terça-feira, 26 de maio de 2009

É O FIM DA LINHA!

Complete a frase: "Transporte Público, um Direito do Cidadão, um Dever do _ _ _ _ _ _".
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A "bomba" veio sobre rodas: usuários dos ônibus da Circullare que passam pela Avenida Celanese contaram que havia um aviso nos veículos informando que a empresa não mais cirulará por ali, deixando desamparados trabalhadores das empresas ali existentes, além dos moradores da vila da CBA. O referido aviso foi "publicado" nos ônibus da empresa e só chegou hoje (26/5) às minhas mãos, cujo conteúdo afirma que "para melhor atender os moradores dos bairros Bortolan e Marco Divisório, as linhas deixarão de passar pela Avenida Celanese". Só para refrescar a memória, na Avenida Celanese, em pouco mais de três quilômetros, estão algumas das mais importantes indústrias de Poços de Caldas, algumas delas referências mundiais em suas áreas de atuação.
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Muito estranhamente e contrariando o aviso da concessionária de ônibus, hoje à tarde, em entrevista ao jornalista Thiago Quinteiro, da Rádio Difusora, o prefeito Paulo César Silva afirmou que, após apresentação de números e gráficos por parte da concessionária, algumas linhas "deficitárias" foram suprimidas. Muito bom: um diz que é para melhor atender os usuários, o outro diz que o problema é de receita. Num sensacional "malabarismo", prefeitura e concessionária resolveram dois problemas! Só esqueceram de combinar com os outros jogadores: usuários e indústrias.
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De um excepcional trabalho de Frederico Bussinger, ex-diretor de operações do Metrô de São Paulo, denominado "Transporte Coletivo: direito do cidadão, dever do Estado", destaco o seguinte trecho: "A lógica deve ser outra, a de um direito. O transporte deve ser tomado ao mesmo nível do trabalho, da habitação, da educação, da saúde, do lazer, do ir e vir, do associar-se e do particpar do Governo. Mas se deve observar que ele é um direito diferente desses outros, pois é um 'direito-meio'. Ele influencia e condiciona os demais. Se o direito ao transporte não estiver garantido, vários outros serão apenas letra morta da Constituição ou da Declaração Universal dos Direitos Humanos". Atualíssimo, o artigo data de 1986!
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A empresa de ônibus é soberana sobre seus negócios: deu lucro, ótimo, não deu, literalmente "tira de linha". Respeito isso, é uma empresa privada que visa o resultado, como qualquer outra, apesar do amplo discurso da responsabilidade social. O que não entendo é a prefeitura "homologar" uma decisão dessas, e ainda justificar -por meio da máxima autoridade municipal, o prefeito- com o argumento do déficit, empurrando qualquer eventual negociação para as partes, coisa que deveria ter acontecido antes mesmo de se "dar entrada" na solicitação de cancelamento de uma linha de ônibus da importância dessa.
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Se a prefeitura, em nome de um déficit, suspende um serviço público ou parte dele, cabe perguntar: em quais atividades a prefeitura "dá lucro", não tem déficit? Hospitais? Escolas? Habitação? Asfalto? A concessão, como o nome diz, concede um direito, mas a responsabilidade, a titularidade, a gestão, a organização, são sim do poder público.
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Sempre admirei o prefeito pela seriedade na condução de seus trabalhos, até agora. Hoje, não encontro outra palavra a não ser decepção. Espero não ter outras -palavras e decepções.
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Para finalizar, se você respondeu lá em cima "Estado", acertou. Mas é "Estado" enquanto organização política e social, em um território definido, regido por uma Constituição própria e um Governo soberano. Poços de Caldas é, então, "Estado".
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Um comentário:

  1. Boa essa, quer dizer entao que os DETENTORES DE TODAS AS LINHAS do municipio querem operar so as lucrativas?

    Assim qualquer um opera, ate o municipio !!

    Estao precisando de concorrencia.

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