terça-feira, 31 de agosto de 2010

O ESCÂNDALO DAS ROTATIVAS


Parece não ter fim a sequência de pesadelos dessa 16a. Legislatura. Patinando na discussão interminável sobre o Projeto Niemeyer, ou o desastre protagonizado na tentativa de inviabilizar a indicação ao título de cidadania para um Promotor de Justiça, ou ainda o vexaminoso envio de cartas à secretaria estadual de saúde na questão de uma verba para oncologia, nosso legislativo chega agora a um escândalo municipal sem precedentes na história política pós-redemocratização brasileira: a confirmação pública, pelo diretor de um dos mais importantes jornais de Poços de Caldas, de que o veículo que comanda teria sido retaliado comercialmente pela Câmara Municipal em função de uma reportagem publicada.
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Em nota publicada na primeira página da edição hoje, a de número 3703 do Jornal de Poços, Ricardo Pereira de Mello afirma: "tomei conhecimento que o presidente do LegisIativo Municipal, MarcusTogni, havia excluído o Jornal de Poços do grupo de empresas de comunicação que iriam veicular a campanha publicitária institucional da Câmara Municipal de Poçosde Caldas.
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Desconhecendo o que estava ocorrendo, pedi ao departamento do Jornal de Poços, encarregado de acompanhar estas publicidades, que procurasse saber o porquê de tal atitude. Para espanto meu fui informado que o presidente da Câmara e os demais vereadores haviam ficado muito descontentes com a matéria veiculada na edição do dia 23 de julho próximo passado, de n°3.670, sob a manchete "AÇÃO POPULAR CONTRA AESB PODE REAVER MAIS DE R$ 1 MILHÃO AOS COFRES PÚBLICOS".
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O caso promete esquentar a sessão de hoje da Câmara, especialmente pelo fato de que nove vereadores -Marcus Togni, Álvaro Cagnani, Antonio Carlos Pereira, Joaquim Alves, Paulo Eustáquio, Regina Cioffi, Tiago Cavelagna, Valdir Sementile e Waldemar Lemes- figuram como réus na Ação Popular. Note que são réus, e não condenados -o processo está em tramitação. Por enquanto, a única baixa foi o próprio diretor do jornal, que desligou-se do posto de conselheiro do DME -na minha opinião, sequer deveria ter aceitado tal convite, mas esse é outro assunto.
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Pelo bem da democracia e para garantir o status que um Poder como o Legislativo requer, passou da hora de uma explicação formal daqueles que elegemos não só para criar leis, mas, principalmente, guardar o constitucional direito à informação e opinião, sobre esse escândalo contra a imprensa local. O Regimento Interno da Câmara afirma, em seu Art. 20, § 2º, inciso III que "a Câmara Municipal poderá cassar o mandato do Vereador quando proceder de modo incompatível com a dignidade da Câmara Municipal ou faltar com o decoro na sua conduta pública". Simples assim. Também a Associação Sulmineira de Imprensa deve quebrar seu silêncio e manifestar-se sobre a questão.
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E que fique para a posteridade o exemplo da atitude corajosa do Jornal de Poços, denunciando o caso.
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ATUALIZANDO: Na sessão de hoje da Câmara, o presidente do Legislativo assegurou que não houve retaliação, mas o cumprimento da lei. "O Município não pode pagar um jornal para poder, através da nossa agência, fazer publicações, quando ele é de uma pessoa tida como funcionário do Município. A lei nos impede. Apenas e tão somente por isso. Estávamos e estamos cumprindo a lei. Não se pode condenar a Câmara porque cumpre a lei. Não se pode fazer sensacionalismo desse tipo quando a gente está cumprindo a lei. Nós estamos apenas cumprindo a lei. A Câmara quer fazer o de melhor para nossa cidade. Jamais retaliamos alguém", disse ele.
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O "abacaxi" voltou para as mãos do Jornal de Poços, que precisa explicar e confirmar o que publicou sobre a fala da agência de propaganda: que a causa da exclusão do veículo do plano de mídia da Câmara teria sido retaliação diante da insatisfação de vereadores com uma reportagem publicada.
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7 comentários:

  1. Sabemos que o diretor do Jornal de Poços não é nenhuma flor de se cheire. Ele já teve publicidade cortada na gestão Paulo Tadeu. O que não justifica o corte...

    O Jornal da Cidade também, na gestão Sebastião Navarro, ficou três anos sem receber um tostão da Prefeitura. Perguntem a eles.

    Acho lamentável o Jornal de Poços ter a verba cortada, mesmo quando eles escrevem certas coisas de vez em quando que beiram a imbecilidade.

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  2. Caruso, lamentável seu ponto de vista unilateral. Não condiz com a postura de um jornalista...

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  3. Concordo plenamente com você, em nos noticiar estes fatos.

    "Você é um verdadeiro jornalista, você o que os outros deveriam ser, incorruptivel, verdadeiro defensor dos seus própios direitos, e também de toda esta população desinformada ou desinteressada pelos seus direitos".

    É vergonha e vergonha, e isso não vai parar, e te garanto que a impunidade vai continuar!

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  4. Esse Escândalo das rotativa é grande. Temos ainda o fato da licitação dos atos oficiais, onde o tal diretor do Jornal de Poços ganhou sendo de cargo de confiança no DME. Isso promete.

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  5. Faltou exatamente o que você publicou hoje. O ponto de vista da Câmara...

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  6. Obrigado. Não tenho tempo para ser repórter -para mim, o que há de melhor na profissão. Sou só um articulista.
    Todavia, tivesse o leitor atentado ao texto, teria lido que "passou da hora de uma explicação formal daqueles que elegemos não só para criar leis, mas, principalmente, guardar o constitucional direito à informação e opinião".
    O "ponto de vista" da Câmara veio hoje, via jornal, nao ao blog, e publiquei.
    E pode ter certeza que amanhã veremos o ponto de vista do jornal.

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