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Radioatividade é assunto recorrente em Poços de Caldas. Agora a questão ganha corpo e ensejou representações da Câmara Municipal à Justiça, por obra das vereadoras Maria Cecília (Ciça) Figueiredo e Regina Cioffi, aliando oposição e situação em torno do preocupante tema. O assunto é grave e até então não havia sido tratado com tanta profundidade quanto mostrado na excepcional reportagem da jornalista Joelma Couto, publicada na edição 160 da revista Caros Amigos -trabalho de perfil intelectualizado e presença obrigatória nas mãos mais importantes do Brasil há 14 anos.
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A pauta mereceu inclusive chamada de capa: "Ameaça Radioativa no Sul de Minas". Confira a íntegra da reportagem abaixo -o texto é extenso, mas representa leitura fundamental. A esperança é que o assunto ganhe a mídia local e, principalmente, os gabinetes do poder municipal, para que as autoridades venham a público não apenas com o discurso tranquilizador, mas comprovando cabalmente a situação. E que seja franqueado o livre acesso de imprensa e autoridades às áreas sob suspeita.
Lixo radioativo ameaça região de Poços de Caldas
Radioatividade é assunto recorrente em Poços de Caldas. Agora a questão ganha corpo e ensejou representações da Câmara Municipal à Justiça, por obra das vereadoras Maria Cecília (Ciça) Figueiredo e Regina Cioffi, aliando oposição e situação em torno do preocupante tema. O assunto é grave e até então não havia sido tratado com tanta profundidade quanto mostrado na excepcional reportagem da jornalista Joelma Couto, publicada na edição 160 da revista Caros Amigos -trabalho de perfil intelectualizado e presença obrigatória nas mãos mais importantes do Brasil há 14 anos.
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A pauta mereceu inclusive chamada de capa: "Ameaça Radioativa no Sul de Minas". Confira a íntegra da reportagem abaixo -o texto é extenso, mas representa leitura fundamental. A esperança é que o assunto ganhe a mídia local e, principalmente, os gabinetes do poder municipal, para que as autoridades venham a público não apenas com o discurso tranquilizador, mas comprovando cabalmente a situação. E que seja franqueado o livre acesso de imprensa e autoridades às áreas sob suspeita.
Lixo radioativo ameaça região de Poços de Caldas
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Vereadores da cidade querem que os materiais radioativos mesotório e torta ll, estocados nas instalações do Complexo Industrial de Urânio de Caldas (MG), sejam retirados de lá.
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Por Joelma Couto
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Quem nasceu na região do planalto de Poços de Caldas, Minas Gerais, após 1977, cresceu ouvindo muitas histórias sobre a mina de urânio Osamu Utsumi, localizada no município de Caldas. Uns contam que na infância ouviam dizer que lá se fabricava a bomba atômica, outros ouviam boatos que ligavam o urânio ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, confirmados no livro “Saddam, O Amigo do Brasil”, do jornalista Leonardo Attuch. Segundo narra Attuch, “Entre os anos de 1976 e 1990, Brasil e Iraque foram grandes parceiros comerciais. Uma das mais sigilosas operações entre os governos do general João Batista Figueiredo e de Saddam Hussein aconteceu no dia 14 de janeiro de 1981. Foi quando dois aviões iraquianos decolaram das pistas do Centro Tecnológico Aeroespacial, em São José dos Campos, e voaram em direção a Bagdá, carregados com o urânio que vinha das minas de Poços de Caldas”.
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Em 1982, deu-se início à operação comercial para produção de concentrado de urânio, que durou até 1995. Não se sabe exatamente quantas toneladas de urânio foram extraídas da mina, que fica em um local conhecido como Campo do Cercado. Sabe-se que a produção foi muito pequena, algo em torno de 4.500 toneladas, segundo o site oficial da INB, e 1.200 toneladas segundo folder sobre a produção da mina.
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Após a paralisação total das atividades de lavra, iniciou-se outra polêmica na região. Em São Paulo, a Usina de Santo Amaro (Usam), também conhecida por Nuclemon, entrou em processo de descomissionamento, processo de desativação de uma instalação nuclear ao final de sua vida útil, observando-se todos os cuidados para proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores, das pessoas em geral e também do meio ambiente.
