terça-feira, 11 de maio de 2010

QUEM SENTA NA PONTA...


Prepare-se, amigo leitor. Em breve você poderá ser convidado para um banquete. No cardápio, uma suntuosa edificação, que terá até mesmo teatro, praça de alimentação ou uma ampla garagem. Já sabe do que estou falando, claro: do projeto de uma nova Câmara Municipal, executado pelas muitas mãos do escritório daquele que é considerado por alguns um verdadeiro Deus, apesar de suas convicções não apontarem exatamente para a fé.
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Muito bem. Entrevista publicada com o vereador-chefe no final de semana traz a estarrecedora surpresa para a qual todos estávamos nos preparando: a comida será servida com uma dose extra de pimenta Jalapeño, já que a Câmara tem planos de viabilizar a construção inclusive com a possibilidade de um empréstimo bancário. Ou seja, para erguer esse sonho frio de uma noite de verão, nossos bravos legisladores pretendem passar o boné numa Caixa Econômica da vida. E entregar a conta devidamente acrescida de juros, correções, taxas, despesas, seguros e penduricalhos típicos desse tipo de negócio a quem estiver sentado na ponta da mesa -faça uma forcinha, concentre-se e adivinhe de quem estamos falando. Acertou quem disse "o Povo".
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O mais estranho nisso tudo é que a refeição é servida em silêncio. Não há nenhum sinal de indignação coletiva, manifestações, "passeata que mais parece excursão de jovens", nada. Nem mesmo o descapitalizado Poder Executivo, que apelou para substancial aumento na taxa do lixo em busca de um extrinha no caixa, abre a boca, em nome de uma conveniente "independência de poderes". Afinal, insiste erradamente o legislativo, "o dinheiro é da Câmara". Não é não. O dinheiro é do Povo, que sua a camisa para pagar os impostos ou o valor da passagem de ônibus. Desse, reclamações, carros de som, Prefeitura fechada. Daquele, que vai custar 10, 15, 20 ou 25 milhões -ninguém sequer sabe ao certo o valor, mas já planejam onde ir buscar o dinheiro-, as autoridades vendem a ideia de que o dinheiro da Câmara vem da Prefeitura, como se o velho Palacete da Francisco Salles fosse uma Casa da Moeda sulmineira a emitir cédulas e moedas de acordo com os desejos do momento. Desejos, e não necessidades.
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Venho falando há um ano sobre esse lamentável projeto, que pode ser tudo -lindo, atração turística, divisor de águas da zona sul,  o que for. Só não temos como pagar, mas nada que uma corridinha ao banco não resolva.
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Por garantia, prefiro sentar no meio da mesa.
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Veja o post de 27 de abril de 2009 no link
http://www.vivapocos.com/2009/04/nem-sei-quanto-mas-e-caro.html
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7 comentários:

  1. Prezado Caruso, é ótima sua companhia no clube dos inconformados. Bem vindo !
    Sidnei Boccia

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  2. A Casa da Moeda está na Francisco Salles, mas a "guitarra" de rodar dinheiro é o suor do povo de Poços De Caldas.

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  3. SAO VARIOS OS FATORES DA PASSIVIDADE DO POVO, MAS SEM DUVIDA ALGUMA OQUE PERPETUA ESSA DISTANCIA DA POPULACAO DAS DECISOES QUE O AFETA EH A ESCOLA DE MA QUALIDADE.E NAUM SOMENTE AS PUBLICAS...MUDAR A CONSCIENCIA DE UMA PESSOA EH DEVERAS DIFICIL, POREM FORMAR UMA MENTE CRITICA EXIGE POUCO DO INDIVIDUO, MAS MUITO DA SOCIEDADE.

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  4. Este, particularmente, é um assunto que me incomoda muito nesta cidade. Desde o inicio desta história muita coisa não ficou clara. Primeiro, a justificativa de que "estamos de posse de uma soma substancial capaz de prover a construção de magnifica edificação". Segundo, o local escolhido deixa dúvidas quanto à viabilidade de tal projeto. Terceiro, a necessidade de uma obra de arte da arquitetura para atrair turistas para a cidade. Quarto, a necesidade de "espaço" para atender a demanda da Câmara. Perguntas (ou questionamentos): 1. Se havia dinheiro por que há necessidade de empréstimos? Hum! Então não havia, claro! 2. O local escolhido pode ou não pode receber a obra? Quais os verdadeiros prejuízos para a cidade? Parece-me que a população ainda não compreendeu bem, caso contrário teria se manifestado. 3. Alguém poderia me dizer qual é a população de Poços de Caldas a partir das tardes das sextas-feiras, quando chegam os turistas? Será que faltam atrativos turísticos ou melhores condições de atendimento no que já existe aqui? Quem sabe hotéis mais bem preparados para receber os turistas? Restaurantes com espaços para que os usuários não tenham que cair no colo da mesa ao lado para circular no salão? Cafés menos barulhentos e com o charme que as cidades de montanha geralmente garantem? 4. Nossos vereadores precisam de espaço? Este blog publicou há alguns meses uma comparação da Cãmara de vereadores da cidade de São Paulo -número de pessoas que ali trabalham e metragem ocupada - e da cidade de Poços. Será que precisamos de tudo isso?
    Recentemente Alexandre Garcia fez um comentário que vale a pena ser socializado: falava ele sobre a falta de equipamentos em hospitais públicos do País para atender às necessidades de transplantes de órgãos. Chamava nossa atenção para tantas outras "perfumarias" em que o governo atual faz propaganda e insiste em investir que esquece do que é o mais básico para manter o IDH das nossas cidades.
    Voltemos a Poços: não seria o mesmo caso? A saúde pública nesta cidade não corresponde ao slogan "Cidade Saudável". E quantos outros problemas considerados mais corriqueiros deveriam estar na ordem do dia, enquanto nossos "homens do poder" estão preocupados em fazer empréstimo para construir um elefante branco?
    Apoiaria uma obra "Niemeyerana" nesta cidade, pois aprecio muito seu trabalho, mas se de fato fizesse a diferença na vida dos que aqui vivem e não para os que aqui virão visitar. E mais, se o dinheiro para tal feitura estivesse sobrando após atender a todas as outras prioridades. Dizer que o dinheiro da Câmara é da Câmara é um ledo engano. O dinheiro é desta cidade e o "dono" desta cidade é o povo.
    E, para terminar, faço a mesma pergunta deste blogueiro: onde estão todos?
    Arriscaria uma resposta: não estão e não estarão. Não há CQC por perto, não toca diretamente a população. Não há, infelizmente, uma visão mais ampliada e consciente do que está por trás da magnitude do projeto proposto pelo atual presidente, por parte da grande massa da população.

    Sr. Promotor, posso fazer parte do grupo?

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  5. E o que mais me frustra é a limitação do arsenal jurídico para atacar a construção, diante da cômoda alegação de independência dos Poderes ? Ao ingressarmos com ação civil pública, invariavelmente, o desfecho é de improcedência.
    Sidnei Boccia

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  6. não dá pra fazer uma lista de cidadãos que não querem a obra e propor um projeto de lei cancelando a obra? quantas assinaturas seriam necessárias?

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  7. Esta questão levantada pelo comentário de 13/05/2010 as 14:43 é interessante. Também não conheço os caminhos disponíveis, legais e de diereito. Algum leitor que tenha conhecimento da matéria poderia, por favor, se manifestar e nos esclarecer esta questão de um abaixo assinado. Também para o aumento do IPTU.

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