Outra dessas preciosidades perdidas de Poços de Caldas: o antigo casarão, na Rua Junqueiras, 130, é passagem obrigatória de muitos moradores e turistas. Fica logo depois da Estação de Trens (esta felizmente em processo de recuperação desde a saída da Guarda Municipal), bem em frente ao Parque José Affonso Junqueira. Quase sempre paramos naquele semáforo que há defronte ao casarão, mas não damos conta de estar diante de uma verdadeira jóia em degradação.
Trata-se da “Villa Prates”, a assim denominada residência de veraneio da família do Conde Eduardo Prates, imóvel construído em 1886. Era uma edificação térrea, posteriormente modificada para “chalé”, com estilo europeu. Ao longo do tempo o projeto acabou bastante alterado, resultando em um grande sobrado de estilos variados. Ainda assim sensacional.
Segundo espcialistas, o imóvel tem “fachada principal composta de pequeno jardim com frente para o parque José Afonso Junqueira. O sistema construtivo faz-se com embasamento de pedra, estrutura portante e fechamento dos vedos em alvenaria. Cobertura em várias águas, com telhas cerâmicas e estrutura de madeira. Tipologia de tendência neoclássica com varanda destacada em sua fachada frontal, possuindo janelas de madeira, tipo veneziana em duas folhas, com vedação em caixilhos de madeira e vidro, composto de duas folhas internas, possui ainda elementos de serralheria trabalhados nos guarda-corpos das escadas, varanda e gradis limites com a rua”.
É (ou foi...) uma construção belíssima, impressionante para um leigo como eu, mas que aprecia essas “antiguidades”. Estima-se que esteja fechado há mais de 15 anos, apesar de lá residir uma família que cuida do imóvel, em especial para que não seja invadido e depredado. Esta família gentilmente autorizou minha visita ao Chalé, após eu apresentar meu objetivo: mostrá-lo e quem sabe despertar o interesse na preservação.
Logo na entrada, impressiona a altura total da fachada, por conta do pé direito bem alto e da existência de uma varanda. Esta varanda sozinha já é um show, pois possibilita visão privilegiada do parque e da Serra São Domingos. Tem impressionante grade de ferro trabalhado e piso hidráulico.
Subimos a escada de entrada e chegamos a um hall interno. Respeitosamente passamos direto por ali, pois é o espaço ocupado pelos moradores, e chegamos ao interior do casarão. Inacreditável o número de cômodos: confesso que perdi a conta quando passou dos 30. Há salas, salas ligadas a estas, banheiros conjugados, muito difícil entender a distribuição. Talvez fossem diversas suítes, cada qual com sua sala, quem sabe? No casarão já funcionaram escolas e até mesmo a Delegacia Regional de Ensino.
Pouco restou das louças, uma ou outra pia ou vaso. Há uma belíssima escada de madeira, com detalhes torneados, que não parece ser do projeto original, mas fruto de uma adaptação, ainda muito bem conservada.
Impera a poeira, visto que o casarão é muito grande e a manutenção é apenas suficiente para manter o imóvel em condições mínimas. O telhado está em bom estado, o que preserva paredes e assoalhos das infiltrações. Em um dos cômodos, o detalhe que mais me chamou atenção é um antigo vidro, com desenho jateado de um vaso de plantas, contendo as iniciais “C.P.”, de Conde Prates.
Janelas altas, corredores longos, pé direito de castelo. Visitar o casarão é uma volta ao passado. Imaginar a riqueza que ali esteve, o mobiliário, as pessoas. Há uma lenda que em certas noites é possível ouvir os passos do Conde. Não acredito nessas coisas. Por garantia, saí de lá antes de escurecer...
Recentemente foi elaborado um dossiê sobre o chalé, contando inclusive com apoio do curso de Arquitetura da PUC-PC, visando a aquisição do imóvel para sua recuperação e posterior transformação em espaço cultural. Não deu certo. O projeto para captação de recursos na ordem de R$ 4,5 milhões, embora aprovado pelo Ministério da Cultura, não conseguiu arrecadar capital e acabou arquivado. E assim o Chalé continua em pé, sabe-se lá até quando.
Parece que o atual proprietário não pretende investir nele. Nem o município. A esperança é que surja um banco com novo espaço no perfil do IMS, do Unibanco, e salve de destino pior o belo casarão. Já pensou em tomar um chá naquela varanda admirando o Parque em frente?
O CONDE
“O Conde Eduardo Prates nasceu em São Paulo a 8 de novembro de 1860. Ocupou cargos diretivos na Companhia Paulista de Estradas de Ferro e Banco de São Paulo. Também foi presidente da Companhia Central de Armazéns Gerais, da Companhia Mineraes Santa Rosa; Companhia Paulista de Navegação; e vice-presidente da Companhia Frigorífica e Pastoril de Barretos; fundou a Fazenda Santa Gertrudes, no município de São João do Rio Claro, para realizar melhoramentos genéticos no gado de corte nacional.
Além da pecuária, assunto no qual concentrou toda sua inteligência e força, a Fazenda Santa Gertrudes era usada também para o plantio de café.
Sendo um dos maiores proprietários da parte central da cidade de São Paulo, tanto a municipalidade quanto o governo estadual encontraram nele uma “alavanca” para a realização do Plano Bulevar. Sua contribuição tornou-se efetiva com os melhoramentos introduzidos na Rua Libero Badaró, através da reconstrução de edifícios com linhas arquitetônicas finas. Existia nessa mesma rua o solar dos Barões de Itapetininga, cuja área de sua imensa chácara foi cedida à municipalidade, que transformou o famoso Parque do Anhangabaú, através da ligação do centro da cidade aos jardins do teatro Municipal.
O Conde Eduardo Prates auxiliou financeiramente muitas instituições, tais como a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Orfanato Cristóvão Colombo, Igreja Santo Antônio, localizada na Praça do Patriarca, e Liceu Sagrado Coração de Jesus, sempre desdenhando qualquer prêmio político que lhe fosse oferecido por benemerência. Faleceu em São Paulo a 22 de março de 1928, aos 67 anos. (fontes: Prefeitura Municipal de São Paulo e Associação Comercial de São Paulo.
Olá, descobri seu blog por acaso e tenho lido com frequencia. Adoro Poços de Caldas, mas moro em Ribeirao Preto. Entre varios sonhos que tenho, é ganhar na mega sena e comprar esse casarao!!.Vc tem mais fotos dele?
ResponderExcluirOi Rubens, tudo bem? tenho procurado na net matérias e fotos deste casarão há muito tempo. Só agora consegui, através de seu blog; obrigada.
ResponderExcluirSou apaixonada por este casarão da Av. Junqueiras; aliás tenho paixão por qualquer casa antiga. Moro em Campinas-SP mas visito sempre Poços, que eu e minha família adoramos.
Sempre tive vontade de entrar dentro deste casarão mas sempre tive receio; não imaginava que morava uma família lá.
O máximo que fiz foi ser fotografada na escada lateral. Talvez da próxima vez eu me arme de coragem e implore uma visita.
Se eu tivesse condições financeiras compraria este casarão e restauraria; sabe, assim como você também tenho vontade de tomar um chá naquela varanda; mas meus planos são mais audaciosos; depois de restaurado eu daria uma festa nele, com direito à antigos vestidos de baile na varanda e carruagens de séculos passados na avenida.
Sabe, eu como moradora de uma cidade de barões e tremendamente fascinada pelo passado, à vezes chego a acreditar que já vivi outra vida na época de ouro do café brasileiro.
Você pode não acreditar mas sinto falta e tenho saudades de um tempo em que não vivi.
Não sei explicar isso, só sei que quando estou aí em Poços, fico horas defronte à Villa Prates (e do casarão do museu geográfico também). Vai ver que já estive aí no século XIX e agora só estou matando a saudade.
Abraços
Ivanira