Sempre que deparo com notícias de terremotos fico triste, pelas vidas que se perdem num fenômeno natural tão colossal quanto imprevisível. Mais triste ainda é quando acontece em algum lugar onde já estive, caso do Chile, atingido nesse final de semana.
.
Sou testemunha de um terremoto e vou dividir um pouco dessa experiência, embora não seja um assunto específico de Poços, como tenho por regra tratar.
.
Em janeiro de 1994, eu e meu irmão Ricardo estávamos nos EUA numa espécie de "férias a trabalho". Ele, ainda editor de uma revista especializada em automóveis, hoje "amiga-concorrente" da nossa Auto & Técnica, estava em busca de material sobre antigomobilismo -verbete oficializado nos dicionários contemporâneos, que define o gosto, conhecimento ou participação na área de carros antigos- além da oportunidade de testar o então novíssimo Ford Mustang, clássico norte-americano que ressurgia do limbo com desenho inspirado nos modelos do passado. Eu, fora a viagem de turismo, tinha como objetivo visitar uma feira da indústria eletrônica em Las Vegas, já que à época trabalhava no Marketing da Sharp, gigante da indústria eletrônica. Ambos estávamos em férias, mas com um olhar sobre os compromissos profissionais, hábito mantido até hoje.
.
Dia 16 de janeiro de 1994. Estávamos hospedados num desses hotéis pequenos de Los Angeles, na sempre interessante California. Prédio de dois andares, bem arrumado apesar de barato. O gerente era um indiano engraçado, que nos cumprimentava com um escandaloso sorriso enquanto dizia em inglês com sotaque carregadíssimo "gud mórrrnin mai frends frrrrom Brazil, uélcomi to our interrrrnational brreakfast"!. O café da manhã "internacional" na verdade era composto de uma garrafa térmica, uma torradeira, uma ou outra geleia e só. Mas conversar com aquele sujeito e entender como é que ele deixou a India e foi parar nos Estados Unidos valia o café ruim. Nem lembro bem qual foi nossa agenda naquele dia, mas sei que já estávamos com o novo carro, um autêntico "turn-heads", pois por onde passávamos as pessoas viravam e olhavam com atenção para a novidade. Voltamos à noite para o hotel, banho e cama.
.
No meio da madrugada, por volta das 4:30, acordei com uma sensação estranha. Chamei meu irmão, que dormia pesado, e então aconteceu o tremor. A melhor forma que encontrei para descrever aqueles intermináveis 15 ou 20 segundos foi imaginar que um trem com muitos vagões estava passando ao lado do quarto em alta velocidade. Sem muita reação e diante do encontro com o desconhecido, não tivemos qualquer atitude a não ser observar as paredes mexendo e o aparelho de tv que insistia em balançar mas não caía. O hotel idem: balançou, balançou, mas não caiu. Mais tarde fomos entender a razão de utilizarem estrutura "flexível", de madeira. Sem ter noção da magnitude do terremoto, que chegou 6.7 na escala Richter, que vai até 9, continuamos ali, dormindo "mas não muito" entre um e outro "after-shock", pequenos mas inconvenientes tremores que seguem o principal.
.
No dia seguinte, saímos cedo na intenção de aproveitar o belo dia para uma sessão de fotos do Mustang. Los Angeles estava incrivelmente calma para um segunda-feira. Não sabíamos, mas era feriado nacional, o "Martin Luther King Day", comemorado sempre na terceira segunda-feira de janeiro. Paramos para um café e, na tv, soubemos da extensão dos danos: mortos, feridos, desbamentos, incêndios. O epicentro foi no Vale de San Fernando, a cerca de 40 km de Los Angeles. Uma das imagens (foto acima) mais tristes, e bastante repetida, mostrava o viaduto de uma free-way desabado, que custou a vida de um policial motociclista, incapaz de perceber, no escuro, que a pista à frente havia desaparecido.
.
Nossa primeira ação foi tentar contatar a família no Brasil. Num tempo em que celular ainda era novidade, o meio era o telefone público, que informava que as ligações estavam disponíveis apenas para serviços de emergência. Muito justo. Mais tarde, conseguimos avisar que estávamos bem e, apesar das imagens mostradas no Brasil, Los Angeles não estava em escombros.
.
Final de férias melancólico, tínhamos passagens de volta ao Brasi para o dia seguinte. O aeroporto estava em situação caótica, mais ou menos o que veríamos no apagão aéreo brasileiro, guardadas as propoções da tragédia. Antes do embarque ainda observamos três figurões da tv brasileira protagonizando alguns chiliques diante da indisponibilidade de passagens para atender seus desejos de sumir imediatamente de lá.
.
Esse é meu modesto relato. Nada que se possa comparar com os dos que vivem (e morrem) em áreas devastadas por terremotos, caso recente do Haiti e do Chile, o primeiro completamente desestruturado já antes antes da tragédia, o segundo com programas de emergência e dinheiro em caixa, resultando certamente em menos mortes, ou Los Angeles, que tem terremotos diariamente.
.
