Em 17/8 publiquei no Viva Poços! um artigo denominado "Rampa de Lançamento", sobre a instalação que a prefeitura fez na junção das ruas Assis Figueiredo e Junqueiras. Por conta disso, recebi alguns "puxões de orelha", incluindo do prefeito Paulo César Silva, do jornalista Wiliam de Oliveira e até mesmo de um leitor –Marcos- do blog do Polli (http://www.blogdopolli.zip.net/), entre outros de amigos do Viva Poços!.
.
Com o pavilhão auricular devidamente em flamas, acho que devo explicações aos leitores, pois confesso ter ficado com a sensação de que algumas pessoas acharam que sou contra ações inclusivas para os portadores de necessidades especiais ou ganhos para os pedestres, o que, claro, não é verdade.
.
Vou usar as palavras do próprio Marcos e "comparar com países europeus, por conta do meu histórico profissional". Concordo, é verdade, conheci boa parte do mundo quase sempre a trabalho na área do jornalismo automotivo, portanto "participando" do trânsito de diversas cidades com a visão de quem nasceu e morou em São Paulo quase a vida toda. É preciso começar então pensando no que há de bom na relação entre veículos e pedestres na Europa e nos Estados Unidos.
.
Em acessibilidade, os Estados Unidos dão show, no meu modesto entendimento pela enorme população de portadores de necessidades especiais, boa parte dela veteranos das muitas (quase todas) guerras das quais aquele país participou, com a vantagem de que os norte-americanos têm foco inclusive na acessibilidade ao volante.
.
Na Europa é mais complicado generalizar, pois há as questões culturais de cada nação. Por exemplo, uma cidade suíça que usa modernos bondes não poderia nunca contar com uma passagem de pedestres elevada, como a nossa. E, tanto na Europa quanto nos EUA, com países prontos e não eternamente “em desenvolvimento”, não se aceita calçadas quebradas, orelhões na linha do rosto das pessoas (um horror para os deficientes visuais), meio-fio desalinhado banhado de cal ou ruas esburacadas. Já em Roma, por exemplo, naqueles alucinantes congestionamentos de scooters pilotados por ensandecidos italianos cujo polegar nunca deixa o botão da buzina, talvez as passagens elevadas tivessem sentido.
.
Mas não é preciso atravessar o oceano ou o continente para encontrar diretrizes adequadas para a questão. Basta ir à capital Belo Horizonte, na BHTrans -empresa pública de transportes e trânsito da cidade- para ter as respostas. BH é justamente a cidade da qual “colamos” esse arremedo de traffic calming, nome pomposo para “Moderadores de Tráfego”, que resume as abordagens técnicas, sociais e ambientais para a implantação de um conjunto de medidas que visem otimizar a fluidez do tráfego e a redução de acidentes, considerando as vantagens e riscos ao entorno do local de implantação dos projetos, e não apenas de forma pontual, como acontece hoje na Rua Assis.
.
A discussão é que a instalação da rua Assis nada mais é, na minha modesta opinião, que um factóide, uma ação sem consistência plena transformada em "grande" notícia. Não há justificativas técnicas ou científicas que expliquem aquela "obra" num ponto onde há semáforo para travessia de pedestres. Seria de se esperar algo como “vamos reduzir em X% o número de acidentes ou atropelamentos” ou “vamos reduzir a velocidade na via de modo a direcionar o fluxo para outras ruas ociosas”. Nada. Inventamos pura e simplesmente a “passarela asfáltica”, que poderá anteceder até a implantação de um rodízio de veículos no centro. Não duvide.
.
Também não há explicação para que aquilo seja um teste, já que a prefeitura, titular e única responsável pela circulação na cidade, tendo à frente prefeito e secretário com cabedal de pelo menos quatro anos na administração, não se propôs a realizar qualquer -até agora- teste de mudança de mão na Rua Junqueiras, ou no "X" formado no acesso da João Pinheiro à Francisco Salles ou ainda na desordem que se presencia diariamente na Avenida Champagnat, com carros estacionados dos dois lados e ônibus trafegando em ambos sentidos.
.
Para emendar, os traffic calming têm, em geral, efeito maior em áreas residenciais, resultando em melhorias ambientais e de tráfego, com redução de velocidade e aumento da segurança. Uma região da cidade que em breve terá que ser estudada –profundamente- é o Jardim Europa e o Novo Mundo, áreas residenciais que receberão grande fluxo não previsto de veículos após concluída a interligação com o bairro Santa Ângela -obra tida como panacéia para todos os males da avenida João Pinheiro e sua mal utilizada ciclovia.
.
