O pedido indigesto que você lê no título acima veio da secretária de Promoção Social de Poços de Caldas, Raulina Adissi. Ao cardápio do restaurante popular da cidade, inaugurado em 2008 com pompa, circunstância e tudo mais que um ano de eleições exige, serão acrescidos nada menos que inacreditáveis 100% de aumento nos valores das refeições. É sério, os preços vão dobrar. Vezes dois. Duplo. Não deram nem aquela disfarçadinha, quebrando o percentual ou o valor. Nada. Números redondos.
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Diz a prefeitura querer ampliar o número de refeições servidas para 434 mil em 12 meses, um aumento de 8,5% sobre o volume realizado desde a abertura do restaurante. Só esse aumento já seria suficiente para que se pleiteasse uma redução de valores. É a tal da economia de escala, regra de mercado que assegura valores proporcionalmente menores à medida que crescem as quantidades. Mas não em Poços de Caldas. Aqui, o "pioneirismo" manda, e conseguimos, num só prato, revogar a lei da oferta e da procura.
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Num banquete de desculpas incompreensíveis, a sugestão do chef Courominas, ainda de acordo com a secretária, é enjoativa: "só vimos um caminho, o reajuste dos preços", temperando que "ainda é um preço pequeno, se considerarmos que um salgado, com baixo valor nutricional custa também R$ 2,00 e que se vai pagar este mesmo preço por uma refeição balanceada, adequada, bem feita". É verdade. Só precisam dizer isso a quem ganha salário mínimo, está desempregado, é aposentado ou estudante.
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Os mestres-cucas da administração esquentaram a chapa com essa: "em um ano, o Restaurante Popular de Poços de Caldas nunca teve nenhuma reclamação dos usuários". Só faltava dobrarem o preço depois de servir lavagem às pessoas. O mínimo que se espera de um local oficial que se presta a alimentar a população é que as pessoas saiam de lá vivas.
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De sobremesa, outro argumento impressionante: "(o Restaurante Popular) também nos trouxe como conseqüência melhora na qualidade de vida e saúde da população. Os números da Policlínica comprovam um decréscimo no atendimento de idosos, fruto de uma alimentação melhor e também da socialização que o restaurante proporciona”. Estou exagerando na porção ou será que esse motivo -redução dos problemas de saúde- também não é motivo para redução do valor da refeição?
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O cafezinho vem com a seguinte fala da secretária: “Nosso restaurante é modelo no Brasil. Essa exceção custa, e muito para a gente, mas nunca foi colocado no preço final, mas, neste momento, precisamos da compreensão de todos para manter a qualidade”. É verdade. Custa, e muito, para a gente. Mas é a aquela "gente" que precisa, que enfrenta fila, com o dinheiro contado nas moedinhas, não é a "gente" autoridades, prefeito ou secretários, cujo custo de manutenção no poder é sim "da gente", eu inclusive. Secretária, lamento muito. Embora não seja usuário do Restaurante Popular, não conte com minha compreensão. Nada que aumenta 100% de preço merece compreensão.
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Termino parafraseando os Titãs: "A gente não quer só comida". A gente quer respeito. E 100% de aumento é uma falta de respeito. Peço a conta. E não incluam a gorjeta.
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