segunda-feira, 24 de maio de 2010

PODER DE TRANSFORMAÇÃO?

Nada como uma crise exitencial para nos colocar de volta com os pés no chão. Quem não passa por isso?

 Ocorre-me esse pensamento voltando para casa, após mais um longo dia de trabalho. Será que vale a pena bancar um Dom Quixote e insistir em determinados assuntos? Olho no retrovisor do carro, levanto a sobrancelha direita e digo a mim mesmo: são brigas perdidas.

Adiantou alguma coisa discutir por mais de um ano a reforma de uma avenida? Adiantou participar de audiências com autoridades? Adiantou participar de um grupo de interessados no mesmo tema? Foi inglória a conclusão do assunto, que custou dor de cabeça e até mesmo boa parte de um amargo discurso oficial em uma inauguração à qual estive presente não como convidado, nem como inimigo, mas como poçoscaldense, e para o qual não havia possibilidade de contra-argumentar, dada a impropiedade do local. Fui admoestado por exercer meu papel, por não me cobrir com a nefasta e confortabilíssima omissão.

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura? Lenda. Dois anos depois de colocar o Viva Poços! no ar, como instrumento de cidadania, pelo menos para o exercício da minha cidadania, vejo-me frustrado. Os mais de 50 mil acessos resultam em muito pouco debate, e mesmo que consiga mudar ou transformar alguma coisa, topo numa barreira de provincianismo que impede boa parte dos leitores de assumirem seus papéis nesse pequeno Brasil chamado Poços de Caldas.

Vem à mente fato ocorrido ano passado, um diálogo com pessoa de bons relacionamentos no topo da pirâmide municipal, que praticamente exigiu que eu tomasse uma atitude diante do baixo apoio oferecido pela Prefeitura na atividade desempenhada por essa pessoa. "Você tem que falar isso do prefeito", disse, interrompida rapidamente por minha mulher, que emendou: "E por que é que você não fala?" A resposta veio com uma simplicidade quase beneditina, mas que explicou muito do que ora falo: "Ah, eu não posso, eu sou daqui".

Fácil assim: há dúvidas, há críticas, mas há principalmente os interesses. E se é para ficar "mal na foto" ou perder a chance de articular um negocinho com verbas oficiais, aí então as críticas vão para baixo do tapete. É o que já disse aqui algumas vezes: viver nos meandros da política exige dos atores desse jogo no mínimo a convivência com pessoas que, em situação cotidiana, não se aceitaria. Mas em nome do dinheiro ou do poder o mundo se transforma, e aí a sucessão de sorrisos forçados e tapinhas nas costas passam a ser referência.

Todo homem tem seu preço, diz o adágio, mas tem uns em oferta. É triste acompanhar a falta de opinião, especialmente de quem tem por obrigação a formação dela, muitas vezes calados diante de uma nanica ordem de pagamento. Mais triste ainda é perceber a temerosa auto-censura-prévia de mentes e corações. Isso talvez jusitifique boa parte das críticas que recebo diante do -reafirmo- exercício da minha cidadania: o fato desse espaço não ter qualquer fim comercial. Ao contrário, pago para mantê-lo no ar, seja o registro ponto.com, seja o meu tempo de ócio dedicado à produção de textos e imagens, o uso de meus equipamentos pessoais ou do meu conhecimento, pesquisas. Tudo isso sem precisar vender espaço e alma a ninguém.

A imparcialidade, da qual me gabo costumeiramente, sem falsa modéstia, também provoca. Ora me chamam de "oposicionista", ora de "situacionista", até "em cima do muro" já me puseram. É o que se ganha mantendo um discurso apartidário, mas sempre politizado. Não agrado todo mundo, nem quero. Unanimidade e jornalismo não combinam. Opinião, então, cada um tem a sua.

É isso. Obrigado pela paciência, se você chegou até aqui. Tanto quanto muitos leitores esperam algo de mim, eu também espero dos leitores. Que esse extenso trabalho que fiz até hoje não tenha sido em vão e que cada um exerça seu papel de cidadão não apenas com ações caseiras como reciclar seu lixo ou dar uma cesta básica achando que isso liberta a consciência pesada, mas principalmente deixando de lado interesses individuais em nome do coletivo. De verdade, não "de palanque". Que os comentários para cá enviados tenham outros sobrenomes além da família "Anônimo".

