“PALACE CASINO, PATRIMÔNIO DA CIDADE–CONSERVE-O”
A frase acima é a primeira coisa que se vê numa plaquinha, bem na entrada do prédio. E Poços de Caldas mais uma vez dá uma mostra de como não se deve zelar pelo patrimônio histórico.
Domingo (15/06) de manhã estive no Palace Casino fazer para algumas fotos, mas logo na entrada notei algo estranho: um inacreditável odor de “cerveja amanhecida” infestava o hall. Movido pela curiosidade que mantém a adrenalina no sangue do mais modesto dos jornalistas que, por mais evoluído na carreira nunca deve deixar de ser “repórter”, cheguei ao denominado Salão Nobre do Palace Casino. Não consegui conter a revolta. O cenário era o que muitas vezes imagino quando ouço a expressão “uma visão do inferno”. O cheiro estava insuportável, misturando cerveja a outros “aromas” que o meu limitado sistema olfativo foi incapaz de reconhecer, exceto por serem muito ruins. O piso de tacos, evidentemente "lavado", impregnado daquela cerveja a que me referi, grudava os pés ao caminhar, e certamente faria Tony Manero, o célebre personagem interpretado por John Travolta em Saturday Night Fever, de 1977, perder o passo e o impecável terno branco, deixando para sempre os joelhos das calças maculados de sujeira. O lixo ainda estava lá: copinhos, pedaços de isopor, garrafas (fotos 1 e 2). A diferença de cor que se percebe nas imagens indica onde havia mais sujeira.
A frase acima é a primeira coisa que se vê numa plaquinha, bem na entrada do prédio. E Poços de Caldas mais uma vez dá uma mostra de como não se deve zelar pelo patrimônio histórico.
Domingo (15/06) de manhã estive no Palace Casino fazer para algumas fotos, mas logo na entrada notei algo estranho: um inacreditável odor de “cerveja amanhecida” infestava o hall. Movido pela curiosidade que mantém a adrenalina no sangue do mais modesto dos jornalistas que, por mais evoluído na carreira nunca deve deixar de ser “repórter”, cheguei ao denominado Salão Nobre do Palace Casino. Não consegui conter a revolta. O cenário era o que muitas vezes imagino quando ouço a expressão “uma visão do inferno”. O cheiro estava insuportável, misturando cerveja a outros “aromas” que o meu limitado sistema olfativo foi incapaz de reconhecer, exceto por serem muito ruins. O piso de tacos, evidentemente "lavado", impregnado daquela cerveja a que me referi, grudava os pés ao caminhar, e certamente faria Tony Manero, o célebre personagem interpretado por John Travolta em Saturday Night Fever, de 1977, perder o passo e o impecável terno branco, deixando para sempre os joelhos das calças maculados de sujeira. O lixo ainda estava lá: copinhos, pedaços de isopor, garrafas (fotos 1 e 2). A diferença de cor que se percebe nas imagens indica onde havia mais sujeira.
Os suntuosos lustres de cristal tcheco guardavam restos antigos de decorações carnavalescas nos pingentes tortos e lâmpadas queimadas. (foto 5). Um precário palco foi montado diretamente sobre o piso, o que é imperdoável.
No andar superior, nas galerias que rodeiam o salão, a imagem não era melhor: geladeiras de cerveja (foto 4), em pleno processo de degelo, escorriam água sobre o chão de tacos, e, tal como a cerveja impregnada no piso do salão, infiltrava nas frestas dos tacos, proporcionando estrago permanente. Desolador: qualquer um sabe que água não combina com piso de madeira. Cerveja, então... Ainda no andar superior, no corredor que dá visão tanto para o Salão Nobre quanto para o Salão Azul, uma pilha de engradados de cerveja (foto 3) encostada em histórica parede, fazia par com dezenas de copos -cheios ou não- de cerveja ou outro líquido de cor assemelhada, visão comum em todo o prédio no domingo, incluindo varandas e janelas.
Seguindo pelo corredor, ainda circundando o salão, notei que quase todas as janelas estavam abertas (fotos 6 e 7), insuficiente para ventilar o ambiente e eliminar a “aromatização". A julgar pelo estado do piso, com tacos soltos ou simplesmente desaparecidos, não é difícil deduzir que a chuva é velha inimiga do interior do Casino.
Continuei seguindo os rastros deixados ali e cheguei a uma escada interna, que acabou por se tornar uma espécie daquelas “instalações” estranhas que às vezes vejo na Bienal em São Paulo: os “artistas” compuseram uma intrigante seqüência de copos cheios e vazios ao longo dos degraus. Não entendi, me confesso meio limitado em certas tendências da arte contemporânea. Ainda sob a mesma escada, dejetos lançados do alto, talvez fruto de uma "competição de física" para avaliar o tempo de queda livre entre copos cheios, meio-cheios e vazios, acompanhados de restos de madeira e placas que devem ter servido de tapume.
Aproveitei o “passeio”, lamentavelmente testemunhado por um casal de turistas do Paraná, também chocados com o que viam, para visitar outros pontos do Casino, onde em geral as pessoas não vão. Experimente visitar os “camarins” que existem na Boate Azul. Não consigo imaginar o mais mambembe dos artistas usando um vaso sanitário sujo e sem tampa, muito menos dividindo seu espaço de preparação ou maquiagem com uma velha enceradeira. Belíssimos vitrôs estão emoldurados por paredes sem qualquer acabamento, "na massa", como dizem; obras nunca concluídas, entulho e restos de carpete convidam para um incêndio próximo e fácil, que só não aconteceu ainda creio eu pela Divina providência. Espero que não aconteça, pois mangueira de incêndio no chão e fiação pendurada na caixa de energia ao lado do extintor não são lá de grande utilidade nestas tragédias.
