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Há anos li um material interessante, denominado "Broken Windows Theory", ou Teoria das Janelas Quebradas. Hoje há farto material sobre o tema na internet, e pretendo mostrar que a grave deterioração que percebo na qualidade de vida na cidade -ainda muito boa, na opinião desse paulistano de nascimento- desde que para cá mudei, há oito anos, pode ser contida com ações relativamente simples.
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"Janelas Quebradas" é um interessante estudo publicado em 1982 pelo cientista político James Q. Wilson e o psicólogo criminologista George Kelling, ambos norte-americanos. O estudo demonstrou uma relação de causalidade entre desordem e criminalidade, e a imagem de janelas quebradas foram empregadas para explicar como a desordem e a criminalidade infiltram-se numa comunidade, levando à sua decadência e a consequente queda da qualidade de vida.
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Veja com que simplicidade explica o Promotor de Justiça gaúcho Daniel Sperb Rubin: os autores "sustentavam que se uma janela de uma fábrica ou de um escritório fosse quebrada e não fosse imediatamente consertada, as pessoas que por ali passassem concluiriam que ninguém se importava com isso e que, naquela localidade, não havia autoridade responsável pelo manutenção da ordem. Em pouco tempo, algumas pessoas começariam a atirar pedras para quebrar as demais janelas ainda intactas. Logo, todas as janelas estariam quebradas. Agora, as pessoas que por ali passassem concluiriam que ninguém seria responsável por aquele prédio e tampouco pela rua em que se localizava o prédio. Iniciava-se, assim, a decadência da própria rua e daquela comunidade. A esta altura, apenas os desocupados, imprudentes, ou pessoas com tendências criminosas, sentir-se-iam à vontade para ter algum negócio ou mesmo morar na rua cuja decadência já era evidente. O passo seguinte seria o abandono daquela localidade pelas pessoas de bem, deixando o bairro à mercê dos desordeiros. Pequenas desordens levariam a grandes desordens e, mais tarde, ao crime. Em razão da imagem das janelas quebradas, o estudo ficou conhecido como broken windows, e veio a lançar os fundamentos da moderna política criminal americana que, em meados da década de noventa, foi implantada com tremendo sucesso em Nova Iorque, sob o nome de "tolerância zero".
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Continue acompanhando o raciocínio: "Ainda exemplificando, Kelling e Wilson afirmavam que uma comunidade estável, na qual as famílias cuidavam de suas casas, se preocupavam com as crianças dos outros e desconfiavam de estranhos, poderia transformar-se, em poucos anos, ou até mesmo meses, em uma selva assustadora. Uma propriedade é abandonada. O mato cresce. Uma janela é quebrada. Adultos deixam de repreender crianças e adolescentes desordeiros. Estas, encorajadas, tornam-se mais desordeiras. Então, famílias mudam-se daquela comunidade. Adultos, sem laços com a família, mudam-se para aquela comunidade. Adolescentes desordeiros começam a se reunir na frente da loja da esquina. O comerciante pede que se retirem. Eles recusam. Brigas ocorrem. O lixo se acumula. Pessoas começam a embriagar-se em frente aos bares. Um bêbado deita na calçada e lá permanece. A desordem se estabelece, preparando o terreno para a ascensão da criminalidade".
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As imagens acima assustam. São de um local bastante conhecido de Poços de Caldas, o entorno do Estádio Municipal. Recentemente para lá foram transferidos aulas e exames das autoescolas locais. Lá acontecem grandes eventos, no Estádio, no Ginásio e no estacionamento, como a Festa Uai. E para lá foram levados, antes, os restos da estrutura que desabou do Monotrilho, condenando o espaço à deterioração, acumulando não apenas de mato, mas lixo de todo tipo -entulhos, capacetes velhos, gabinetes imprestáveis de televisores e, claro, lixo orgânico- conferindo o esperado cheiro insuportável ao local. Tudo isso por "conta e ordem" do Poder Público, que um dia considerou ser aquele o tapete ideal para varrer para debaixo o detrito indesejado de concreto e ferro.
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Observe ainda, pelas fotos de satélite abaixo, o que aconteceu com a vegetação que havia no local, no alto das imagens, entre 2005 e 2007, última vez que o satélite passou aqui por cima. A situação hoje é pior, e, para agravar, há um rio à esquerda do novo "lixão". Clique nelas para ampliá-las.
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Se essa situação é estarrecedora, há muitas outras "Janelas Quebradas" em Poços de Caldas, algumas bem à vista, outras nem tanto. O tema merece um debate amplo -desnecessário nesse momento discutir quem derrubou e quem jogou os restos do Monotrilho ali.
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Em Nova Iorque, o estudo fundamentou a criação do "Tolerância Zero". Aqui, as autoridades têm a obrigação de cumprir sua missão de "vidraceiros do bem", recuperando a área do Estádio, para começar, depois partindo, rapidamente, para outras áreas da cidade. Fica mais essa modesta sugestão às nossas autoridades -os responsáveis pela remoção e destino adequado daquele entulho e, claro, pela recuperação ambiental.
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Saiba mais em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3730
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Muito oportuno seu texto. Lembra-se do post "Sinto Vergona" publicado em 2008 (http://www.vivapocos.com/2008/07/sinto-vergonha.html)?
ResponderExcluirPois, é.
Há muitos anos, quando fazia um passeio a Blumenau -SC ,ouvi de minha anfitriã que a prefeitura, na época, tinha um programa de incentivo para manter a arquitetura europeia nas construções e os jardins das residencias sempre impecáveis. Os moradores que aderiam recebiam descontos no IPTU. Desse modo a cidade se mantinha em "ordem" - limpeza e beleza. Outro bom exemplo é a politica adotada pelo Metrô de São Paulo - qualquer "risquinho" que apareça imediatamente é cuidado.
Não é dificil mudar a aparência de uma rua, de um bairro, de uma cidade...
Veja como a mudança de fachada de umas duas lojas no cruzamento da R. Assis com a Barros Cobra (onde estão concentrados os traffic calming) estimularam outros lojistas a tornar o espaço muito mais bonito.