quarta-feira, 14 de abril de 2010

“SE POLÍTICO PEGASSE ÔNIBUS...”


Foi com a frase acima que o CQC, da Band, encerrou a matéria sobre o transporte público em Poços de Caldas, veiculada em 12 de abril. Depois de ver e rever a reportagem, penso que não era assunto para mídia nacional, mas um problema de circunscrição municipal, que deveria ter sido resolvido dentro de nossa cerca. Impossível pensar em qualquer comparação com o primeiro Proteste Já pós-férias do programa, que mostrou a prefeitura de Barueri, SP, caindo numa bem preparada armadilha com a doação de um aparelho de tv à Secretaria de Educação que, devidamente equipada com rastreador GPS, acabou na casa de uma funcionária de uma escola daquela cidade. O nosso caso, longe de subestimar, do ponto de vista do espetáculo, do peso, era mais fraco. Por isso achei que o material não iria ao ar. Errei.
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Na pauta sobre Poços de Caldas, feliz e habilmente a produção do programa tirou as veias político-partidária e festiva do assunto -claro que há, justas e democráticas- além dos jovens que foram à Câmara Municipal com suas câmeras digitais para se fotografarem ao lado de Danilo Gentili, ou algum discurso mais inflamado de um vereador querendo aproveitar o holofote. Tudo isso foi deixado de lado. Na prática, a confusão criada numa pequena cidade do interior de Minas Gerais serviu de âncora para a discussão proposta por Marcelo Tas: “o transporte público no Brasil geralmente é um lixo”, disse o ex-Ernesto Varela e Professor Tibúrcio.
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Lamentável foi o “debate” protagonizado entre nosso prefeito e o dono da empresa de ônibus, caricaturado na imagem acima. Ambos sempre caminharam lado a lado no assunto, demonstrando sozinhos certa harmonia, mas na hora “h” acabaram perdidos em suas falas pela pura falta de conhecimento de como se apresentar diante de um jornalista que “bate forte”. Faltou até mesmo quem os orientasse na questão da postura -desde o prefeito com seu indefectível terno cinza (ora desabotoado) começando a fala com seu tradicional “é uma alegria receber vocês aqui” ou o empresário com olhar assustado concedendo entrevista em local inadequado, semelhante a um depósito de caixas velhas. O prefeito ainda fez um lacônico “pedido” ao final de sua entrevista: que voltem a falar com ele caso retornem à cidade para conferir a promessa de que a situação estaria totalmente resolvida até 23 de abril próximo, enquanto o empresário virava as costas e abandonava a entrevista. Era tudo que o repórter queria: ser deixado falando sozinho, não sem antes arrancar a contradição à fala do prefeito.
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Se um emissário oficial esteve no hotel para dar boas vindas a Gentili, poderia ter usado toda essa sua engenhosidade matreira para sintonizar os discursos, de modo que as entrevistas não acabassem como acabaram. Bastava marcarem com o repórter a hora da entrevista, recebê-lo em condições dignas, apresentar e ponderar o todo do projeto e, principalmente, ter humildade de assumir os erros desse trabalho, como fez ainda que tardiamente o prefeito em sua fala.
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O pastelão, produzido pela inépcia da própria Municipalidade não antevendo as dificuldades e problemas que a implantação do novo sistema poderiam trazer (e trouxeram, as muitas modificações e aquisições de veículos provam os erros), bem como a demora para corrigir e não levar em conta que a “manifestação de garotos” poderia crescer e ir para a grande mídia, foi bem ilustrado por uma inusitada competição “charrete x ônibus”. Nós, poçoscaldenses, sabemos que a comparação é equivocada, já que charretes não têm itinerário nem param em pontos. Do ponto de vista da plástica, da comoção, um show.
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“Falem mal, mas falem de mim”. Pode parecer que fiquei maluco, mas acho que a reportagem vai trazer benefícios para a cidade no campo do turismo. Mostrou belas paisagens como a vista do alto da Serra ou o bucolismo de Poços e seus passeios de charretes. Internamente, o caso CQC representa desgaste político para a figura do prefeito, que contava apenas com o dono da empresa nessa luta contra os leões. De acordo com a reportagem de capa do Jornal de Poços de hoje, o chefe do executivo “assumiu a responsabilidade” que, na verdade, sempre foi da Prefeitura -falei isso uma dúzia de vezes aqui. Reconheceu ainda na entrevista a queda de popularidade, o que pode custar caro aos seus aliados em ano de eleição para deputados estaduais e federais. Tudo isso depois de dizer a Gentili que “temos cobrado a empresa para que corrija” e “a população tem toda razão”. Cabeça fria mostra que humanos erram. Melhor ainda é quando corrigem os erros. Nesse ponto a entrevista do prefeito foi positiva.
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Vereadores, esses devem estar felizes, depois da deplorável “lavada de mãos” que protagonizaram, incluindo a publicação de uma uma nota oficial tentando inutilmente explicar a ausência de Suas Excelências no assunto. Ignorados pela reportagem, no quesito transporte nossos legisladores andam mais entretidos com a licitação para locação de 12 vagas de estacionamento para seus ”possantes”. Tíquetes aos cuidados do povo, claro.
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O assunto CQC vai render durante muitos anos, e certamente a oposição manterá as imagens em seus arquivos, lembrando sempre que necessário e conveniente o dia em que fomos levados à mídia nacional por um assunto que poderia ter sido liquidado na origem. Não temos nada o que comemorar. A hora é de humildade, de todos os lados, diante da exposição que tivemos frente a um grave e inegável problema local. E fazer desse abacaxi uma boa limonada, não sem antes dar à população a ciência exata do projeto de integração, com a base de dados real, disponível nas planilhas que empresa e prefeitura compartilham.
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Festejar um inimigo ou adversário apanhando nacionalmente não é mérito para ninguém. Nem fará Poços de Caldas crescer ou ser melhor.
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O vídeo com a reportagem, de cerca de 11 minutos, está em:

