sábado, 14 de agosto de 2010

QUEBRA MOLAS, SIM SENHOR!

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Não adianta. Quando o poder público começa uma ação de forma errada e insiste e persiste no erro, abre espaço para estranhas variações sobre o mesmo tema, igualmente viciadas. Refiro-me a uma notícia publicada ontem no site da Câmara Municipal, destacando, veja só, que um vereador, "preocupado com o uso correto do traffic calming, tendo em vista a situação complicada do trânsito em Poços, encaminhou uma indicação ao Executivo propondo a realização de uma campanha educativa sobre o assunto".
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A sucessão de equívocos continua, e mereceu publicação, infelizmente sem edição, na mídia local: "Para o legislador, motoristas e pedestres têm confundido o traffic calming com um redutor, o que acaba colocando em risco a segurança de todos. Ele ressaltou a importância da conscientização sobre o uso correto desse dispositivo. Na maioria das vezes, ele é confundido com um redutor, o que na verdade não é. Trata-se de uma faixa de pedestres elevada", destaca o vereador néofito Tiago Cavelagna, autor da ideia. Engana-se, e muito, o vereador. Fosse ele leitor atento desse blog, saberia que -mesmo recorrendo a um dicionário baratinho- traffic calming significa "moderador de tráfego". Assim, simples, ao pé da letra.
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Escrevi há um ano que "três são os objetivos que norteiam a instalação de um sistema de traffic calming: reduzir o número e a severidade dos acidentes; reduzir os ruídos e a poluição do ar; revitalizar as características ambientais da via por meio da redução da presença e dominação do automóvel". Não consigo imaginar de onde é que vem essa ideia de que um traffic calming é pura e simplesmente uma "faixa de pedestres elevada". Bom, até imagino, pois foi assim que a prefeitura vendeu a ideia. Eu não comprei. No mundo todo não é assim. Para ajudar, o assunto é fartamente tratado em uma apostila de 275 páginas, publicada pela BHTrans, empresa que administra o trânsito na capital mineira. Material que, aliás, tive o cuidado de ler ano passado e cujo link segue ao final.
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Fui dos primeiros a questionar a localização, a construção e a utilidade desse equipamento, quando a prefeitura fez o traffic calming pioneiro na confluência das Ruas Assis Figueiredo e Junqueiras, local, diga-se, passagem obrigatória de ambulâncias do SAMU rumo à zona sul, forçadas a reduzir a velocidade para não decolarem -não fosse aquilo um "redutor", bastava aos motoristas passarem direto, pé no fundo. Tentem passar por ali a 30 km/h para sentir o impacto.
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Afirmo ainda, sem medo de ser mais crucificado do que já fui por minha posição sobre esses quebra-molas travestidos de "moderninhos", que todos os que foram implantados nos últimos 12 meses têm alguma irregularidade, seja de localização (declives, avenidas e até avenidas em declive), seja de construção (altura, extensão ou bordas). Incluindo aqueles adjetivados como "antiga reivindicação".
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Assim, como bom cidadão que sou, recomendo mui modestamente àqueles que não acompanham regularmente esse blog, vereadores, secretários e demais autoridades, a leitura dos links abaixo. Eu vou continuar parando em todos (nem sei quantos são) traffic calmings de Poços. Essa é a função deles. Também vou continuar parando antes das faixas de pedestres -essa é a função delas. E esse deve ser o tema de uma campanha, antes de multar quem não respeita os pedestres. Não tenho dúvidas de que assim, funciona.
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Links importantes:
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Link muito importante, o Manual da BHTrans:
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4 comentários:

  1. Pois é, nisso que dá estes dias este vereador que é ENGENHEIRO e dá aulas de engenharia ambiental queria destinar recursos ao cartódromo que não licença e está numa área de proteção, agora vem com essa injenharia...

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  2. Os traffic calming que estão instalados na avenida Alcoa (próximo ao terminal da zona sul) não estão alinhados, obrigando o pedestre a trafegar sobre o canteiro central para atravessar a avenida.

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  3. Quero deixar aqui minha avaliação, como motorista e como pedestre, dos "traffic calmimg" espalhados pela cidade. Como pedrestre diria que é sem dúvida muito mais confortável atravessar uma via por esta "faixa de pedestre elevada". Enquanto conceito de acessibilidade penso que ela atenda seu objetivo. Como motorista, a tal engenhoca é um "quebra mola" sofisticado, que exige uma redução considerável de velocidade.
    Em lugares em que está instalada sem a presença de semáforo, só cumpre a função de faixa de pedestre porque, como já disse, exige significativa diminuição de velocidade. Bom exemplo é a travessia da praça da Urca para o parque Afonso Junqueira.
    Acredito numa campanha de conscientização de respeito à sinalização tanto por parte do motorista como do pedestre. Muitas vezes o semáforo está aberto para o motorista e o pedestre insiste em atravessar.

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  4. Esses dias eu parei num traffic calming desses no centro. Um "bom" motorista passou buzinando, quase atropelou a pessoa que estava atravessando e ainda xingou-me.

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