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No entanto, para se descomissionar é necessário desmontar todas as construções envolvidas, retirar até mesmo a terra que se tornou radioativa e depositá-los em um local seguro. Como no Brasil não existem depósitos definitivos, assim como no resto do mundo, a solução foi enviar para a área da antiga mina de urânio de Caldas. A população da região se revoltou. Milhares de toneladas dos materiais radioativos torta ll e mesotório produzidos pela Usam já estavam estocados no local, e os moradores da região ainda teriam que mais uma vez aceitar estes vizinhos indesejáveis?
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Maria Augusta Barbosa, moradora de Caldas, conta: “Ficamos revoltados, não fomos nós que produzimos este lixo, por que devemos aceitá-lo aqui?”. Depois de muito barulho da população, apoiada pelo Greenpeace, e da intervenção de autoridades, como o ex-juiz da comarca da Caldas, Ronaldo Tovani, e do ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, Tilden Santiago, o então governador Itamar Franco proibiu a entrada no Estado de Minas de lixo radioativo oriundo de outros Estados. O pouco que restou em São Paulo ficou no depósito da Usina de Interlagos, ao lado do terreno que abrigará o futuro templo do Padre Marcelo Rossi.
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VEREADORES PREOCUPADOS
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No último dia 6 de abril, o gerente de descomissionamento da Indústrias Nucleares do Brasil - Caldas, Luiz Augusto de Carvalho Bresser Dores, compareceu à sessão da Câmara Municipal de Poços de Caldas, a convite do vereador Tiago Cavelagna (DEM). Bresser afirmou que mais de 12 mil toneladas de torta ll estão estocadas na unidade de Caldas, mas não trazem nenhum tipo de risco para a população. Os números são altos: 7.588.726 toneladas de rejeitos radioativos, 2.302 toneladas de mesotório em silos aterrados e 1500 toneladas estocadas na barragem de rejeitos, além de 10.159 toneladas de torta II em bombonas e o restante em silos de concreto aterrados.
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Outra preocupação é o chamado bota-fora: milhões de toneladas do que sobrou da lavra de urânio e que contêm minerais ricos em enxofre (sulfetos). Estes minerais sofrem um processo de oxidação natural e em contato com a água da chuva produzem ácido sulfúrico. O ácido dilui na água e solubiliza os metais pesados, como por exemplo o urânio. Mesmo que em quantidades pequenas, quando a água é drenada estes metais também são transportados para a barragem de drenagem ácida.
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Esta mistura de metais pesados e ácidos tem caráter nocivo e pode alcançar os mananciais ou mesmo o lençol freático da região, comprometendo o meio ambiente. Quando chove forte, existe a possibilidade da barragem transbordar e esta água ácida cair no Ribeirão Soberbo, que faz parte da Bacia Hidrográflca do Rio Verde, que flui para o município de Caldas, com prejuízo para a fauna e flora da região. Também está dentro dos limites da mina a Bacia Hidrográflca das Antas, que flui para Poços de Caldas.
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A vereadora e médica Regina Cioffi (PPS) entregou ao Ministério Público de Poços de Caldas, no dia 18 de junho, um dossiê com denúncias contra a INB-Caldas. Ela afIrmou que "a INB é uma estatal, está sob jurisdição federal, por isso pedi ao MP de Poços de Caldas que encaminhe as denúncias ao Ministério Público Federal".
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Já a vereadora Maria Cecília Opípari (PSB) quer que a torta II e o mesotório depositados em Caldas voltem para São Paulo. "Tenho medo que a INB Caldas se torne um depósito de lixo radioativo proveniente de todo o país", afIrma a vereadora.
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Maria Cecília levará as denúncias contra a INB para Brasília, onde participará da Conferência Nacional das Cidades, como delegada do Estado de Minas Gerais e da cidade de Poços de Caldas. Segundo Maria Cecília, existem indícios de que no dia 28 de maio houve um rompimento em uma barragem que fIca dentro do complexo da INB-Caldas e cujas águas são despejadas no Ribeirão das Antas. "Não quero alarmar a população, mas temos que tentar buscar esclarecimentos", afirma a vereadora.