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11 comentários:

  1. Luciano Vieira da Silva15 de abril de 2010 às 08:57

    Caruso enquanto perdurar a mentira, vaidade e as retaliações aos organizadores do movimento os protestos se estenderão.
    Para você ter uma dimensão do que ocorre, no programa do vereador Antônio Carlos o mesmo fez uma afirmação, nesta terça-feira (13/04), que é no mínimo ridícula "temos que saber quem são esses professores que estão nesse movimento contra a Circullare, saber o que eles estão ensinando nas salas de aula, se estão trabalhando ou fazendo protesto no horário de serviço". Coincidência ou não - e certamente que não, na segunda-feira (11) minha esposa foi demitida, sumariamente, da assessoria da vereadora Ciça, de quem eu fiz toda campanha desde colocar papel escrito para ela falar na TV e nos comícios até slogan, estratégia e corpo-a-corpo. O vereador Waldemar fez ouvir ontem (14) que a demissão da minha esposa se deu por minha causa.
    Então Caruso o que está por trás dessa situação toda não é só uma crise de transporte. É uma ideologia velha, opressora, tirana que já tirou do ar e do emprego reporter da Difusora; que ameaça meus amigos professores e toliu o emprego da minha esposa. E olha que Ciça foi eleita na coligação do Paulo Tadeu (depois o Paulo que não presta, como eles dizem).
    É muito feio isso tudo, é ruim ter que enfrentar Promotor demagogo, prefeito covarde e empresário ganancioso.
    Ontem (14) eu e o professor Hudson (quem eles querem perseguir) entregamos mais 1 mil panfletos na Zona Sul sobre a situação do transporte, não foi surpresa os abraços e aplausos que recebemos de gente humilde, idosa e que está se sentindo isolada, à margem.
    Isso está custando um preço alto nas nossas vidas, essa função é do MP, da Câmara e não somente nossa.
    Hoje, lutamos contra o escárnio da imprensa (Mantiqueira), contra a inércia do promotor Sidney, os arranjos do prefeitos e seus súditos e a força do dinheiro do Flávio Cançado.
    Isso será evidenciado também para que o povo saiba que liberdade e respeito são ingredientes que faltam na política local.

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  2. Perfeita sua análise Caruso, parabens!

