sábado, 20 de março de 2010

O PAI DA CRIANÇA

 

Não é de ninguém? Depois de todo o transtorno na implantação do novo sistema de transporte coletivo, agora foi a vez da Câmara Municipal dizer que não dela o bebê. É o que se conclui da leitura de uma nota publicada pelo Legislativo.
.
Denominada "Esclarecimentos sobre Sistema Integrado de Transporte Coletivo", começa dizendo que "as pessoas têm abordado e questionado Vereadores sobre o porquê da aprovação desse projeto que, para a maioria, não está trazendo benefícios aos cidadãos. Diante de inúmeras reivindicações e críticas sobre o assunto, a Câmara Municipal vem a público esclarecer que a forma como foi implantado o SIGA não foi aprovada pelos Vereadores". O que não quer dizer que eles tenham votado contra. Não. Nem votaram. Nem viram. Nao sabiam do que se tratava. E se sabiam não espernearam. 
.
A nota relembra o ano de 2000, citando que a Câmara aprovou um projeto de pei autorizando o então prefeito a abrir concorrência pública para a implantação e operação, pelo regime de concessão com exclusividade, do Sistema Integrado de Passageiros no Município de Poços de Caldas; e 2004, com o contrato de concessão assinado pelo prefeito subsequente e pela empresa vencedora da licitação.
.
O mais triste vem a seguir: "em nenhum momento foi definida e aprovada por lei a maneira como esse Sistema iria funcionar na cidade, bem como tipos de linhas, preço das passagens, itinerário, número e locais da estações, etc. Todas essas especificações foram definidas pela Prefeitura Municipal, conforme Decretos editados".
.
As "instruções de funcionamento" vieram de dois decretos, baixados pelo Executivo: o primeiro em 2006 e o segundo em fevereiro de 2010, pelo atual chefe do executivo, definindo a forma como o SIGA iria funcionar -linhas, valores, descontos, utilização do cartão, entre outras. "É importante ressaltar, novamente, que essas normas não foram aprovadas pela Câmara em momento algum, uma vez que elas foram estabelecidas através de Decreto editado pelo Senhor Prefeito Municipal", fulmina o texto, jogando de vez a criança no orfanato da Francisco Salles.
.
Diz a nota ainda, candidamente, que "os vereadores estão preocupados com a insatisfação dos usuários do transporte coletivo urbano".
.
Preocuparam-se meio tarde, não? Se é um assunto que tem 10 anos de história, fica claro que os vereadores, representantes do Povo e por Ele eleitos, deveriam se antecipar ao problema. Não. Deixaram o assunto na mão do Executivo e agora vão vender a imagem de advogados da população.
.
Deve ter sido difícil para os vereadores assumirem essa enorme falha publicamente, depois que o Povo reclamou muito e foi às ruas mostrar -duas vezes- quem é que está e sempre esteve no poder. Agora, quando o bebê crescer e virar um adulto bonitão, vai aparecer um monte de gente dizendo: "menino lindo esse meu garoto!". Tal como no caso do gasoduto: o que tem de "pai da criança" não está no gibi!
.

Um comentário:

  1. Caruso,

    Ontem ouvi falar que antes da implantação do SIGA(O) – Sistema Integrado Grande Amigo (da Onça) – tinha deputado, daqui de Poços obviamente, querendo posar de "pai da criança", agora, como você bem notou, está quietinho, quietinho.

    Na verdade a forma como o SIGA(O) foi implantado só vem reforçar a imagem de nossa classe política – com raras exceções – acostumada aos acordos de gabinete e às canetadas, sem consultar a povo. Também pudera, essa classe política foi forjada durante o triste período em que a povo não contava, afinal não podia sequer eleger o prefeito, quanto mais participar dos debates públicos.

    O povo saiu às ruas nas duas últimas sextas-feiras e continuará a sair até ser ouvido. Isso não é tumultuo ou baderna como alguns pensam, é apenas exercício de cidadania. Quem pensa que atos como esses se tratam de baderna, apenas demonstram o quão curto é seu entendimento sobre democracia ou então pior, não são muito chegados a ela.

    ResponderExcluir