"Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente." (Artigo 1o. da Constituição Federal).
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Esperei o carnê do IPTU chegar às minhas mãos para entrar na discussão. Chegou. Vou ao arquivo em busca do carnê de 2009 e constato que também fui vítima, pelo segundo ano seguido, de uma fuçada monumental na minha carteira: nada menos que 65,02 % de aumento. Poderia escrever muito sobre o fato de que na Avenida Celanese a coleta só passa uma vez por semana, o que nos obriga a acumular o lixo dentro da empresa em que trabalho, ou outras variações sobre o mesmo tema. Mas não. Quero falar sobre o inacreditável pronunciamento da Prefeitura sobre o assunto.
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"Aumento na taxa de lixo não compromente renda familiar", diz a manchete de primeira página do Jornal de Poços de hoje, reproduzindo posicionamento do chefe do executivo sobre o tema. Vou direto para a matéria e o que leio é uma sucessão de justificativas que colocam em risco o mínimo de inteligência que até hoje achei que tinha.
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Começa com a Municipalidade afirmando que não houve aumento do IPTU em 2010. É verdade. Não houve mesmo. Assim como aqueles 12% do ano passado também não foram um aumento, mas uma "atualização nos valores dos imóveis", conforme declarou o executivo à época. Aumento é aumento -reajuste, correção, compensação ou atualização são meros eufemismos.
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Segue a reportagem com uma lacônica explicação de que o reajuste na taxa de lixo se deve "em função do aumento no atendimento da coleta de lixo. Esse serviço aumentou e o custo também, hoje o que nós arrecadamos não é suficiente para cobrir essa despesa", diz a Prefeitura. Problema de quem? De um orçamento mal planejado ou mal executado? É um argumento ruim, visto que não é perceptível. Equivale a você fechar o mês com a conta doméstica em baixa e apresentar, por exemplo, à sua faxineira, a despesa pelo almoço que você serviu no dia de trabalho ou pedir para ela ajudar na conta de água, afinal ela usou o banheiro da sua casa. Não faz o menor sentido. Será que a cidade está ou vai ficar "mais limpa"? É preciso objetividade na explicação: quantos caminhões de lixo a mais estão trabalhando? Quantas viagens a mais até o lixão? Quantos garis extras nos parques?
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Mas o pior vem a seguir, quando a prefeitura pede aos cidadãos que avaliem o valor nominal, e não percentual, do aumento. Nesse momento da entrevista, o chefe do executivo sacou seu carnê, pegou a calculadora e chegou à conclusão de que, em seu orçamento pessoal, os 65% de aumento na sua (dele) taxa de lixo representam R$ 2,86 a mais por mês, "alguns centavos diariamente e isso não significa absolutamente nada, é uma passagem meia de ônibus. Jamais daria um aumento que viesse a comprometer a renda familiar ou prejudicar", destaca o político. Em seguida, a reportagem emenda que "um estudo ainda deve ser feito para reavaliar o valor venal das residências, já que o prefeito acredita que hoje o imposto cobrado está fora da realidade e acarreta prejuízos à prefeitura". Convém comprar calças sem bolsos, ano que vem promete.
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Para começo de conversa, para quem não anda de ônibus e ostenta holerites públicos de R$ 19.400 ou R$ 7.500 pode até ser que o trocado nem pese. Eu não ando de ônibus, adianto. Mas absolutamente ninguém tem o direito de invadir a privacidade das minhas finanças pessoais, mesmo que em abstração, e julgar se alguns centavos pesam ou não no meu bolso. É problema pessoal, individual, e garanto que no meu caso pesam sim, pois cada moedinha vem do meu trabalho diário, da experiência que acumulei ao longo da vida, do ir e vir, dos estudos, viagens e do que aprendo cotidianamente -sempre na iniciativa privada. Em hipótese alguma aquela pode ser uma tese de defesa que tente explicar um aumento de 65% na prestação de um serviço público.
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Para quem não atentou, desse tipo de imposto travestido de contrapartida de serviço não se escapa, posto que a legislação determina cobrança pela execução ou disponibilidade, ou seja, se você não produzir lixo ou tiver um biodigestor em casa, ainda assim vai pagar a taxa. É o mesmo que acontece com a "taxa de esgoto". Injustas, e nem mesmo a proporcionalidade as democratiza. "Pagas IPTU? Então pagas taxa de lixo, e fim de papo!".
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Um andorinha sozinha não faz verão. Mas um milhão de andorinhas fazem um estrago enorme. Assim, se cada produto que você compra ou cada serviço que você contrata resolver dar um "aumentinho insignificante, coisa de centavos" no fim do ano seu balanço não fecha. A diferença é que não podemos empurrar a despesa para outros. O poder público sim.
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"A democracia é um exercício que se faz de frente para o Povo, e não de costas para o Povo ou contra o Povo". Ulysses Guimarães.
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Uma passagem e meia de ônibus, significa que um dia no mês o trabalhador terá que se deslocar a pé até o seu destino, terá alguns pãezinhos a menos em sua mesa e assim por diante. Esta é o tipo de justificativa que agride, discrimina e não justifica coisa alguma.Era melhor não ter dito nada.
ResponderExcluirCaruso,
ResponderExcluirsenti exatamente isto que você descreveu ao ler a matéria no jornal. Votei neste prefeito e tenho quase certeza que ele não disse isto e que amanhã vai publicar que foi erro de compreensão, uma pessoa com a formação do Paulinho não diria estas coisas.
