terça-feira, 9 de março de 2010

NIEMEYER E O PAÇO DE AÉCIO


Qualquer semelhança com o nosso "Paço Municipal", guardadas as devidas proporções, não é nenhuma coincidência. Reproduzo artigo publicado na Folha de São Paulo semana passada, aliás o mesmo jornal "mais ou menos lido", usando expressão de uma autoridade municipal para enfatizar, tempos atrás, a "enorme" importância do galã Brad Pitt ter visitado um projeto de Niemeyer na Espanha. Se vale a favor, também vale contra. Confira:
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Ao mirar o futuro, Aécio acertou o passado
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Fernando Serapião, especial para a Folha
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Na gravura "O quarto do arquiteto", de Lina Bo Bardi, a arquiteta do Masp criou uma cena com armário entreaberto, mesa com cadeira e uma prateleira. Os personagens são maquetes de edifícios em diferentes estilos. Uma possível interpretação irônica da obra é que os arquitetos possuem soluções guardadas nas gavetas e as utilizam conforme a necessidade. Lembro-me disso diante da nova obra de Oscar Niemeyer.
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A Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves é composta por cinco edifícios, encomendados pelo governador Aécio Neves para reunir no extremo norte de Belo Horizonte mais de 40 órgãos estaduais. São três motivos alegados: induzir o desenvolvimento da região, diminuir despesas (principalmente aluguéis) e facilitar a gestão com a convivência entre funcionários. À primeira vista, principalmente se observado por dentro, tudo é uma maravilha: os móveis são novos, os equipamentos, sofisticados, e os espaços, confortáveis -como nas melhores empresas privadas.
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Contudo, do ponto de vista arquitetônico não há novidade. O prédio mais imponente abriga o gabinete do governador. É um edifício envidraçado de quatro andares que fica pendurado por estrutura externa. Com mais graça, tal solução foi utilizada por Niemeyer há 40 anos para uma editora na Itália.
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Louvando o novo prédio, o arquiteto e o calculista afirmam que ele é "o maior edifício suspenso do mundo". E daí? Eles se vangloriam como se o ineditismo técnico fosse de suma importância para o futuro da humanidade. Gastando energia em retórica desgastada, Niemeyer deixa de lado questões atuais como a eficiência energética - o complexo tem a maior área de vidros da América Latina. Fachadas envidraçadas voltadas para as faces ensolaradas, por exemplo, é um erro primário que exigirá mais energia do ar-condicionado.
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Os dois edifícios maiores são destinados às secretarias. Gêmeos, eles são gigantescos e curvos - e também foram retirados das "gavetas" do arquiteto. Eles têm proporção semelhante de um hotel em Petrópolis, desenhado em 1950. Por fim, além de um auditório pouco gracioso, o conjunto é completo por um centro de convivência, com restaurantes e lojas, que pretende substituir a rua - o espaço primordial de convivência urbana.
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E é justamente aí que está o maior problema. Se a arquitetura é requintada, a ideia de pensar em centro administrativo longínquo é tão nova quanto o bonde. Urbanisticamente, é um desastre. O governo deveria permanecer na região central, renovando edifícios subutilizados e incrementando a vida urbana.
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Ao deixar os edifícios da praça da Liberdade para atividades culturais, serão empobrecidos o uso e a diversidade local. Se na era da revolução das telecomunicações é estranho falar da necessidade do contato físico, para ajudar a desenvolver a periferia seria mais útil financiar transporte coletivo de massa. Claro, daria mais trabalho e menor visibilidade.
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Infelizmente, há 50 anos os políticos acreditam na mística de perpetuar-se com um postal de Niemeyer a fim de repetir a trajetória daquele que encomendou Pampulha e Brasília (raríssimos são os que apostam na capacidade arquitetônica de sua própria geração). Aécio Neves cometeu o mesmo erro: mirando o futuro, ele acertou o passado.
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Fernando Serapião é arquiteto e editor executivo da revista Projeto Design.
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Incríveis as semelhanças, em especial nos três motivos alegados: "induzir o desenvolvimento da região, diminuir despesas (principalmente aluguéis) e facilitar a gestão com a convivência entre funcionários" . Só faltou dizerem que o trânsito no centro de Belo Horizonte vai melhorar. O que se tem certeza é que a conta do projeto -fala-se em 1 bilhão e 600 milhões de reais- vai ser paga pelo Povo. Assinando um cheque desse tamanho, o local deveria se chamar "Cidade Administrativa Povo Mineiro". Mas a homenagem ficou mesmo para Tancredo Neves. E nós, vamos homenagear quem em nosso Paço? Sua opinião é importante.
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6 comentários:

  1. Até me arrepio só de imaginar os possíveis "homenageados"...se bobear eles colocam de novo até nome de gente ainda viva...como é o caso do estádio municipal

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  2. Caruso,
    você não vai escrever nada sobre a integração? está visitando as estações e fazendo as fotos?

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  3. Minha sugestao seria Paco Municipal Palhaco Arrelia, simbolizando todos os palhacos dos cidadaos que com seus suados impostos vao pagar pela "viajada na maionese" de nossos "responsaveis" representantes.

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  4. Querido Caruso gostaria de lhe adiantar a lista ...Molinari, Junqueira, Mantovani, Cansado, Cioffi... quer mais?

    Abraço.

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  5. Junior,
    O site da folha de Sao Paulo de hoje 11/03/2010 tem um artigo com pontos de vista de um engenheiro bastante elucidativos sobre a obra do Arquiteto Niemyer em Belo Horizonte relacionados com o aspecto arquitetonico e o aspecto de desenvolvimento a longo prazo da cidade.

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1103201021.htm

    ANÁLISE

    Obra tem olhos voltados ao futuro
    JOSÉ CARLOS SUSSEKIND ESPECIAL PARA A FOLHA

    JOSÉ CARLOS SUSSEKIND é professor, engenheiro e responsável pela concepção estrutural dos projetos de Oscar Niemeyer.

    Edgard

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  6. Um dos maiores argumentos da administração atual é a falta de verbas, o prefeitura com certeza não está em um de seus melhores momentos econômicos, até mesmo a sec. de turismo chegou a citar a falta de verbas, e ainda comentar que é por causa da divida da administração passada, ehehehee (que foi o pai dela quem deixou), agora imaginem,se estamos tão no vermelho, por que insistem em jogar dinheiro fora com um projeto desses?

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