PASSAPORTE CARIMBADO

Fomos "convidados" -não você ou eu, mas nossas autoridades- para uma viagem a Mount Vernon, NY, nos EUA, lar de boa parte dos poçoscaldenses que para lá emigraram.

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A comitiva oficial, composta inicialmente pelo deputado federal Geraldo Thadeu, além do prefeito Paulo César Silva, deveria contar com o presidente da Câmara Municipal, Marcus Togni, que, para tanto, apresentou em 25/8 o requerimento 231/09 para votação, no qual pedia autorização (e pagamento das despesas, claro) para viajar aos EUA, com o objetivo de participar do "Brazilian Day", que acontece entre os dias 17 e 22 de setembro. A comitiva "seguirá em viagem com o objetivo de participar das comemorações e das discussões que envolvem a questão do Brasil nos Estados Unidos", de acordo com o que foi lido no plenário, durante a reunião ordinária da Câmara.

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Não foi só isso. O requerimento ainda contou com a seguinte explicação: "Mount Vernon hoje abriga cerca de sete mil brasileiros, em sua maioria poçoscaldenses e, dessa forma, nada mais justo que siga em viagem um grupo daqui a fim de estreitar ainda mais esses laços e consequentemente garantir os direitos dos nossos irmãos que lá residem". Ainda, de acordo com as prerrogativas do cargo, o presidente requereu os serviços das assessorias administrativa e financeira, bem como o uso do carro oficial para o traslado ao aeroporto em São Paulo. O presidente da Câmara fez também uma breve explanação de motivos, incluindo o fato de ser "uma forma de aceitar o convite deles; o convite partiu de lá e não chegou na Casa ainda", disse.

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Foi aí que o "caldo entornou". O jovem vereador neófito Tiago Cavelagna pediu a palavra e perguntou sobre o "custeio" dessa viagem. Passagens, hospedagem lá e transporte de ida e volta para São Paulo estariam incluídos, conforme explicou o presidente solicitante.

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Reproduzo algumas das palavras do vereador Tiago: "Sr. Presidente, vou justificar meu voto contrário. Não sei até que ponto isso (a viagem) frutifica para nossa Câmara. Também confesso a intenção de evitar um desgaste grande para nossa Casa". Meus aplausos, Vereador!

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Em seguida, o vereador Waldemar Lemes pediu a palavra, e, efusivo, disse ser "constrangedor que um Poder Legislativo do porte de Poços de Caldas tenha que votar a autorização para que o presidente ou qualquer vereador se desloquem da cidade". Disse ainda que "não é por aí que se faz política, não é nessas questões tão pequenas que se há que se levantar uma questão de estabilização a nível dentro do Poder Legislativo Municipal" (sic), sobre o fato de a Câmara ter que pagar as passagens e demais gastos decorrentes da viagem.

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Disse ainda o vereador Waldemar: "ninguém mais que eu defende o Poder Legislativo, tanto de Poços quando do estado ou do país". A saber, o vereador Waldemar irá aos EUA e pagará do bolso, conforme afirmou, encerrando a fala com uma frase que deveria entrar para os anais da política nacional: "uma Câmara, e o Poder Legislativo, existem em razão e em função do vereador. A Câmara toda gira em torno do mandato do vereador. O vereador é a razão da existência do Poder Legislativo". As gravações estão disponíveis no site da Câmara.

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Após a fala do vereador, o presidente da Câmara, Marcus Togni, pediu a palavra e liquidou: "como autor do requerimento, retiro-o de pauta, peço desculpas aos colegas de passarem por esse constrangimento".

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As questões e as dúvidas são muitas. Para começar, acabou a crise e podemos formar uma comitiva, às expensas da "Viúva da Francisco Salles", para ir à "cidade-irmã" convidante, defendendo os interesses dos que lá residem, sob a justificativa "das discussões que envolvem a questão do Brasil nos Estados Unidos"? Ora, ora, ora, essas são questões de Estado, e devem ser dicutidas em fóruns superiores, e não durante o "Brazilian Day".

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Felizmente prevaleceu a bom senso, primeiro do vereador Tiago, que enxergou o potencial desperdício de dinheiro do povo nesses tempos de limitação de capital. Depois, do presidente Togni, retirando o assunto de discussão. Magoado, talvez, mas retirou a pauta. Merece crédito.

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Cabe agora àqueles que forem ao "Brazilian Day", representando os interesses do povo, pagando do bolso ou não, trazer em suas bagagens propostas e resultados concretos, e não apenas uma coleção de fotos recebendo placas de prata ou diplomas para enfeitar seus currículos e sites.

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Ah, e se der, tragam também alguns Mickey de pelúcia para a criançada de Poços. Afinal, o famoso camundongo de Walt Disney é único e dispensa licitação...

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