Sete de setembro é uma data muito especial para mim. Em 1928, nesse dia, nascia meu pai. Ele esteve conosco até 2008, às vésperas de completar 80 anos, quando partiu para outras atividades em um plano diferente.
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Nasci em dezembro de 1961. Desde então, nunca perdi um aniversário dele, exceto o de 1980, por um motivo justo: naquele ano, estava em Brasília, servindo no 1o. Regimento de Cavalaria de Guardas, que o mundo conhece como Dragões da Independência. Como todo ano, e hoje não será diferente, acontecem grandiosos desfiles em todo o País -militares, civis, estudantes, muita gente vai passar diante das maiores autoridades brasileiras. A fechar os desfiles, a Cavalaria. Nós.
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Naquele 7 de setembro de 1980, após o desfile, de volta ao Quartel, telefonei para casa. Era um interurbano a cobrar, de orelhão. O único que havia. Disquei um número que não recordo, a telefonista atendeu, e então pedi uma ligação: "de Brasília, Sr. Rubens chamando a cobrar, posso completar?", disse a moça, mal terminando a pergunta e já ouvindo "pode sim, pode sim!" do outro lado.
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Como não existiam as facilidades de hoje, todos que estavam em casa queriam saber o que eu passava na então novíssima (20 anos) Capital. Lembro claramente do meu pai dizendo que vira, durante o desfile, um cavalo sem cavaleiro e que ficara preocupado se justamente aquele não era o "meu" cavalo. Não era. Saiba o amigo Leitor que ali, se um companheiro cai, outro imediatamente segura o cavalo, até que o cavaleiro o alcance, e o desfile continua. Cavalos, galopes e asfalto nunca combinaram muito bem.
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Ainda vivíamos o regime militar. O presidente era João Figueiredo, ele mesmo um dos Dragões da Independência -antes de tornar-se general, foi coronel-comandante do RCGd. Cada visita sua ao Quartel -e não foram poucas- era uma festa. Afinal, não importava a linha dura, o que valia é que a figura do general representava para nós a maior autoridade brasileira. Foi um período difícil aquele ano no Exército, cujas lições básicas de respeito aos companheiros, disciplina e hierarquia conservo até hoje.
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Trinta anos depois, com meu pai ausente, resta desse 7 de setembro tentar ver pela tv o desfile de Brasília. E torcer para não aparecer nenhum cavalo sem cavaleiro. Assim, fico tranquilo de não haver, em algum canto do Brasil, um pai com o coração na mão. Como ficou o "Seo Caruso", em 1980.
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Eu sou o Dragão da foto acima. O da direita. Aos 18 anos.
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Caro Caruso
ResponderExcluirNão conheci o seu pai (não tive este privilégio), mas, ao perceber a sua saudade, o seu orgulho e o seu carinho com ele, percebem-se duas coisas, entre outras, neste seu texto:
- Voce teve um grande pai.
- Seu pai tinha muito orgulho de você
Escrevo isto não para afagar o seu ego, nem para lhe jogar confetes,que você disto não precisa e sei que nem quer, mas para reconhecer admirar e valorizar um relacionamento pai e filho, que hoje, na forma e no conteúdo, é tão raro.
Grande abraço
wiliam de oliveira
Caro Wiliam, muito obrigado. Espero um dia poder olhar para trás e ver que fui para minha filha 10% do que meus pais foram para mim.
ResponderExcluirTenho sim muitas saudades do meu pai.
Um abraço!
Rubens, duas coisas:
ResponderExcluir1. É bom sentir saudades do pai que já se foi...é um sinal de que ele ainda está presente...
2. Voce lembrou de um ensinamento fundamental que se aprende nas forças armadas: hierarquia e disciplina.
é o que está faltando...
Abs e parabens pelo texto. Ele certamente leu o texto e está feliz.
É Caruso...voce realmente é o "Dragão da Direita"
ResponderExcluirÉ, mas dou uns chutes bom de canhota....
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