domingo, 25 de abril de 2010

TRISTE SEXTA-FEIRA FOI AQUELA


Fabrício José Mendes. Nunca havia ouvido esse nome. Pelo menos até a última sexta-feira, 23 de abril, não. Quem o pronunciou pela primeira vez aos meus ouvidos foi o Paulo Sérgio, da Rádio Difusora, comovido e indignado durante seu programa diário. Fabrício era um jovem, um desses jovens diferentes que, diante de tantas opções que a vida apresenta, escolheu uma das mais emocionantes e, por isso mesmo, perigosas. Fabrício era Policial Militar. O Soldado Fabrício, "Maranhão" para os íntimos.
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Um rapaz que, quis o destino, cruzou o caminho de um certo "Maloca", ladrão com passagens por furto, o conhecido "155", referência ao artigo de numeração equivalente no Código Penal. Nesse encontro, Fabrício entregou a vida, levada pelas mãos de Maloca, fugitivo daquela piada poçoscaldense de mau gosto chamada Presídio. Maloca fugiu da cadeia na mesma semana do "encontro" com Fabrício, uma fuga em condições que ninguém, absolutamente ninguém, explicou dignamente. Maloca fuzilou quem estava na rua para, dia e noite, nos defender dos muitos Malocas que vagam pelos vales sombrios da marginalidade Brasil afora. Poços inlcusive.
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Na mesma sexta-feira, 23 de abril, enquanto centenas de policiais ainda pranteavam o companheiro tombado, no velho palacete da Francisco Salles acontecia uma coletiva de imprensa surreal, com a presença das maiores autoridades locais protagonizando uma cena dessa espécie de "espetáculo do crescimento sulfuroso", apresentando à mídia a "novidade" da implantação da Justiça Federal na cidade.  O fato é que a "grande notícia" já havia sido publicada um dia antes num jornal da capital e, para piorar, a vinda da Vara Federal não é imediata -está prevista para acontecer até 2014. E é fato também que, do alto de seu profissionalismo, os jornalistas lá se mantiveram, certamente com a mente na triste ocorrência policial. Louvo, pois, os colegas.
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"A vida continua". "A cidade não pode parar". "Fazer o quê?". Essas podem ser algumas frases que justifiquem em vão que, mesmo diante de uma cidade comovida, chocada e questionando se no lugar do policial a vítima de Maloca não poderia ter sido qualquer outro ou outros cidadãos, nossas autoridades fizeram palanque inoportunamente -para piorar, de um benefício que pode levar até quatro anos para acontecer.
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Vinte e três de abril. Dia do martírio de São Jorge. O dia em que o bravo Fabrício, sem lança e sem cavalo branco, domou o dragão. Verdadeiro guerreiro da fé, como São Jorge venceu contra o mal essa terrível batalha -colocar Maloca novamente atrás das grades.
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Com sua atitude, Fabrício é exemplo antes anônimo, agora imortal, da busca pelo bem sem renunciar ao combate. Sem palanque. Em silêncio.
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13 comentários:

  1. Querido Rubens,

    Não o conheço, mas também já o considero um jornalista iluminado por escrever exatamente o que todos que conheciam e amavam Fabrício José Menezes Mendes sentem e continuarão sentindo - um imenso amor, orgulho e saudades infinitas do sorriso, doçura, coragem e excepcional pessoa que era meu irmão. Amanhã deixarei Sevilha para estar no Brasil e na 'pacata e tranquila' Poços, uma cidade que nos deu tantas alegrias, mas que vitimou de forma trágica nosso irmão caçula, que se casaria agora em setembro com nossa não tão menos valente Daiana. É, meu irmão foi um policial puro, que nunca atirou em ninguém e, pode-se dizer que, seu único 'inimigo' foi este indivíduo que lhe tirou a vida aos 28 anos.