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  3. Caruso

    Problemas, e dos mais variados tipos, todas as cidades possuem os seus. O que realmente muda é a forma como o poder público age para equacioná-los. Faltou humildade e hombridade às autoridades poçoscaldenses (e ao Flávio Cançado também) para assumirem que as mudanças ocorridas no transporte público local geraram um verdadeiro caos. E, ao não assumirem o caos e tampouco a responsabilidade por ele, mostraram-se ineptos, arrogantes e amadores, fazendo com que o problema tomasse dimensões cada vez maiores.

    Já a imprensa local só noticia aquilo que não contraria os interesses de seus anunciantes. Como a Prefeitura Municipal e Circullare estão entre os maiores anunciantes, está aí a explicação para a quase inexistência de críticas a ambas. No mais, me parece dum provincianismo boçal e ufanista a imprensa local dizer que a matéria prejudicou a imagem de Poços de Caldas. (Aliás, muito se tem falado que a Prefeitura passará por um arrocho nesse ano, poderia começar cortando verbas de publicidade.)

    Quanto ao que o Luciano escreveu, realmente recebemos abraços e aplausos na Zona Sul, mas andando pelo centro da cidade ontem, várias pessoas, das mais diversas classes sociais, comentaram comigo sobre o caos do transporte público.

    Por último, realmente há em Poços de Caldas pessoas que não aprenderam a viver num regime democrático e plural e que acham que podem sair por aí ameaçando quem não comunga de suas idéias.

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  4. Hudson, a generalização, quando você afirma que "a imprensa local só noticia aquilo que não contraria os interesses de seus anunciantes", soa mal. É preciso distinguir também, com clareza, o jormalismo noticioso do opinativo. Mesmo assim, a opinião é personalíssima, nem sempre refletindo nossas ideias, correntes ou linhas de pensamento.

    Saudações,

    Rubens Caruso Jr.

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  5. Querido Caruso, já te disse isto outras vezes e sempre vou dizer, você é uma das pessoas mais coerentes do meio jornalístico, pena que não possui um jornal próprio, a cidade já ganhou muito com seu carinho, sua seriedade, cidadania e "Amor" verdadeiro.

    Queria muito ler diariamente um jornal impresso com a sua assinatura, continue sendo a pessoa que é, seus valores serão lembrados pelas pessoas de bom senso para as nossas gerações futuras.

    "Se todo cidadão Poços Caldense fosse como você Poços seria muito melhor"

    De uma pessoa que é feliz por poder te chamar de "Amigo".

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  6. por que será que comentando só tem petista magoado???

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  7. O problema é que o sistema integrado em poços, deixou de ser um problema do transporte coletivo, para se tornar "bandeira" para fins pessoais e partidários, tanto da situação, quanto da oposição. Virou pulpito de discursos inflamados, ringue para ofensas pessoais, escada para eleições futuras. Assim, tudo se dilui e se confunde. O Sistema Integrado tem problemas? Sim. Então, vamos buscar as soluções: com a empresa, com a prefeitura, com o ministério público, com a comunidade. Mas, não é isso que vemos. Tudo se resume em: Tiranos x vassalos, Bons x maus, Situação x oposição, culpados x inocentes. Enquanto persistir isto, o CQC cumprirá o seu papel: tentar "mediar" o que caberia a própria comunidade, se houvesse maturidade e bom senso. Menos "show" e mais seriedade.

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  8. Caruso,
    você diz de emissário oficial no hotel para falar com o reporter.
    A empresa parece que não tem assessoria de imprensa (se tiver é incompetente) A assessoria de comunicação da prefeitura, de jornalismo não entende nada. Esperar o que??? Se não conseguem cavar notícias positivas da cidade... "Falem mal mas falem de mim".