E que, principalmente, tenhamos coragem de continuar exigindo daqueles que cobram impostos e votos aquilo que nos pertence por direito: a Cidadania. Se no final não valeu a pena, paciência. Mas pelo menos não nos mostrarão cartazes com a palavra "Omisssos".

9 comentários:

  1. mais um Carpinteiro do Universo é você , música do Raul Seixas, fui assim nos dois primeiros do ano da universidade mas hoje depois de tanto tentar ser carpinteiro já guardei minhas ferramentas que tanto orgulhava um dia em poder usa-las.Hoje concentro apenas em concluir o curso em um breve espaço de tempo e sem interferências e sabotagens que meu ofício me causava.Encostada em um canto ainda imagino, o poder dessas ferramentas e ao mesmo tempo sua ineficência...

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  2. Caruso, não é em vão o que vc faz.
    E também o faz porque gosta, sente prazer em fotografar e escrever, é o que percebo.
    Mas a permanência e insistência de blogs como esse dá ânimo para pessoas como eu, Hudson, Paulo Basso, Cibele, Breno e outros que dão a cara a tapa nas ruas. E damos mesmo! Porque entendemos que a cidade é tb o nosso espaço e o dinheiro é público. Apontamos com dedo em riste os "pecados" dessa e de qualquer outra administração que sentar para manipular grana pública em prol da despolitização. Temos idéias, projetos e faríamos melhor do que está aí.
    Falta decência, ética, compromisso e responsabilidade. Não é possível achar que não se pode viver mais com o que se ganha... Alguém deve precisa dar um basta e deve ser nossa sociedade organizada.
    Eu continuo acreditando em licitações, desenvolvimento sustentável, economia solidária, fomento a cultura e a arte, democratização digital, humanização dos serviços públicos e concursos públicos.
    Nesta semana estaremos protestando nas ruas novamente...
    Um abraço
    Luciano

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  3. Rubens, no início do texto imaginei que você se despediria do blog. Mas ainda bem que foi só uma impressão falsa. Nem todos que acompanham seu blog querem protestar ou querem alguma mudança. No meu caso, eu acompanho porque nada é mais extraordinário do que ler uma opinião verdadeira e sincera do que os "outros" fazem por ae. As "cag...s" desses que nos representam sob o olhar de quem as escreve com muita educação, com certeza cutuca a moral, se é que esses políticos ainda possuem. Mas cutucar não move montanhas, mas limpa a alma de quem o faz.
    Um abraço.
    Luciano

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  4. Conheci o grande Apolônio de Carvalho,já entrado nos setenta anos. Apolônio acreditou na mobilização de 35, lutou na guerra civil espanhola, na resistência francesa, passara a metade da vida clandestino ou exilado. Ele me disse, certa vez, "o homem que quer mudar as coisas pode até ser amargo às vêzes, mas nunca pessimista".
    Não acho que voce seja situação ou oposição, acho-o necessário. Abraço e força!

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  5. As pessoas criticam algo geralmente quando gosta e tem identidade com o mesmo... É isto que sinto em você e de quem acompanha seus textos. Acompanho seu blog faz um mês e vejo como é importante este espaço que podemos criticar ou mesmo contemplar uma cidade que amamos.

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  6. Querido Rubens,

    Esta tem que ser uma atividade que traga muito mais prazer do que frustração. Talvez existam outras formas mais gratificantes e eficazes de ajudar a transformar o mundo, fazer a diferença. Não importa o caminho que escolha,terá sempre o meu apoio, estarei sempre ao seu lado.

    Com carinho!

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  7. Também acho que é por aí, como disse a Ângela. Fazer um blog é algo que tem que da prazer. Fazer quando se tem vontade, sem compromissos, senão vira obrigação e maionese começa a desandar. Se estiver desanimado, cansado, sem inspiração, abandone-o por um tempo. Você é humano, tem razões e necessidades próprias e únicas. Respeite-as mais do que qualquer outra coisa...

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  8. “Pelo sonho é que vamos,
    Comovidos e mudos.
    Chegamos? Não chegamos?
    Haja ou não frutos,
    Pelo sonho é que vamos...”

    Sebastião da Gama.

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  9. Prezado Caruso,
    fantástica reflexão, com a qual muito me identifico.

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