sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O MONOTRILHO



Certa vez ouvi um humorista responder a uma pergunta sobre a possibilidade de se esgotarem os temas para que ele continuasse fazendo humor: “num país com políticos como os brasileiros, assunto é o que não falta”.

Transportando este mesmo conceito para campos não humorísticos, é interessante notar como uma cidade e seus candidatos são capazes de gerar tanto assunto bom, em época de eleição. Pena que só tenhamos eleições de dois em dois anos.

A polêmica mais recentemente levantada -embora antiga- é a questão do monotrilho.

Projeto sensacional, deveria ser único no país, e, até onde apurei, teria capacidade de levar 36 passageiros por composição, com 11 estações em cerca de 6 km de extensão, ligando o Terminal Rodoviário ao Terminal Urbano. Conceito interessante, pois prestaria entre outros ao transporte de turistas que chegassem de ônibus, levando-os diretamente ao centro, não sem antes passar por pontos turísticos referenciais de Poços de Caldas, com visão privilegiada, por exemplo, do Palace Casino, Relógio Floral, Urca ou Vila Junqueira, entre outros.

Também segundo relatos que ouvi, os trens rodaram poucas vezes, apresentando problemas. Acabaram por ficar encostados para sempre junto ao Terminal Urbano, no centro.

Embora pareça obra pública, o monotrilho na verdade é um empreendimento particular, ou seja, tem donos, e é objeto de concessão por parte da Prefeitura, conforme definido na Lei 3.119, promulgada em 20 de agosto de 1981 pelo então prefeito Ronaldo Junqueira. Assim, é um assunto que já dura pelo menos 27 anos.

A lei diz que a concessão tem um prazo de 50 anos, findos os quais “os bens utilizados no objeto da concessão passarão a integrar o patrimônio municipal, em perfeito estado de uso e conservação, sem ônus para o município”. Ou seja, dentro de 23 anos tudo aquilo será nosso, a princípio.

Em 14 de novembro de 2003, uma parte da estrutura desabou, caindo no rio, por sorte não ferindo ninguém. O prefeito era Paulo Tadeu, hoje candidato novamente ao cargo. A imprensa publicou entrevista com o prefeito, que disse:

“Fui contrário à construção e autorização para construção desse monotrilho. Depois que ele foi implantado, como poçoscaldense, estava torcendo para que funcionasse, mas torcer só não basta. A situação aqui é grave. Outras colunas, outras bases, estão tão expostas quanto essa que caiu. A gente tem que chegar a uma conclusão. É hora da gente sentar com seriedade e dizer se vai ou não vai. E se não vai, vamos desmanchar”.

Segundo um laudo também publicado pela imprensa, a causa do desabamento teria sido uma intervenção da prefeitura na margem do rio, junto à coluna que cedeu. A prefeitura imediatamente avisou que iria se defender judicialmente caso fosse acionada.

O resto da história é novela de cinco anos. Somente em 2005 alguns dos grandes pedaços da estrutura foram retirados do rio, e até hoje estão jogados no estacionamento do estádio Ronaldão, conforme mostrei aqui no post de 24/7. Posteriormente outra parte caiu, e está lá pendurada para quem quiser ver, com parte submersa no rio. Ruim para a imagem da cidade.

A estrutura não foi reconstruída e o trem serve de depósito de poeira, "mumificado" no terminal urbano; uma fortuna está parada ali (repito, é particular), e nada mais aconteceu até a semana passada, quando, em entrevista à EPTV, o ex-prefeito e candidato Paulo Tadeu trouxe o assunto de volta afirmando, conforme disposto no site de sua campanha, que "a polêmica obra enfeia uma das cidades mais bonitas do Brasil, e precisa ser apagada da memória da cidade. Será demolido”.

A exemplo do que fez na proposta de transformação do campo de golfe em parque municipal, acho que o candidato mais uma vez não contou a história toda. Precisa explicar como é que ele fará para “demolir” o monotrilho. Certamente não vai mandar uma coluna de tanques de guerra nem uma dúzia de tratores simplesmente derrubar tudo. Como a obra é particular, é assunto que se arrastará por anos na justiça, pois o município terá que indenizar os proprietários, e certamente a oferta será inferior ao que os donos pensam, como sempre acontece, por exemplo, nos casos de desapropriação. Mas ele prometeu na tv, então vamos esperar.

Particularmente sou contra este sentido de “ter que demolir porque enfeia”. O Palace Casino, na condição em que está, também enfeia a cidade e nem por isso vamos derrubá-lo. Antes de qualquer coisa é preciso avaliar a capacidade técnica do equipamento do monotrilho e definir termos com o concessionário, para que funcione regularmente, cumprindo os requisitos de engenharia e segurança, conforme dispoto na lei 3.119. Funcionando, será mais um atrativo turístico importantíssimo para a cidade, colocando lado a lado, na mesma avenida, toda a história do transporte, da charrete ao monotrilho, passando ainda acima dos cabos do teleférico. Só isto já é fantástico, e por isso o assunto deve ser tratado com carinho e merecer, se for o caso, investimento oficial, enquanto gerador de receita turística. O que deve ser muito mais barato do que indenizar o construtor pela demolição.

