Eu não. Não mando em nada. Carrego pelo menos quatro chaves da minha casa -porta de entrada, portão lateral, entrada da área de serviço. Do escritório outro tanto. Tem ainda a chave do carro, a da trava da moto. Chave do cofre eu não tenho, até porque não tenho o que guardar num cofre. Logo, não tenho cofre. Também, se tivesse um cofre, seria com aqueles "segredos" que só Bond, James Bond consegue abrir "de ouvido".
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Ainda que eu conseguisse me livrar das chaves reais, sobrariam as virtuais. É verdade. Senha do banco é uma chave virtual. E a senha do banco não é a mesma do cartão de crédito. Para acessar essa mesma conta na internet é preciso mais uma senha, que se chama... chave de acesso!
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Meu carro é um modelo simples, desses que para entrar é necessário colocar a chave na porta e girar. Nada desses chaveiros cheios de botões para abrir portas, portamalas ou disparar as luzes de pisca para localizar o carro num estacionamento. É na raça. Para quem tem o poder, na área automotiva a chave está deixando de existir também: basta andar com uma espécie de cartão indutivo no bolso e o simples encostar da mão na maçaneta é suficiente para que o carro reconheça o dono, destranque a porta e acione o motor. Curiosa função essa, já que em geral o magnata que pode pagar por esse requinte anda no banco de trás, e aí não precisa nem cartão e muito menos chave.
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Outro requinte que vai enterrar de vez as velhas chaves também vem da eletrônica: leitores de impressões digitais e, mais recente, de olhos. É verdade. Você olha no olho de uma maquininha e ela sabe quem é você, o que faz, o que fez, quantas obturações tem, nome e cpf do seu bisavô. E decide se você entra ou não. Bem capaz de saber que você tem um chaveiro no bolso e impedir sua entrada. Lá dentro do chip a máquina conclui: "ih, outro com chaveiro. Não deve ser boa coisa".
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Por isso já é hora de parar com essas cerimônias de "entrega da chave da cidade". Gente, aquela chave gigante não abre nada! Depois, quem manda mesmo não precisa de chave. Aqui em Poços, recentemente Papai Noel e Rei Momo receberam o objeto inútil. Será que o Coelhinho da Páscoa vai receber também? Acho que não...
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As chaves esão com os dias contados. Junto com elas sucumbirão também os claviculários. E eu vou continuar com meus bolsos cheios delas, sem saber por quanto tempo.
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