sexta-feira, 25 de setembro de 2009

CHEIRO DE PAPEL RASGADO

Semana histórica na política de Poços. Não por algum grande feito pioneiro, mas por uma sucessão de trapalhadas que, não fosse assunto gravíssimo, beiraria uma daquelas comédias de Laurel & Hardy.
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Começou na terça-feira 22/9 com um pedido de "intervenção estadual" (podem chamar de inspeção, avaliação aprofundada, o eufemismo que quiserem -é uma intervenção sim) do TCE – Tribunal de Contas do Estado, na análise das contas do contrato que havia entre a prefeitura e o Instituto Sollus, rescindido súbita e recentemente pela primeira parte. O pedido foi instruído por discurso inflamado do vereador petista Flávio Faria -o único “oposicionista” da Câmara a merecer esse adjetivo. Na mesma moeda, ou chama, governistas manifestaram-se contrários à proposta, inclusive com argumentos claudicantes como “a manutenção da discussão no âmbito municipal, de modo a evitar uma prejudicial exposição do município”. Misteriosamente, as gravações de áudio da sessão não estavam disponíveis no site da Câmara, até o fechamento desse post.
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Engrossando o fubá com cimento, o vereador petista trouxe ainda material publicado na imprensa gaúcha, mostrando que em Porto Alegre o mesmo instituto passa por severa auditoria, investigando alegados desvios na gestão dos PSFs.
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Seria o suficiente, não fosse o “fogo amigo” disparado da mesa diretora da Câmara: a votação pela aprovação ou não do pedido terminou empatada -Poços tem 12 vereadores, 11 votam regularmente e, em caso de empate, o presidente da Casa tem a prerrogativa do “voto de minerva”. Num gesto de raro desprendimento total e inesperado para com seu partido (PPS, o mesmo do prefeito) e em relação à sua posição de integrante da maioria governista, Marcus Togni decidiu a votação em favor do pedido do petista, justificando que “a Câmara deve ser leal à população”. Atitude muito elogiável do presidente, ainda mais quando o padrão nesses casos é o "engavetamento" da matéria.
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É importante lembrar que na ocasião da votação, o prefeito Paulo César Silva e o vereador Waldemar Lemes estavam em Mount Vernon-NY, cuidando dos muitos interesses dos poçoscaldenses que para lá emigraram. A ausência do vereador abriu caminho para o empate na votação. Já a ausência do prefeito abriu caminho para um erro político-estratégico colossal.
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Até aqui o imbróglio já voava mais alto que o jato d´água da Fonte Luminosa -quando esta funciona. Antes mesmo que terminasse a sessão ordinária da Câmara, a prefeitura, ligeira como um corisco protocolou, decorridos cerca de 20 minutos da aprovação do pedido petista, um oficio assinado pela prefeita em exercício, Gláucia Boaretto, encaminhando “alguns” documentos relativos ao pedido anterior de informações, formalizado também por Flávio Faria, para o qual ele (e o povo de Poços) aguardava resposta desde março. A leitura desse oficío da vice-prefeita corresponde ao corte definitivo da água da Fonte em plena exibição, arranhando para sempre o CD que anima as estrepolias aquáticas no Parque Affonso Junqueira. Acredite, caro leitor, mas o tal ofício informa que “as prestações de contas referentes aos meses de outubro 2007, janeiro, fevereiro e março de 2008 foram extraviadas”. Sumiram. Desapareceram. Escafederam-se.
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Inspeção do TCE, diante disso, é muito pouco. Tropas estaduais, blindados, juntas de juízes tomando de assalto os prédios oficiais, para evitar novos “extravios”, todos seriam benvindos. Veio então da própria Francisco Salles a “prejudicial exposição do município” que os vereadores da situação tentaram a todo custo evitar.
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Parece que a prefeitura fala de duas ou três folhinhas, mas não é bem assim. O vereador Flávio argumenta que a prefeitura alegara demora no envio das informações porque era um grande número de cópias -três mil! Fazendo uma continha de boteco: o vereador pediu informações das contas de seis meses, o que daria uma média de 500 páginas para cada mês. “Extraviados” quatro meses de documentos, falamos de cerca de 2.000 páginas, o que dá uma pilha de papel de uns 20 cm de altura! Sumiu de uma vez ou "picadinho"? Será que venta muito por lá? Poderiam fazer uma licitação para a compra de pesos de papel para resolver o problema...
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A tragédia do ofício da prefeitura continua: “foi solicitado junto ao Instituto Sollus a reapresentação das prestações de contas extraviadas, que, tão logo sejam recebidas, serão levadas ao conhecimento do Vereador”. Inacreditável. Se alguém me contasse confesso que não acreditaria, mas está lá. Parece piada. Imagine um hipotético telefonema: “alô, é do Instituto Sollus? Olha, tem um vereador aqui querendo ver as prestações de contas de vocês mas nós perdemos. Será que vocês poderiam mandar tudo de novo?”.
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O amigo leitor está com o queixo caído? Calma, tem mais. Segure a mandíbula aí. O mesmo ofício assinado pela vice fulmina com essa: independente de ser ou não atendida a solicitação de novas cópias, “o Secretário Municipal de Controle Interno deteminou a localização das referidas prestações de contas” e, caso a montanha de papel não apareça, “será aberto processo de sindicância para apuração de respnsabilidade”. Ufa, agora sim podemos botar o nariz para fora do chafariz e respirar aliviados: “É bom acharem, ou vamos investigar!”. É o que de melhor poderia acontecer nesse caso...
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O assunto promete ter desdobramento nacional, já que não se limita geograficamente ao planalto de Poços de Caldas, tendo chegado aos pampas gaúchos. Encrenca pesada para o prefeito, que certamente deve ter perdido o sorriso que esbanja em uma notícia publicada no site do próprio Instituto Sollus.
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Confira o semblante oficial em:
Atualizando: de volta dos EUA, o prefeito concedeu entrevista coletiva sobre o assunto. Disse achar estranho que o vereador tenha pedido justamente a documentação que sumiu, questionando até se eventualmente ele não saberia onde está. Foi longe demais. Poderia ter explicado como é que uma documentação dessa importância some de um lugar que se presume inviolável -uma repartição pública. Também poderia ter explicado o fato dessa documentação não ter sequer uma cópia ou contabilidade eletrônica, bem como a "coincidência" do ofício assinado por sua vice ter chegado logo após a aprovação do pedido na Câmara. Agora é só esperar a reação da oposição.
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2 comentários:

  1. vale lembrar que o mesmo Instituto Sollus é o que 'cuidava' e administrava a Saúde da nossa cidade !
    É injustificável continuar tapando o sol com a peneira !

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  2. Aguardemos os próximos passos dessa comédia pastelão.
    Você Caruso, bem que poderia fazer uma enquete.
    Em quem o grupo que controla a cidade colocará a culpa pelo sumiço dos papéis?

    1- No vereador Flávio, afinal ele solicitou justamente os documentos extraviados (ou foram extraviados exatamente os documentos que ele solicitou???)!!!
    2- No antigo Conselho de Saúde, presidido por Eloisio Lourenço, afinal ele é um petista, e isso já é o bastante para estar presente no Tribunal do Santo Oficio sentado no banco dos réus!!!
    3- Na administração Paulo Tadeu, a grande responsável por tudo de errado que já aconteceu nesse pequeno paraíso na Terra conhecida como Poços de Caldas. Aliás, Paulo Tadeu é também, não nos esqueçamos, responsável pelas 7 Pragas do Egito, pela crucificação de Jesus, pela invasão da Polônia e claro, pelo 11 de Setembro.

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