quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A PELEJA DO ACARAJÉ E DO PÃO DE QUEIJO

Tenho recebido algumas benvindas críticas sobre meus comentários a respeito do carnaval. Embora não pretendesse mais retomar o assunto -visto que já está decidida a realização da micareta na cidade, bem como os bailes no "pré-finado" Palace Casino, local que a cidade insiste em abusar até o último suspiro- a questão polariza opiniões.
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Uma das opiniões diz: "Concordo que a prioridade sempre deve ser o social, mas nada tem haver o carnaval com essa questão. Se assim pensarmos, nenhum evento no mundo fará sentido, pois problemas sociais sempre existirão, e em todos os lugares". Respeito a opinião do leitor, que inclusive está publicada nos comentários.
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Vou explicar mais uma vez o que penso sobre o assunto:
1- A cidade não goza de condição financeira espetacular para se dar ao luxo de bancar o carnaval em valores que circulam na casa dos R$ 500 mil aos R$ 850 mil -já vi e ouvi números diferentes, mas vou ficar com o menor, para ser otimista. A precariedade dos cofres é percebida quando se ouve que "ainda bem que a Câmara devolveu verba no fim do ano". Fora isso, 12% de aumento de IPTU em 2009 só pode ser por necessidade, não por gula. Estivéssemos com a saúde econômica em dia, não discutiria a questão. Também o fato de ser a mesma verba de anos anteriores não cabe, pelo simples fato de que este dinheiro vai fazer falta em outros destinos mais nobres.
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2- Banquei e continuo bancando que com carnaval, baile, micareta ou não, os hotéis vão lotar, pelo simples fato de que é feriado, como acontece em Poços em todos os feriados prolongados. Como Poços não tem "tradição" no assunto e duvido que em menos de um mês os titulares do assunto criem esta "tradição", os turistas virão. E tomara que estes vejam somente o resultado positivo dos fatos. Assim, não concordo que o carnaval vai servir para atrair mais turistas.
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3- A abordagem social que dou à discussão é justamente a soma das questões: cidade "dura"; desemprego à vista; necessidades básicas urgentes. Então nós, que moramos nos bairros bons, temos casas decentes, luz, água, esgoto e asfalto, devemos olhar para os que não tem. E o "nosso" olhar é o olhar da administração. Eu sei a resposta, se perguntarmos aos moradores dos barracos ao lado da PUC, se eles preferem uma moradia decente ou uma semaninha de carnaval.
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4- Por outro lado, é ingenuidade achar que o que a cidade pretende investir vai transformar Poços em "polo carnavalesco". Antes disso tem Rio de Janeiro, São Paulo, Nordeste, Caconde, uma dezena de cidades na fila de "bons carnavais". Para isso, R$ 1 milhão não é nada, e o "investimento" na Beija-Flor não aumentou o fluxo de turistas nem botou a cidade na berlinda dos assuntos momescos.
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5- Dizer que "nossos jovens saem da cidade no carnaval, gastando fora o dinheiro que gastariam aqui e deixando os pais preocupados" também não me convence. Pais têm ascendência sobre os filhos até certa idade, e se não podem mais dialogar sobre as questões de segurança ao volante, excesso de bebida ou outros problemas, não é a cidade que tem que pagar esta fatura. Quanto a sair da cidade e gastar dinheiro fora, outro exagero. Basta ver na nossa micareta a quantidade de caixas de isopor com cerveja que virão nos porta-malas dos carros. Alguém duvida?
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6- Para encerrar: dizer que temos que trazer a cultura do carnaval de fora para a cidade é explicar o inexplicável. Nossa cultura historicamente nada tem em comum com o que há em Recife ou Salvador. Assim, uma caminhão tocando axé em milhares de decibéis não faz parte da nossa cultura, da mesma forma que não espero ver "frevistas" cantando moda de viola em Fortaleza, balançando lentamente suas sombrinhas. Deixo claro que não sou contra nenhuma forma de arte ou cultura (sou de família de pintores), mas não concordo com a "imposição cultural", ainda mais com o dinheiro público.
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Resumindo: acarajé lá, pão de queijo aqui!
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3 comentários:

  1. Pao e circo para o povo. Aliás, como o maior país católico do mundo tem uma insuportável festa pagã??

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  2. Parabéns pelo desabafo!
    Tenho me preocupado muito com o continuo uso do Palace Cassino que deveria estar fechado para reforma, não é mesmo? Já observaram que ultimamente há um carro do corpo de bombeiros na porta sempre que há eventos?

    Com carinho,

    Angela

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  3. Apoio integralmente suas palavras. As micaretas que ocorrem no país durante o ano todo levando milhares de pessoas a gastarem o que não têm para comprar os abadás já são perturbação suficiente.
    E quantos jovens vão para estes eventos e não voltam? Será que queremos copiar esta sandice também?

    Voto no pão de queijo!

    Renato

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