Três são os objetivos que norteiam a instalação de um sistema de traffic calming: reduzir o número e a severidade dos acidentes; reduzir os ruídos e a poluição do ar; revitalizar as características ambientais da via por meio da redução da presença e dominação do automóvel. Não consigo identificar esses itens em nosso traffic calming. Reitero que concordo plenamente com o que foi instalado entre o Palace Hotel e a Praça Pedro Sanches, da mesma forma que não concordo com o da Assis, nem mesmo a forma como foi construído.
.
Portanto, instalar o equipamento na Rua Assis é sim um assunto de trânsito, não de acessibilidade. Se fosse esse efetivamente o foco da prefeitura na ação, a atenção -e a passagem elevada- deveriam necessariamente estar nas imediações da Secretaria de Saúde, lá no começo da Rua Junqueiras, onde as calçadas são ruins, a travessia é ruim, a sinalização é ruim. Na secretaria fica a Adefip -Associação dos Deficientes Físicos de Poços- e não na rua ("vitrine") mais movimentada da cidade.
.
A simples observação visual da passagem elevada da Assis aponta erros graves: por exemplo, um deficiente visual que não tem mais a referência do desnível do meio-fio ou qualquer aviso sonoro no semáforo, pode passar direto considerando que ainda está na calçada, quando na verdade está atravessando a rua. Pensaram nisso? Outro ponto grave da obra é obrigar a redução de velocidade numa via pela qual passa boa parte das ambulâncias do Samu rumo à zona sul –morei na Assis e sou testemunha disso. Fora o desconforto causado nos passageiros dos ônibus. E o que dizer da "lâmina" de metal para eliminar o vão entre a calçada e o asfalto? Quem anda de moto sabe o risco daquilo numa situação de emergência. Garanto que não estou exagerando.
.
Enfim, uma ação sem o correto planejamento, fracamente justificada em nome da “segurança” dos pedestres, em desacordo com o que prega o excepcional trabalho denominado “Manual de Medidas Moderadoras do Tráfego”, obra de quase 300 páginas, publicada pela BHTrans, cuja leitura fiz e recomendo, e que afirma:
.
“Na atualidade, o grande desafio que se coloca para administração pública no campo do desenvolvimento urbano é assegurar que os conflitos entre a circulação viária e as demais atividades desenvolvidas nas diversas regiões da cidade sejam minimizados. Nesse sentido, as estruturas viárias devem ser planejadas de forma a valorizar a qualidade dos usos estabelecidos em suas áreas adjacentes ou mesmo para revitalizar alguns usos que foram se degradando ao longo do tempo em função da existência de condicionantes sócio-econômicos ou ambientais adversos”.
.
Caruso,
ResponderExcluirSabias palavras...
Realmente copiar as coisas e muito facil..
Mas aplicabilidade da mesma em outro local sem um estudo e erro gravissimo.
Abs
Juliano
Caruso,
ResponderExcluirParabens pelo texto..
Muito bem redigido e ficou de forma clara e objetiva para os que falaram mal anteriormente.
Acredito que estes nao levaram em consideração a questao dos deficientes fisicos..
Copiar as coisas e muito facil..
Deixar de realizar um estudo sobre a aplicabilidade da mesma sem nenhum criterio é um erro gravissimo
Poços ja nao suporta mais este tipo de erro!!
É preciso acoes concretas.. e nao asfaltica..rsrsrs
abs
Juliano
Caro Caruso
ResponderExcluirNão acredito que o traficc calming irá por si resolver a questão da acessibilidade. Tenho a convicção (lógica até) que o mais importante é a educação de motoristas, pedestres eteceteras. Veja por exemplo, o que foi instalado no Palace Hotel e na Praça Pedro Sanches citado até em seu artigo. Quantos são os motoristas que respeitam a passagem preferencial de pedestres?
Penso até que muitos motoristas que passam pelo TC nem se lembram dos cadeirantes. Talvez, uma placa pudesse sinalizar a real utilidade do TC como um processo educativo, (não sei pois não sou especialista na área e fico com receio de complicar mais ainda as coisas).
De qualquer maneira e apesar dos seus argumentos, como sempre muito convicentes, ainda fico com a idéia de que o TC possa ser um primeiro passo, que necessita de outros para o seu aprimoramento e utilização e alcance dos objetivos.
Nessa concordo com voce e genero e número, menos no degrau...
abração
Rubens,
ResponderExcluirDesde o seu primeiro artigo concordei com a não necessidade da implantação do TC naquele local, já que existe semáforo e tempo para os pedestres atravessarem. É "chover no molhado" ao meu entender. Creio que para se ter os mesmos benefícios que tem o TC em frente ao Pálace, o local que hoje realmente precisa é na R.Junqueiras mesmo, em frente ä sec.Saúde ou em frente ä Fonte do Leãozinho, local aonde muitas pessoas atravessam sem a devida segurança.
Abraço, Lêda Krauss
Reitero meu apoio a sua critica.
ResponderExcluirSolucao certa no lugar errado.