O tema atravessou as gestões de Tadeu e Navarro, entre outras, e até virou motivo para criação de comunidades no Orkut, mas ficou como está até hoje, sem solução. A única “ação efetiva” visível foi plantar vegetação para esconder partes das colunas do monotrilho. Também não sei se foi intencional ou se as plantas apenas cresceram ali. As duas últimas gestões municipais tiveram chance de fazer algo pelo monotrilho, mas parece que poder público e concessionário esperam cada um movimentos da outra parte. E como nenhum dos dois se move, tudo fica como está. Talvez se um pedaço da estrutrura cair sobre uma pessoa alguém acorde.

Simplesmente condenar à demolição não é a melhor solução. Bom senso sim. Para começar, que tal manter o trem limpo? Enquanto não funciona, serve como um monumento ao sonho de ter um projeto futurista numa cidade de tantas boas histórias. E quem sabe o monotrilho volte a ser –merecidamente- cartão postal de Poços de Caldas!

9 comentários:

  1. Rubens, vi seu comentário sobre o SP2 Dacon e concordo inteiramente com vc. Acho que tem gente querendo "promover" o carro a um status que ele não tem. Quanto ao seu blog, parabéns. Poços é mesmo muito simpática e esse trem suspenso sempre me intrigou. Aí tem também um dos clubes do Fusca mais organizados do Brasil! Abraço.

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  2. Rubens, parabéns pelo texto sobre o monotrilho. Quando visitei Poços de Caldas pela primeira vez, no ano passado, fiquei chocado com a imagem do monotrilho estacionado e empoeirado no terminal. Lembrou até mesmo um filme de suspense, ver aquele abandono todo. Na seqüência, segui (a pé) junto com minha namorada, todo o percurso dos trilhos para entender o que tinha acontecido, até chegar na rodoviária, onde seria o ponto inicial do monotrilho (que remete a um cemitério, com todas aquelas trancas). A imagem do monotrilho abandonado me perturba até hoje, mas fico contente de saber que há um militante no encalço dessa questão!
    Abraço!

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  3. Pois eu não conheço pessoalmente este monotrilho de Poços de Caldas, mas incentivo um projeto destes aqui em Curitiba, fazendo a ligação do Aeroporto Internacional Afonso Pena, que fica em São Jose dos Pinhais, ligando o centro de Curitiba, num traçado aproximado de 15 km! Vi o percurso deste monotrilho de Poços, no Google Earth, e achei interessante aproveitarem as margens de um canal ou rio, para implantar tal projeto. Aqui na minha região seria tambem margeando um córrego e um canal (Rio Belem) que vem do centro de Curitiba, para a ETE Belem. O que acham da idéia?

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  4. ola moro em poços de caldas mg e posso afirmar que ha um progeto nas mãos do atual prefeito paulo sezar filho da reforma do monotrilho da cidade. o monotrilho tem sido bastante visitado pelos turistas ou seja se ele voutar a funcionar a prefeitura tera um lucro otimo e podera fazer a manutençao regularmente e fazer outras reformas na cidade com no texto o palace cassino que ja esta em reforma

    poços de caldas, 29 de bezembro de 2010.

    jean.

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  5. eu acho simplismente 1 vergonha 1 cidade como p de caldas com 1 desleixo deste os candidatos a prefeito e vereadores so pensan no monotilho em epoca de eleicao ,pois deveriam tomar vergonha e pensar como cidadao pocos caldense e com lealdade acvbando de vez com essa novela , reactivar o monotrilho ou destruilo, eta pais sem politicos politicos honestos ps alguns trabalhan com lealdade sem pensar no cifrao.

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  6. o monotrilho de poços de caldas e uma ideia fabulosa!!! imagino o quanto essa linda cidade ganhara com a volta e ativaçao definitiva do montrilho. outra coisa...a praça dos imigrantes pode ser um espaço cultural fabuloso, mesmo com a reativaçao da estrada de ferro. no ultimo domingo, 04/03/12 fui ate la caminhar pela manha e fiquei imaginando como seria lindo encenar a la boheme ali na frente da estaçao. espaço tem de sobra para os solistas e orquestra.

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  7. o monotrilho de poços de caldas precisa, deve voltar a funcionar. numa cidade linda como poços com uma vocaçao ja centenaria para a questao de saude e meio-ambiente, o monotrilho somente ira ajudar. alem disso, o restabelecimento da estrada de ferro e condiçao sine qua non para a perpetuaçao da memoria da historia, ai ja nao somente local, mas nacional. nao nos esqueçamos que pedro II esteve em poços com a imperatriz. andre rebouças e seu grande amigo, o principe pedro augusto de saxe-coburg-gotha e bragança, neto mais velho do imperador, tambem eram frequentadores de poços de caldas.

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