Relendo hoje sobre o terremoto de 1994, é possível saber que 72 pessoas morreram, cerca de 9 mil ficaram feridas e o prejuízo estimado beirou os 20 bilhões de dólares. Eu e meu irmão tivemos sorte de não estar nas estatísticas acima.
.
.
Em janeiro de 1994, eu e meu irmão Ricardo estávamos nos EUA numa espécie de "férias a trabalho". Ele, ainda editor de uma revista especializada em automóveis, hoje "amiga-concorrente" da nossa Auto & Técnica, estava em busca de material sobre antigomobilismo -verbete oficializado nos dicionários contemporâneos, que define o gosto, conhecimento ou participação na área de carros antigos- além da oportunidade de testar o então novíssimo Ford Mustang, clássico norte-americano que ressurgia do limbo com desenho inspirado nos modelos do passado. Eu, fora a viagem de turismo, tinha como objetivo visitar uma feira da indústria eletrônica em Las Vegas, já que à época trabalhava no Marketing da Sharp, gigante da indústria eletrônica. Ambos estávamos em férias, mas com um olhar sobre os compromissos profissionais, hábito mantido até hoje.
.
Dia 16 de janeiro de 1994. Estávamos hospedados num desses hotéis pequenos de Los Angeles, na sempre interessante California. Prédio de dois andares, bem arrumado apesar de barato. O gerente era um indiano engraçado, que nos cumprimentava com um escandaloso sorriso enquanto dizia em inglês com sotaque carregadíssimo "gud mórrrnin mai frends frrrrom Brazil, uélcomi to our interrrrnational brreakfast"!. O café da manhã "internacional" na verdade era composto de uma garrafa térmica, uma torradeira, uma ou outra geleia e só. Mas conversar com aquele sujeito e entender como é que ele deixou a India e foi parar nos Estados Unidos valia o café ruim. Nem lembro bem qual foi nossa agenda naquele dia, mas sei que já estávamos com o novo carro, um autêntico "turn-heads", pois por onde passávamos as pessoas viravam e olhavam com atenção para a novidade. Voltamos à noite para o hotel, banho e cama.
.
No meio da madrugada, por volta das 4:30, acordei com uma sensação estranha. Chamei meu irmão, que dormia pesado, e então aconteceu o tremor. A melhor forma que encontrei para descrever aqueles intermináveis 15 ou 20 segundos foi imaginar que um trem com muitos vagões estava passando ao lado do quarto em alta velocidade. Sem muita reação e diante do encontro com o desconhecido, não tivemos qualquer atitude a não ser observar as paredes mexendo e o aparelho de tv que insistia em balançar mas não caía. O hotel idem: balançou, balançou, mas não caiu. Mais tarde fomos entender a razão de utilizarem estrutura "flexível", de madeira. Sem ter noção da magnitude do terremoto, que chegou 6.7 na escala Richter, que vai até 9, continuamos ali, dormindo "mas não muito" entre um e outro "after-shock", pequenos mas inconvenientes tremores que seguem o principal.
.
No dia seguinte, saímos cedo na intenção de aproveitar o belo dia para uma sessão de fotos do Mustang. Los Angeles estava incrivelmente calma para um segunda-feira. Não sabíamos, mas era feriado nacional, o "Martin Luther King Day", comemorado sempre na terceira segunda-feira de janeiro. Paramos para um café e, na tv, soubemos da extensão dos danos: mortos, feridos, desbamentos, incêndios. O epicentro foi no Vale de San Fernando, a cerca de 40 km de Los Angeles. Uma das imagens (foto acima) mais tristes, e bastante repetida, mostrava o viaduto de uma free-way desabado, que custou a vida de um policial motociclista, incapaz de perceber, no escuro, que a pista à frente havia desaparecido.
.
Nossa primeira ação foi tentar contatar a família no Brasil. Num tempo em que celular ainda era novidade, o meio era o telefone público, que informava que as ligações estavam disponíveis apenas para serviços de emergência. Muito justo. Mais tarde, conseguimos avisar que estávamos bem e, apesar das imagens mostradas no Brasil, Los Angeles não estava em escombros.
.
Final de férias melancólico, tínhamos passagens de volta ao Brasi para o dia seguinte. O aeroporto estava em situação caótica, mais ou menos o que veríamos no apagão aéreo brasileiro, guardadas as propoções da tragédia. Antes do embarque ainda observamos três figurões da tv brasileira protagonizando alguns chiliques diante da indisponibilidade de passagens para atender seus desejos de sumir imediatamente de lá.
.
Esse é meu modesto relato. Nada que se possa comparar com os dos que vivem (e morrem) em áreas devastadas por terremotos, caso recente do Haiti e do Chile, o primeiro completamente desestruturado já antes antes da tragédia, o segundo com programas de emergência e dinheiro em caixa, resultando certamente em menos mortes, ou Los Angeles, que tem terremotos diariamente.
.
Relendo hoje sobre o terremoto de 1994, é possível saber que 72 pessoas morreram, cerca de 9 mil ficaram feridas e o prejuízo estimado beirou os 20 bilhões de dólares. Eu e meu irmão tivemos sorte de não estar nas estatísticas acima.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário