terça-feira, 11 de agosto de 2009

CÂMARA ARDENTE

"Nunca recuse dinheiro, desde que seja um dinheiro honesto".
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Capa do Jornal de Poços de hoje (11/8): "Ação de vereadores pode prejudicar vinda do Hospital do Câncer". Ficou chocado? Eu também. Como é que pode alguém criar qualquer obstáculo para atrapalhar a vinda de um hospital para Poços, ainda mais um para tratamento de câncer?
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Pois foi o que suas excelências fizeram ao -acredite- enviar um ofício para o secretário estadual de saúde, "solicitando que reconsiderasse o destino da verba de R$ 10 milhões". Podem justificar como quiserem, e acredito que a eventual "boa intenção" por trás do erro político de uma atitude como essas fosse a alocação do capital em outros campos da saúde, já que na tal carta pedem a "aplicação mais racional deste importante recurso, atendendo assim as necessidades reais da população de Poços de Caldas". São deuses, detentores de todo o conhecimento e sabedoria, em discurso muito pontual, especialmente para um grupo de representantes do povo que acaba de aprovar -por maioria- a compra de um projeto milionário para a construção de uma nova e nababesca Câmara, cujo dinheiro sairá exatamente dos bolsos do povo. Estão mesmo nossos valorosos legisladores preocupados com as reais necessidades desse povo?
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A coisa continuou estranha no dia seguinte ao envio do tal ofício -atitude que a meu ver não diz respeito aos vereadores, já que é uma ação do executivo e deveriam sim ter pedido informações ao prefeito, prática usada à exaustão pelos vereadores, sempre em busca de "conhecimento" nos muitos assuntos que não dominam. Metade dos signatários da tal correspondência mudaram de ideia, retirando sua assinatura do documento enviado, por meio de novo ofício solicitando ao secretário estadual que desconsiderasse os autógrafos. Imagine essas duas cartas na mesa do secretário: uma pedindo que não libere ainda os R$ 10 milhões, afinal não precisamos de um hospital de câncer, pois temos outras necessidades; a outra dizendo que metade dos que disseram "não" erraram, e "só" a outra metade quer mesmo a reconsideração do investimento em outras áreas da saúde. Bela imagem passaram da política local!
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Ainda de acordo com a reportagem, oito vereadores assinaram o documento -Togni, Regina, Ciça, Rogério, Waldir, Joaquim, Antonio Carlos e Waldemar, sendo que estes quatro últimos são os que se arrependeram, alegando que o ofício anterior era "prematuro e indevidamente enviado, não representa o pensamento da Câmara", tendo sido assinado "em meio a uma tumultuada reunião". Bom, se 50% voltou atrás e os outros 50% não, incluindo o presidente, tenho dúvidas sobre qual é realmente o "pensamento da Casa". Agora, amigo leitor, uma confidência: você assina documentos "em meio a tumultuadas reuniões"? O que significa isso? Falta de cuidado na leitura? Dificuldades de compreensão e interpretação de textos?
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De uma representante do povo, uma vereadora, veio a seguinte explicação: "o proprietário de uma clínica de radioterapia em Poços procurou os vereadores para explicar os fatos. Nós o ouvimos e ficamos surpresos porque não tínhamos conhecimento de que seria construído um hospital de R$ 10 milhões. A nossa preocupação e indagação é se há a necessidade de se construir um hospital de câncer". Não vereadora, não há. Câncer é uma bobagem, uma "doencinha". Não afeta nem mesmo os familiares a amigos do paciente. Necessidade mesmo é construir um Paço Municipal, isso sim. Não há nem mesmo crianças ou velhinhos com câncer em Poços que fazem tratamento fora da cidade. Assim, como não há demanda, seria sensato pensar em fechar a Avocc, também.
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Só para engrossar o caldo, o presidente da Câmara afirmou ontem, em entrevista ao "Hora da Verdade", que a construção da Câmara não vai nem chegar aos R$ 14 milhões. Então, concluo que um hospital de R$ 10 milhões para atendimento de câncer é uma pechincha! Repito o que disse lá no alto do texto: nunca recuse dinheiro honesto. Ou será que algum vereador achou que, mandando uma cartinha ao secretário, este rasgaria o cheque na hora, repensando onde alocar os R$ 10 milhões? Temos outras necessidades? Temos sim, e o sensato é receber essa verba, fazer o hospital do câncer e continuar na luta para que consigamos mais e mais recursos para outras áreas da saúde.
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E se alguém achar que sou apenas um chato crítico, vai aqui minha sugestão: nossa Câmara faria um grande serviço à população se, no lugar de delirar de emoção, voz trêmula e olhos marejados com a possibilidade de termos uma "autêntico Niemeyer" em Poços, tivesse a dignidade de devolver o dinheiro do povo que é repassado àquela Casa, em nome de um investimento em saúde. Aí os jornais, a tv, o rádio e até o modesto Viva Poços! estampariam: "DIGNIDADE - CÂMARA DEVOLVE RECURSOS NÃO GASTOS PARA INVESTIMENTO EM SAÚDE".
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