Nos anos 1990, a vida me levou à direção de uma revista especializada em motocicletas, o que me permite -até hoje- uma visão aprofundada do assunto e a certeza de que a moto que tenho, com sete anos de uso e pouco mais de 4 mil km rodados, é meu derradeiro veículo de duas rodas. Não tenho mais disposição para esta luta. Passou o tempo, e a máquina-símbolo de liberdade e rebeldia, eternizada nas Harley-Davidson de "Easy Rider" ou no fulminante olhar de Marlon Brando no poster de "O Selvagem" tornou-se popular meio de transporte, culminando com a tropicalização dos "mad-dogs" ingleses, alcunhados de "motoboys", grandes consumidores de pequenas motos.
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A moto, então, foi de coadjuvante a estrela num cenário cada vez mais congestionado de carros, ônibus e caminhões, mas quase sempre no papel de vilã. Só em 2008 foram vendidas exatas 1.879.695 motos no País (mais de 5 mil por dia, falando apenas das zero km!), enquanto em São Paulo morreu praticamente um motociclista por dia ao longo do ano. E Poços de Caldas já deveria ter os olhos abertos para esta realidade há tempos. Motivos há muitos, vou listar alguns que me ocorrem agora:
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-o desemprego empurra para a informalidade aqueles que não conseguem se recolocar. Como uma moto pequena é barata e pode ser financiada em longo prazo, é possível pagá-la com o próprio trabalho. Assim, cria-se um mercado sobre consumidores nem sempre preparados para passar o dia sobre a moto;
-os motoristas locais não estão acostumados à conviência com as motos. Assim, não avaliam corretamente a velocidade ou a distância do veículo menor. O acidente mais sério que sofri de moto foi justamente aqui em Poços, nessas condições. Custou um joelho inchado 15 dias, por sorte;
-se a moto é usada o dia todo como ganha-pão, à noite para entrega de pizza e depois como lazer, precisa ter muito mais manutenção que o básico. Assim, se a conta não fecha nas despesas de sobrevivência, a lona de freio ou a lâmpada do pisca ficam para depois.
-juventude e velocidade não combinam com ruas e avenidas. Fazer uma Avenida "desafiadora" como a Av. Alcoa e acreditar que placas de 30km/h bastam beira a ingenuidade.
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O que espero de nossas autoridades sobre o tema? Simples: conscientização e fiscalização. Se o piloto souber que há a mínima chance de ser apanhado quando passar um semáforo fechado (todo dia na Avenida João Pinheiro ou na Rua Junqueiras vejo isto), vai pensar e ter a mesma paciência dos cidadãos de bem. Se pensar na possibilidade de ter a moto apreendida por falta de itens de segurança, ou por subir a Rua Assis empinando, ou ainda se concluir que passar tirando "fininha" no corredor entre dois carros a 100 km/h pode lhe custar uma perna, vai aliviar. Se, ao subir na moto, lembrar que o frágil corpo humano não foi feito originalmente para se deslocar a mais do que a velocidade do passo e que qualquer coisa acima disso pode ser fatal e vai deixar a família arrasada, deixará de "enrolar o cabo", gíria que significa "acelerar tudo o tempo todo". E se tiver que carregar para sempre o féretro de um inocente assasinado por causa de sua pressa, vai compreender a importância de um semáforo de pedestres.
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Não podemos mais nos surpreender ao ver uma notícia como a publicada hoje nos jornais da cidade: um motoqueiro fugiu de uma blitz da PM, passou três semáforos vermelhos e acabou batendo em um carro. Tudo isso com um garupa. O resultado foram sete multas, incluindo uma por pneu careca. Mas a conta ficou barata, já que o sujeito não vai pagar pelo atendimento do SAMU, nem a diária da Santa Casa, nem a gasolina consumida pelas autoridades, nem o prejuízo ao trânsito ou o carro que danificou. Acho muito justo o dinheiro do nosso imposto ser revertido em socorro a acidentados, desde que seja mesmo um "acidente". Mas gastar um centavo sequer com quem não dá valor à própria vida -e principalmente à vida do próximo- é jogar dinheiro no lixo. Eu sei, não há o que fazer. Mas a fatura poderia ir para o "responsável".
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Aposto que a reportagem do jornal vai virar troféu na parede desse "herói", que vai demorar a voltar para cima de uma moto. Não que a habilitação cassada deva ser um problema para quem "dá pinote" na polícia. A fratura exposta na perna talvez o faça repensar a vida.
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Perfeito seu texto, Rubens!!!
ResponderExcluirA situação está beirando o caos. A venda de motos está disparada no país, bem como o número de acidentes com esse veículo.
Mas, como lutar contra o poder dos fabricantes e das montadoras? O Governo Federal também apóia o aumento das vendas, mas não antenvê os problemas que isso causa.
Caruso,
ResponderExcluirEste acidente ocorreu em BH
Veja:
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL952518-5598,00-MOTOCICLISTA+ENTALA+EM+JANELA+DE+CARRO+APOS+COLISAO.html
E bom almoço/jantar no pampa..
Ouvi no radio... No programa do antonio Carlos..
rsrs
Abs
Juliano
www.FuscaPocos.com.br