domingo, 10 de maio de 2009

O ESPÓLIO DA MOGYANA





Passou a época de locomotivas e vagões e agora discute-se abertura de novas avenidas, aproveitando o antigo leito da ferrovia. Corremos o risco de sepultar de vez um patrimônio importante, escondido num arremedo de rua paralela à João Pinheiro, por onde durante décadas passaram os trens.
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Visitei aquele local e percorri o antigo trecho para fotografar parte do que ainda resta dos gloriosos tempos em que a Estação Ferroviária era centro de convergência de pessoas e mercadorias. Funcionários moravam junto à estação desde que as máquinas eram a vapor, nossas "Maria-Fumaças", fato comprovado pela existência de raras caixas d´água centenárias. Algumas casas tinham até "garagens" servidas por pequenos ramais de trilho. As pontes de ferro com base de pedra estão perdidas, como aquela que há junto à cadeia, na qual se lê a data "30-7-44" e o logo "CM", gravados em relevo na pedra.
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A casa do Chefe da Estação e do Mestre da Linha eram imponentes, pois essas denominações de cargo eram quase um título de nobreza. Tudo isso com o aval inicial de ninguém menos que Dom Pedro II, que veio pessoalmente inaugurar o Ramal de Caldas da ferrovia.
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O patrimônio que você vê nas fotos acima pode se perder se os futuros projetos para acabar com o problema do trânsito em Poços (pensando bem, nunca fiquei mais do que cinco minutos num desses engarrafamentos) não forem cautelosos. As residências da vila ferroviária em boa parte tem condições de manutenção precária. O reservatório de água, construído em ferro, ostentando placa de identificação das "Officinas" da Companhia Mogyana, datada de 1908, virou abrigo para noitadas de romances nada românticos.
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Se a Estação, que está à vista de todos, foi objeto de um serviço de recuperação muito mal executado, com calhas abertas, janelas pintadas sem vidros e outras espécies de obras cujos adjetivos não cabem num texto mais polido, o que poderá acontecer com o patrimônio que está escondido da visão cotidiana?
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Concordo plenamente que é preciso pensar no futuro. Mas já passou da hora de respeitarmos o passado da velha ferrovia.
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Clique nas imagens para ampliá-las.
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Um comentário:

  1. Pensar no futuro é planejar direito, não é ir passando o trator por cima de tudo. Essa mentalidade ainda insiste em permanecer. Patrimônio Histórico está mais relacionado com planejamento e estratégia do que com estagnação. Só as mentes estagnadas é que enxergam assim. Excelente texto!

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