Caruso,
ResponderExcluirA esperança é o Dr sidnei se manifestar em defesa da população, afinal 65% é abusivo.
A esperança é o povo se manifestar e exigir que as autoridades, inclusive o promotor, cumpram seu papel. Não de heróis, mas de servidores públicos.
ResponderExcluirNão é fácil ver, ano após ano, nosso salário evaporar...Não importa que nome dêem ao aumento (IPTU,coleta de lixo,etc.),o aumento real, no meu caso, foi o seguinte: de 2008 para 2009, acréscimo de 12,4% sobre o valor total; de 2009 para 2010, acréscimo de 19%. Percentual acumulado: 47,99%. Quase 50% do valor bruto. Enquanto isso, o salário...10 ou 12%? Assim não dá! De quanto foi a inflação acumulada?
ResponderExcluirCaruso esse "inacreditável" que você bem cita no texto é o que estamos lutando faz 6 anos para acabar.
ResponderExcluirEsse "inacreditável" se impõe na mídia. É inacreditável que em nome não sei do que a mídia se sujeita a publicar essas e outras...
É preciso discutir os lucros que geram a política aos seus "políticos".
Calma gente... esse aumento deve ser para que o Prefeito possa oferecer um aumento para o servidor público municipal de 25%...
ResponderExcluirCaruso, também não concordo com esse aumento. Mas o que me deixa indignado aqui em Poços é que qualquer casa hoje custe mais de R$ 150 mil. Estamos em SP, ou BH?
ResponderExcluirSabemos que os salários em Poços são baixissimos então acho que terei que comprar uma casa lá no marco divisório.
Caruso,
ResponderExcluirEm relação aos aposentados que almoçam no restaurante popular, bastaria ficar um dia sem almoçar. sem significado nenhum é a falta de sensibilidade social.
Gué; então tu não sabes.
ResponderExcluirAqui é diferente, a gente berra armado de cuia, invade o asfalto e amarra a manada na praça. De carroça, barraca, fogo de chão e panela dependura, metemos gaita à noite inteira até irritar o vigário, os vereadores do perfume de cavalo e as autoridades do banheiro improvisado.
O povo gosta e apóia, derrubamos as emendas ou não entregamos a praça.
Tem cá um contingente cavalariano, de bombacha fala muito e bate boca bem na frente da Câmara, “entonces” recebem a gente e depois mandam a policia baixar a mecha. Não se enfrenta os ‘Homens’, disparamos pelo centro e preparamos a próxima escaramuça.
Blog não é páreo para uma corrida pelado na frente da prefeitura.
‘Oié, tava’ pensando em Sandra. Vi. Perguntastes pelo meu livro. Ainda testando o mercado, como “tenho um milhão de amigos” ainda não atingi a todos.Gostaires para sempre.
Em fevereiro de 1.998 (isto mesmo 1998) ingressei com ação civil pública para questionar a cobrança dos serviços de limpeza pública. O processo (nº 24.062/98) tramitou na 3ª Vara Cível e, por decisão do Poder Judiciário, o Ministério Público não é parte legítima para questionar a existência de tributos. O Tribunal de Justiça manteve a decisão. Este posicionamento (impossibilidade do MP questionar tributos) se repete desde então. Observem o que acontece com os tributos federais e estaduais e verão que os questionamentos são feitos por Associações de Classe ou individualmente. Desta forma, assim como aconteceu com o assunto do transporte coletivo, na questão da taxa de coleta de lixo e limpeza pública "enquanto as pessoas estão indo, minha Promotoria já estava vindo". De mãos vazias, mais uma vez. Porém, minha parte eu fiz. Repito: a minha parte eu fiz.
ResponderExcluirSidnei Boccia
E Pilatos lava as mãos...
ResponderExcluirÉ evidente que o M.P. tem limitações legais e não realiza milagres. Todavia, da leitura tenta do comentário do Dr. Sidnei é possível deduzir que há sim caminhos para discutir o assunto na Justiça. Rápida pesquisa de jurisprudência e é possível encontrar, por exemplo, que "a taxa é ilegal pelo seu caráter indivisível, ou seja, não há como calcular a quantidade de lixo descartada".
ResponderExcluirVeja mais em http://www.uj.com.br/publicacoes/pecas/859/ACAO_CIVIL_COLETIVA . É só um ponto a ser pensado, mas o assunto promete muita discussão.
Prezado Anônimo Gaúcho;
ResponderExcluirAhn? Dá para traduzir?
Oié
A escorcha da taxa do lixo está na Lei de Diretrizes Orçamentárias? Se não estiver, o caminho é esse, Promotor!
ResponderExcluirEm tempo - Na questão do transporte coletivo, o promotor assumiu defender o sistema e até disse que participou de sua elaboração. Disse, afinal, que em dez dias tudo estaria resolvido.
ResponderExcluir...E os problemas continuam, alguém sabe o tamanho da dívida da prefeitura?
ResponderExcluirOs comentários são oriundos das próprias bocas dos subordinados do alcaide, é grande a contenção de gastos, muita coisa de importância para a comunidade é abortada inclusive um bom projeto de turismo para o mês de julho.
"Mas o projetinho natalino da Carlota Joaquina, vai rolar, a sinfonia das Aguas que lavam, e lavam também continua".
O império está como nos tempos de domínio portugues, limpando até o último centavo, em nome da coroa.