    Muito obrigada por suas palavras - com certeza me inspirará ainda mais a escrever o texto que lerei na missa de 7º dia que será realizada em POços de Caldas, na Igreja São Domingos, 5ª feira 29.04 às 19:00h. Agradeço a divulgação da missa no seu blog.
    Com o coração despedaçado,

    Giselle Menezes Mendes

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  2. Caro CAruso,
    respeito e entendo a dor dos familiares,colegas e amigos,mas infelizmente em nosso país tem virado frequencia esta barbarie contra os que deveriam nos proteger.Se todas as cidades que um PM for morto decretar feriado municipal ou mudar sua programação por causa deste tipo de desastre,teriamos cidades no Brasil com feriado todos os dias do ano.A cadeia precisa ser mudada faz pelo menos 10 anos,esse rapaz pagou pelo erro de pelo menos 3 administrações passadas.E essa em um ano apenas não poderia resolver esse problema,mas pelo menos esta tentando(se os vereadores e oposição deixarem)construir um presídio decente.Parabenizo o atual prefeito por essa tentativa que se os oposicionistas(vc inclusive) permitirem trara grande melhora na estrutura prisional da cidade.E sinceramente Caruso gostaria de saber como atual administração poderia ter evitado essa tragédia?

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  3. Nada como defender o indefensável, não é mesmo, meu caro amigo?
    Ainda acredito que construção de presídio não é a melhor solução. A solução está em construir uma cidade decente,com pessoas satisfeitas e que possam ser felizes. Para isso, precisa melhorar os postos de saúdes, as escolas, as condições de trabalho, salários, etc etc... Já fazem mais de 5 anos que nós, servidores municipais não temos aumento salarial... Quer que vivamos com dignidade como?
    CADEIA??? Não... cuide dos jovens.. das drogas... não queremos bandidos em nossa cidade, queremos soluções pros problemas que estão agora a nossa porta a qualquer hora do dia.
    Não basta tampar piscina e colocar polícia no lugar...

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  4. Faço das palavras da Kerima as minhas. Apenas para acrescentar que ao meu juízo o presídio-cadeia, seja o que for, só não foi construído ainda porque o governo municipal e estadual não tem dinheiro para fazer o que anunciaram que fariam. Os vereadores, inclusive os de oposição, já fizeram sua parte, aprovando o projeto e doação da área onde será (será mesmo??)construído, que é na zona sul. Então o problema é falta de dinheiro, que se os governantes atuais, municipal e estadual, soubessem eleger prioridade quando fossem gastar o dinheiro público isso estaria resolvido, haja visto a Camara Municipal, por exemplo, gastar mais de 1 milhão de reais apenas no projeto arquitetônico de suas novas instalações que só Deus sabe quando e onde será construída....enquanto isso, todas as questões abordadas no comentário da Kerima ficam sem cobertura, ou o que se faz é tão pouco diante destes absurdos.

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  5. Caro Rubens

    Na última sexta-feira ouvi um zun-zun-zun de manhã na escola, mas não estava a par do que acabara de ocorrer. Ao terminar a quinta aula um professor me perguntou se eu conhecia um PM que havia feito História na Unifeob. Respondi, claro, o Maranhão. Só aí ele me contou sobre a tragédia. Foi difícil (para mim) conter as lágrimas e ao chegar em casa o sentimento misto de indignação e perplexidade, ódio e tristeza haviam tomado conta de mim, tanto que não tive coragem de ir ao velório ou funeral.
    Fabrício ficará para sempre na lembrança de quem o conheceu como um ser humano afável, humilde, simples e leal.
    Deixo aqui um abraço aos seus familiares e amigos, e podem ter certeza, o mundo ficou um pouco pior sem ele por aqui.

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  6. É Caruso... Frabrício se foi... sou amigo da sua adorável noiva desde criança... estudamos juntos na mesma escola, lá na Zona Rural da cidade na nossa querida José Avelino na fazenda Lambari, lá tanto ela quanto eu fomos presidentes do Grêmio Estudantil... menina simples, pilitizada e de um sorriso contagiante...
    ha uns dois anos conheci o Fabrício através dela e como não se tornar amigo de uma pessoa fascinante que o era... nossa, era o casal perfeito viu... alma gêmea um do outro com certeza, incrível, era prazeroso encontrá-los na rua e trocar um dedinho de proza com eles... pessoas boas, dignas e radiantes...
    A dor que assola nossos corações agora não tem nome, não da pra explicar, ver a aquela menina sorridente chorar a morte de seu fiel escudeiro... não tem palavra que conforte neste momento.
    Deixei esse recado pois não poderia passar em vão a admiração que tenho por eles (Frabrício e Daiana).
    Vai com Deus Fabrício e conta com a gente Daiana.