“Ah, mas o Salão Azul está impecável”, podem dizer. Não está não. As portas que dividem os Salões Nobre e Azul estavam calçadas com pedaços de madeira pregados (!) ao chão de tacos do magnífico Salão Azul (foto 8). Que alma insensível é capaz de mandar cravar pregos sem critério num local da importância do Palace Casino, outrora palco onde nomes do quilate de Carmen Miranda puseram os pés e a voz?
“Ah, mas o Salão Azul está impecável”, podem dizer. Não está não. As portas que dividem os Salões Nobre e Azul estavam calçadas com pedaços de madeira pregados (!) ao chão de tacos do magnífico Salão Azul (foto 8). Que alma insensível é capaz de mandar cravar pregos sem critério num local da importância do Palace Casino, outrora palco onde nomes do quilate de Carmen Miranda puseram os pés e a voz?
Quem autorizou, quem deixou a sujeira para o dia seguinte, quem desligou as geladeiras, todos são responsáveis. Quem foi também. Terminada a festa, um "batalhão de limpeza" deveria ter feito a recuperação imediata e completa do local, que figura em absolutamente todos os sites e materiais que indicam os pontos turísticos da cidade, incluindo os da própria Prefeitura, da Câmara Municipal e os jornalísticos.
O Palace Casino é um patrimônio público e histórico, portanto de toda a população brasileira, não apenas de Poços ou de Minas. Segundo uma placa que há no Casino, o local foi cedido em comodato, um tipo de contrato de empréstimo, findo o qual aquele que recebeu se obriga a devolver o objeto nas condições em que estava ou melhores, usando como se seu fosse. Foi totalmente restaurado, segundo a placa, na gestão do prefeito Navarro, e hoje se encontra no rumo da destruição, curiosamente sob a nova gestão do prefeito Navarro.
Não consigo entender um local público histórico como o Palace Casino servindo a eventos privados, com um custo elevadíssimo para a comunidade, que no final vai arcar com a restauração do espaço. Vai sair do meu bolso e do seu também, pode ter certeza. No Brasil infelizmente ocorre com freqüência -salvo honrosas exceções- um comportamento na linha de que o bem público não é de ninguém. Engano. É de todos, e deve ser tratado e cuidado como se fosse só seu. Na minha casa não faço festas para as pessoas irem embora deixando sujeira, estragos e o chão tomado de cerveja. Não deixo ninguém encostar caixas na parede nem largar copos na escada. Na minha casa não deixo as janelas abertas. Na sua você também não deixa. Sabe quanto vai custar se estragar. Mas no caso do Casino a única sensação que tenho é que não há “dono”. E quem responde pelo local não está fazendo sua parte direito.
Saí de lá –confesso- arrasado. Não encontrei mais o casal paranaense, mas faço idéia da impressão que levaram da cidade e por quantos ex-potenciais turistas esta informação ruim vai se propagar. Insisto e viou bater nesse tema sempre: o futuro de Poços de Caldas está no turismo!
Se a cidade não tem condições de gerir um equipamento como o Palace Casino, que este seja passado à iniciativa privada urgentemente. Pode ser usado como museu, espaço de exposições, chás beneficentes das elegantes senhoras da cidade e outras atividades que preservem a integridade do espaço. Basta atravessar a praça e ver as boas condições do Palace Hotel, que está nas mãos de particulares, para ter alguns bons exemplos: o Jardim Toscano é um show, o piso hidráulico é um show, a cadeira de engraxate é um show.
Entrei em contato com a Secretaria Estadual de Governo e com o Instituto Estadual do Patrimônio de Minas (IEPHA), mas ambos não souberam de imediato responder se o Palace Casino é do estado ou não, e estou aguardando o prometido retorno. Mas, consultando o site do IEPHA (http://www.iepha.mg.gov.br), consta como “Bem Cultural Tombado o Complexo Hidrotermal e Hoteleiro de Poços de Caldas”. Imagino que o Casino faça parte deste complexo, ou será engano meu?
Só para você saber: contatei a Secretaria Municipal de Turismo para descobrir a quem cabia a titularidade do prédio: "pertence ao estado mineiro e está cedido ao município", foi o informado. Sobre o valor da locação do Salão Nobre do Palace Casino, acredite: apenas R$ 2.900. Não dá nem para o desinfetante necessário para tirar o cheiro da cerveja...
Também acho um absurdo o uso do Pálace para esse tipo de evento. Houve um tempo em que não se faziam mais festas lá. Mas, creio que era pelo péssimo estado de conservação. Aquele prédio é uma obra-prima e deveria ser melhor preservado. Não pode NUNCA ser alugado para eventos dessa natureza. Isso só destrói um patrimônio público de rara beleza. Edificação que muito poucas cidades do mundo possuem... É lamentável! Espero que esse assunto entre na campanha dos 'prefeitáveis' que estão para começar suas campanhas.
ResponderExcluirPenso que a questão não é ter ou não festas no Palace Cassino. Um espaço em degradação tende a manifestar nas pessoas atitudes de despreso, pouco caso com o local que ocupam e, portanto, favorecendo ao "descuido" com os bons habitos: educação, preservação ...Não só dos que frequantam as festas, mas de quem trabalha nelas.
ResponderExcluirQualquer um ficaria muito intimidado em jogar um papel no chão em qualquer parte do Istituto Moreira Salles, por exemplo. Por quê? É impecavelmente bem cuidado.