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  9. Luciano Vieira da Silva16 de abril de 2010 às 21:12

    Aos Anônimos...
    Não sou de comentar nesse blog mas admiro, mesmo sem conhecer, o Caruso - vc é muito criativo.
    A questão da filiação partidária é assunto superado na política atual, não local. Política é construção e competência na minha opinião.
    Adversidades são legítimas, debates são legítimos. Política também é discurso e ação.
    Fidelidade é fundamental e vai além de filiação partidária. No meu ponto de vista, a gente traça um projeto, concorda (no sentido literal) e vai até o fim.
    Por que ingressei na questão do SIGA? Minhas filhas estudam e usam o transporte. Já passaram dificuldades no ônibus e tiveram que vim a pé. No tocante a família a história muda de conversa.
    Por que destilei no teclado a minha ira? Porque criei uma ong; fiz e escrevi um jornal; debati com o ex-prefeito Navarro pelas páginas; tudo dentro do limite da tolerância. O ex-prefeito fiel aos seus conceitos e amigos, eu fiel aos meus. Lancei a campanha de COMBATE A CORRUPÇÃO. Trouxe a Caravana da Corrupção. Toda essa logística caiu no colo da ex-artesã Ciça que em duas campanhas teve 200 e 300 votos respectivamente. Saltou para 1108 votos. O "EU ACREDITO NA VERDADE, EU ACREDITO EM VOCÊ!" surgiu na minha mente a partir de um sucesso no cinema que antecedeu as eleições - aproveitei o gancho e a força da "telona".
    Agora TRAIÇÃO é inadmissível. Os prefeitos e vereadores que passaram pela minha vista e que de um forma ou outra tive algum embate, em nenhum deles presenciei tamanha TRAIÇÃO. Uma coisa é o político ter know how e sair de um partido para outro. A outra é sair do nada, sem rumo algum, sem saber para onde ir e como chegar. Depois ter tudo isso no colo e mudar de vida, praticou o que tanto combatia - TRAIÇÃO. É o fim de uma carreira. Cadê o trombone?
    Então não se trata de petista, pessebista ou democrata, a prática já mostrou que tem mal caráter em tudo quanto é canto. Cada um sabe o que faz por si e pelos outros. O sucesso é o resultado da soma desse esforço.
    Quem viver verá!

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  10. Meu caro anônimo (16 de abril de 2010 01:03), fico surpreso e feliz com a coerência de sua opinião que por sinal é a mesma que a minha.

    Caruso, muito bom seu blog, textos e opiniões, parabéns! É a primeira vez que eu o leio.

    Lucciano, meu amigo, lamento muitíssimo a demissão de Nyvia, porém a passeata que vcs organizaram foi prematura, dando a perceber que existiam intenções eleitoreiras por trás do movimento. O povo não é tão ingênuo a ponto de não perceber tal manobra. Mas confesso que vcs contribuíram de forma espetacular para alcançar os objetivos de seu grupo político ao conseguir veicular tal fato na mídia nacional.

    Quanto a Circullare e as modificações, percebo que o usuário de transporte público já está se acostumando ao novo sistema, e tenho plena convicção que tudo se ajustará com o decorrer do tempo. Defendo a mudança sim do sistema pois o trânsito em Poços está cada vez pior. Mudanças radicais como esta precisam ser feitas. Gostaria tb que alguém acabasse com essas carroças turísticas que circulam pela João Pinheiro e pela Rua Assis. Podiam despachá-las pra Pocinhos do Rio Verde que não fariam falta alguma aqui.

    A Circullare, apesar de tudo, presta bons serviços a população. Poderíamos ter uma outra concessionária bem pior do que ela.

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  11. Nem vou rebater nada do que disse, só vou expor a realidade, essa empresa de onibuas é uma farça, o prefeitos tem laços com a empresa, pois mais parece um funcionario de tal.

    Esta um vergonha esse sistema na cidade, onde nada mudou, e ainda hoje, vi uma nota na prefeitura dizendo que o sistema vai mudar, onde por UMA PESQUISA FEITA COM A POPULAÇÃO, foi decidido fazer linhas de bairro, agora, sairem do centro e aumentar o valor para R$2.00 por vontade da população.
    Enquanto essa corrupçãozinha barata continuar a cidade vai ser uma lastima.

    É só desviando um pouco o foco, como uma cidade que tem o melhor indice de desenvolvimento humano tem um salario base de UM SALARIO MINIMO para maioria dos trabalhadores? Essa quem tem a audacia de explicar?

    Aqui nada mais é que uma cidade do interior que tem 150.000 hab. mas tem mentalidade de uma cidade com 5.000 hab nos anos 60.

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