quinta-feira, 3 de julho de 2008

O MARCO DIVISÓRIO





Para começar os posts de julho, um pouco de história.

Muito mais do que o nome de um bairro na divisa de Minas Gerais e São Paulo em Poços de Caldas, o “Marco Divisório” é um ícone histórico.

Definir a linha que divide os dois estados foi um problema que teve início logo após a extinção do sistema de capitanias. A região onde está Poços de Caldas pertencia a duas das capitanias, até que Portugal resolveu estabelecer os limites de divisa, “interpretados” ao gosto dos mineiros e dos paulistas, por causa do ouro e das águas sulfurosas.

O assunto atravessou o império e chegou à república, até que em 25 de maio de 1935 foi constituída uma Comissão Mista para estudar a questão dos limites.

A comissão paulista era integrada por Francisco Antônio de Almeida Morato, professor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e os engenheiros João Pedro Cardoso e Aristides Bueno. A comissão de Minas Gerais contava com Milton Campos, Benedito Quintino dos Santos e Temístocles Barcelos.

Definidos os limites, depois de muito trabalho, foram cravados marcos na linha da fronteira, todos de granito aparelhado e de forma prismática, tendo esculpidas numa das faces “São Paulo”, na outra, “Minas Geraes” e na terceira o ano “1936”.

Para marcar o encerramento dos trabalhos da Comissão, foi lavrada uma ata na linha divisória entre Cascata e Poços de Caldas, com a presença de autoridades e da Banda Municipal Maestro Azevedo, onde foi levantado um obelisco para comemorar o acordo, o chamado Obelisco da Cascata.

O Obelisco da Cascata situa-se na Fazenda Pinheirinho, que foi propriedade dos irmãos Emerenciano, Gabriel José e Joaquim Junqueira, inaugurado em 31 de julho de 1937, data do termo final da cravação dos marcos, junto aos trilhos da Estrada de Ferro Mogiana, e teria dado o nome de “Marco Divisório” à região.

Todo mundo na cidade sabe onde fica o bairro “Marco Divisório”, mas eu queria achar o Obelisco da Cascata. Munido de uma foto antiga da inauguração, perguntei a diversas pessoas se conheciam aquele monumento. Depois de muitas tentativas e de procurar no Google Earth, acabei recebendo a melhor informação de uma senhora que tem um trailer de lanches perto do Portal: “conheço sim, andava de bicicleta lá quando era criança”.

E assim foram feitas as fotos que você vê acima. A mais antiga achei na internet, não sei quem foi o autor, continuo pesquisando.

O Obelisco da Cascata está cercado em área de pasto, em bom estado, mas sem manutenção oficial. A base tem quatro faces, onde foram esculpidas gravações em ortografia da época: “SÃO PAULO” numa face e “MINAS GERAES” na face oposta, indicando os lados da divisa; “EM COMMEMORAÇÃO DO ACCORDO DE SÃO PAULO E MINAS GERAES DE 28 DE SETEMBRO DE 1936 FIXANDO AS DIVISAS DOS DOUS ESTADOS” num lado e, por fim, “MANDADO ERIGIR PELOS ARBITROS FRANCISCO MORATO E MILTON CAMPOS E SEUS AUXILIARES SOB O GOVERNO DE ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA E BENEDICTO VALLADARES”, no outro lado. Apesar de preservada, esta última inscrição já está se perdendo, por desgaste natural.

O mapa do Google mostra como chegar ao local, pelo trevo que antecede a chegada ao portal de Poços. A localização geográfica exata do Obelisco é 21º50’57.85”S e 46º39’59.46”O.

O Obelisco da Cascata, por sua importância histórica, poderia ser transformado em ponto de visitação, com os devidos cuidados, pois está em um local de fácil acesso e cercado de belas paisagens. Para entrar lá é preciso pedir autorização ao pessoal da fazenda.

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