terça-feira, 6 de janeiro de 2009

PANEM ET CIRCENSES

Desde que o mundo é mundo o povo vive com pouco, na opinião dos maus governantes. Os antigos romanos confirmam. Ou, como diz a citação título deste post, pão e circo. Pão no sentido de um mínimo de alimento, e circo para os doces prazeres da diversão. Ou seja, se sorrir a vida está boa. Com um punhado de feijão melhor ainda.

Nesta ótica encaixo a recente e palpitante discussão que toma conta da mídia local: os rumos do carnaval em Poços de Caldas.

Pessoalmente não gosto, acho carnaval uma inutilidade. Razões não me faltam. Entre outras, penso que um país pobre como o nosso não poderia se dar ao luxo de perder uma semana de produção, ainda mais na tormentosa “marola” de crise que o mundo atravessa e que em Poços tem sido apontada quase sempre como um "problema no horizonte" (semana passada começaram demissões em grandes empresas -o horizonte está bem debaixo de nossos pés). Fora a questão econômica, como carnaval é uma época em que muitos pensam que está tudo liberado, abusos acontecem, e aí as estatísticas sempre são ruins, em geral traduzidas no aumento de acidentes fatais em estradas, por exemplo. Vidas perdidas inutilmente. Todo ano o Jornal Nacional mostra. Também sempre fui um sujeito meio retraído para essas coisas, o que não significa que seja rabugento. Ao contrário.

Em Poços o discurso caminha para algumas linhas curiosas com o objetivo de “fortalecer” nosso carnaval, a saber: “ano passado, 10 mil habitantes deixaram a cidade para passar o carnaval em outros lugares, gastando cerca de R$ 500 em hospedagem, alimentação etc, o que daria R$ 5 milhões não gastos em Poços”. Ora, só quem mora aqui pode sair daqui, e não gastaria R$ 500 se ficasse em Poços, pelo simples fato de não morar em hotel... Fora isso, algumas mentes mais carnavalescas propuseram a volta ou criação do “carnaval de rua” nos moldes do que existe na região nordeste. Falam até em um tal de “corredor do axé”, com trio elétrico, abadá e tudo, a ser baseado inicialmente na rua Rio de Janeiro, tudo com a devida “anuência da associação comercial e de grande parte da população”, conforme ouvi em entrevistas. Eu moro no centro e não fui ouvido.

Como já disse, não gosto do carnaval, e imagino o inferno que vai ser se colocarem um trio elétrico a três quadras de casa. Claro que não vai ser do meio-dia às seis da tarde. A proposta é que a muvuca ocorra da meia-noite às quatro da madrugada, evidentemente prorrogáveis. É mais ou menos aquela história das feiras-livres: todo mundo quer uma perto de casa, desde que não seja na própria rua. Incluindo eu.

Esqueçam leis de silêncio e horário de descanso. Afinal, é carnaval, quase ninguém vai trabalhar no dia seguinte, e o centro da cidade é o melhor local para os folguedos de Momo, na opinião dos idealizadores. Enganem-se acreditando que as paredes não se transformarão em mictórios. Que a polícia dará conta das vitrines. Que a paz reinará. Ou será que a madrugada será palco de alegria para as mais fofas criancinhas fantasiadas de bailarinas, indiozinhos e jogadores de futebol?

Pelo jeito vou ter que cumprir a sina dos 10 mil fugitivos do ano passado e passar o carnaval fora de Poços, provavelmente enfurnado numa pousada tranquila e silenciosa, ouvindo boa música em volume compatível com meu modesto paladar sonoro. Descansando e lamentando a semana perdida.

Para acabar e não dizerem que critico e não proponho: um bom lugar para fazer um sambódromo é o aeroporto. Como anda sub-utilizado, daria uma bela passarela de 1.500 metros. Com a Avenida Alcoa duplicada não vejo dificuldade para o acesso da população. O fato de eu não gostar não implica em nada, as pessoas tem o direito de se divertir como quiserem. Exatamente na proporção do meu direito de não gostar e querer sossego. Se é o desejo da maioria, assim expressa por meio de seus representantes, ótimo. Só não contem comigo.
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2 comentários:

  1. Há uns onze ou doze anos atrás, liberaram os trios elétricos no centro da cidade e foi um cáos total.
    Esse tipo de carnaval só serve para espantar da nossa cidade o nosso turista tradicional, que, na sua grande maioria, mora nos grandes centros, e quer mesmo é paz e tranquilidade para descansar nos feriados prolongados.
    Gastar o dinheiro público para afugentar nosso cliente e atazanar a vida de quem mora no centro não me parece uma boa idéia.
    O ideal seria termos um local apropriado para os que gostam do barulho, para que se divertissem sem perturbar a vida de quem queira apenas descansar. Enquanto isso não acontece, falar em liberar os trios elétricos no centro é um contrasenso para quem deseja uma cidade atrativa e organizada.

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  2. Ir para uma pousada tranquila?
    "Uai", pensei que quem viesse para Poços tivesse essa intenção: descanso!
    De fato, os moradores não são ouvidos. Honestamente não quero nem o muro do prédio onde moramos transformado em banheiro e nem as paredes dos edificios que considero patrimônio histórico desta cidade que prezo tanto.

    Com carinho!

    Angela

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