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  7. Foi um dia muito triste para a sociedade poços-caldense. Esse bravo homem, pertencente a uma instituição cujo tema é dar a vida em prol da população. São esses policiais, militares e civis, que diuturnamente trabalham em prol do bem. Suas vidas estão na linha tênue entre viver e morrer. E pior, não têm direito sequer a adicional de periculosidade. É hora do governo acordar e valorizar mais estas carreiras

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  8. Proponho uma observação e consequentemente uma reflexão: até as 09:11, que são os comentários que tenho disponíveis agora, de todos os posts, o Anônimo é o que tenta defender a administração atual. Politicando com a dor e indignação de muitos. POr que não mostrar a cara? Vergonha do que defende? Falta de orgulho de seu ideal? Medo de perder a boquinha?

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  9. Caruso, merecida homenagem a esse que, mesmo sendo "Maranhão", deu sua vida para salvar um irmão poços-caldense. Um tresloucado, fugitivo e bandido de marca
    maior, como a própria ficha criminal demonstra, armado e decidido a fazer qualquer coisa para permanecer longe das grades, poderia tranquilamente e friamente
    atingir um membro de nossa família. O sacrifício da vida de Fabrício teve como principal motivo a vontade do honrado policial em manter a ordem e a segurança
    pública, o que resume-se em proporcionar bem-estar à comunidade. E isso me basta: perder a própria vida para garantir a vida do próximo, é ato heroico.
    Descanse em paz mártir militar.

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  10. Caruso, sou estudante da Unifal aqui em Poços de Caldas, e hoje tive o prazer de ter uma aula com a sua esposa, Angela.
    Ela comentou com a minha sala sobre o seu blog e não podia deixar de comentar sobre o triste fato ocorrido na última sexta-feira que atingiu e revoltou a população de Poços de Caldas.
    Não pude deixar de visitar seu blog, pois a propaganda foi muito boa durante a aula, e queria parabenizá-lo pelas palavras acima ditas, que com certeza irá confortar a família do Fabrício, e aproveitando a situação, deixo meus pêsames à eles também.

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  11. Quando conheci o meu cunhado "Fabrição", que era como eu o chamava, já soube que ele era uma pessoa muito linda e especial, sempre disposto a ajudar sem pedir nada em troca e sem reclamar. Mesmo que ele estivesse cansadão, nunca o escutei se queixar por ter que ir fazer um recado. Sempre falava para sua mãe Dona Raimunda "Na hora, Senhora!". Parece que estou escutando-o agora mesmo.
    Lembro também que quando ia passear ou dar uma corridinha com ele, todo o mundo o conhecia e o saudava, mesmo que ele não fosse de Poços e que apenas tivesse morado lá uns aninhos. Ele sempre falava "Tranquilo"...
    Gostava muito de escutar rock e heavy metal. Numa ocassião eu dei pra ele um CD de uma banda espanhola chamada Barón Rojo. Ele o escutava dia e noite e nós brincavamos com a sua pronuncia em espanhol.
    Fabrição realmente era um cara dedicado e esforçado. Adorava ler sobre história (era graduado em história pela UNIFEOB). Numa outra ocassião, sabedor de seus gostos, eu dei pra ele um livro chamado Conversas com Historiadores Brasileiros. Rapaz, não parava de lê-lo. Para mim, era um prazer imenso escutá-lo comentar o que acabava de ler no livro.
    Eu não conheci muita gente com a honestidade do meu cunhado. Para ele era um autêntico honor e responsabilidade exercer o seu trabalho e defender o próximo dos bandidos e canalhas como a alimanha que tirou a sua vida.
    Meu cunhado Fabrição mudou a minha vida e a de tantos e tantos outros para melhor e continua fazendo isso agora que já não está físicamente entre a gente(com certeza, ele está aqui na minha mente o dia todo). Fabrição, todos nós vamos sentir muitão a tua falta. A dor e a saudade são muitas.

    Alejandro, o cunhado espanhol.

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  12. Lugar de bandido é em Cemitério de Segurança Máxima, como diz o Afanásio Jaazadji. Sem perdão e sem trauma.

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