O FIM DO MONOTRILHO

Sempre defendi a tese de que o monotrilho deveria ser recuperado. Pensava, por exemplo, em arquitetos e urbanistas visitando Poços de Caldas, produzindo longos estudos sobre a convivência improvável de monotrilhos e charretes, andando paralelamente.

.

Sonhei -como deve ter sonhado seu construtor um dia- que poderíamos ter uma "filial" do monotrilho que há no Disney World da Florida, EUA (clique na imagem acima para ampliá-la), transportando turistas e habitantes da cidade.

.

Agora cansei do monotrilho. Minha convivência diária com ele tornou-se aborrecida. Evito passar pela Avenida João Pinheiro, tenho medo dele. Aquela imagem sombria, verdadeiro fantasma não camarada, me observa por trás da vegetação.

.

Há seis anos, desde que elegi Poços de Caldas para ser "minha cidade", ouço o batido discurso das autoridades -prefeitos, secretários e outros ocupantes de cargos eletivos, comissionados ou concursados- dizendo: "temos que resolver a questão do monotrilho". Agora é chegada a hora de trocar o "temos" pelo "vamos": vamos resolver o problema do monotrilho. De uma vez por todas, e rapidamente.

.

Não vou entrar no mérito da discussão do projeto, dos eventuais incentivos diretos ou renúncias, se deveria ter 20 ou 30 km. Isso tudo é passado. Agora temos que olhar para frente, e o futuro mostra que não podemos mais conviver com um esqueleto que insiste em sair diariamente do armário.

.

Razões não faltam, e a mais elementar é a poluição visual. Interfere no que Poços tem de mais bonito, que é a paisagem natural em casamento com seus edifícios históricos. Se da Urca olho a Estação Ferroviária, lá está ele. Se subo a serra e fotografo a cidade lá embaixo, "quem" está na foto? Quando sento no Café Concerto, lá está ele. Passeio de teleférico? Idem. Mesmo da janela do meu apartamento tenho visão para o concreto de sua estrutura. Criei até uma expressão: "onipresente inútil": está em todo lugar, mas não serve para nada.

.

Recentemente circulou um boato na cidade dando conta de que o monotrilho seria reativado e voltaria a circular no próximo aniversário da cidade. Não dei crédito. Honestamente nunca o vi em operação, mas toda vez que alguma testemunha fala dele é sempre com a testa franzida.

.

Quinta-feira, na segunda audiência pública sobre orçamento municipal 2010, questionei as autoridades presentes sobre o assunto e duas respostas me surpreenderam: "o monotrilho não pode ser demolido pois, não teríamos onde colocar o material". Com toda a tecnologia que há disponível, não consigo pensar nisso como problema. A outra colocação foi que "há estudos para transformar a estrutura em uma espécie de pista de cooper ou caminhadas". Estou só reproduzindo o que eu e mais umas 20 pessoas ouviram -"projeto" tão incrível quanto desnecessário, fosse verdade.

.

Espero uma atitude corajosa e rápida de nosso prefeito em relação ao tema, com a mesma firmeza que demonstra ao falar da construção do presídio na zona sul ou exige que seus secretários sejam signatários da "Carta da Cascata", como ficou conhecido o compromisso de reduzir fortemente as despesas das Pastas muncipais, após reunião de 10 horas realizada recentemente na Cascata das Antas. Chegou a hora de dizer o velho "ou vai ou racha". É particular? Ou funciona ou esquece. Termo de Ajustamento de Conduta, firmado entre a prefeitura e o titular do equipamento, diante do Ministério Público, é suficiente: se não entrar em operação em determinado (e curto) espaço de tempo, deve ser demolido, desmanchado ou outro nome que se queira dar para encerrar o sonho que virou pesadelo.

.

Coragem. Mesmo que seja a coragem de assumir que "nada podemos fazer". Seria mais objetivo do que continuar chovendo no molhado do "temos" e deixar o "vamos" para um futuro governante. Vou cobrar.

.