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Estudos feitos em vários países comprovam o aumento da incidência de câncer em crianças que moram perto de instalações nucleares. Dados estatísticos de órgãos públicos da saúde atestam altos índices de câncer nos municípios de Santa Rita de Caldas, Ibitiura de Minas, Caldas, Andradas e Poços de Caldas, todos na região onde se localizam os depósitos de lixo radioativo. Segundo Regina Cioffi nunca se produziu torta II e mesotório na unidade da INB-Caldas. Para ela, "quem produziu o lixo, que arque com as consequências".
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A Câmara Municipal de Poços de Caldas formou uma comissão composta por cinco vereadores, que deverão visitar as instalações da INB Caldas, pois existem indícios de que o material radioativo não está acondicionado com segurança. A reportagem teve acesso a fotos que seriam dos depósitos da INB-Caldas, que mostram o comprometimento na armazenagem de grande parte do material, com latões enferrujados e amassados, pallets de sustentação comprometidos.
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REJEITO OU ESTOQUE?
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Uma das questões que se levanta sobre o material depositado no complexo é se mesotório e a torta II são rejeitos ou estoque estratégico de urânio.
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Em 2002 foi assinado um termo de compromisso com o IBAMA. Este termo se referia ao licenciamento ambiental das instalações do complexo industrial. Participaram das negociações o Município de Caldas, a CNEN- Comissão Nacional de Energia Nuclear - e a FEAM- Fundação Estadual do Meio Ambiente, com o objetivo de viabilizar os testes de processamento da monazita, e estabelecer as diretrizes para o licenciamento ambiental e o processamento contínuo destas.
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O termo de compromisso criou para a INB - Caldas, dentre outras obrigações, a de definir medidas efetivas para recuperar as áreas degradadas existentes na Unidade de Tratamento de Minérios – UTM de Caldas, decorrentes das atividades anteriores às atualmente pretendidas pela empresa (produção de concentrados de terras raras). Mas retirar o urânio da torta II mostrou-se economicamente inviável. Para que seja dado um destino final a este material, é preciso definir se é rejeito e - assim sendo, ele deve ser levado para um depósito próprio e defmitivo para lixo radioativo - ou, se é material passível de reaproveitamento no futuro, deverá ser acondicionado da forma mais segura possível.
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Outra questão normalmente levantada pela população da região diz respeito às prioridades do governo: é mais importante para o Brasil definir o que vai fazer com o lixo radioativo e como, ou investir bilhões em novas usinas nucleares? Não sabemos sequer o que fazer com a torta II existente no país há pelo menos 50 anos? E o mais grave, qual será o destino do combustível dos reatores de Angra?
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Não menos importante é saber que destino a INB dará à unidade de Caldas. Segundo relatório anual da empresa em 2006, "as atividades da Unidade de Tratamento de Minério (UTM) da INB, situada em Caldas (MG), foram interrompidas, ficando operacionais somente as atividades de controle e monitoração do meio ambiente, tratamento de águas marginais, efluentes, controle da barragem de rejeitos e aquelas relacionadas com manutenção. A unidade de Caldas será submetida ao processo de descomissionamento que inclui o Plano de Recuperação das Áreas Degradadas - PRAD. O processo licitatório prevê a apresentação de propostas para fevereiro de 2007".
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Já o relatório anual 2008 diz que "a INB tomou a decisão de transformar esta unidade num centro de excelência laboratorial para análise de conteúdos radioativos de materiais de toda empresa, os laboratórios já estão sendo modernizados e o quadro de material especializado está sendo ampliado". Mais uma vez, a empresa não deixa claro quanto tempo levará para frnalizar o descomissionamento da mina do Cercado. A unidade será um depósito definitivo?
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DEPÓSITO DEFINITIVO
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No Brasil, apenas em Abadia de Goiás existe um depósito definitivo para rejeitos radioativos. O depósito foi criado para acondicionar o lixo radioativo produzido pelas cerca de 19 gramas de césio 137 encontradas por um catador de materiais recicláveis em Goiânia. O acidente de Goiânia foi o maior em área urbana do mundo e é estudado por cientistas norte-americanos, como o cenário de um possível atentado nuclear terrorista. Apenas 19 gramas foram suficientes para contaminar diretamente 6.500 pessoas.
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Odesson Alves Perreira, presidente da Associação das Vítimas do Césio 137 e do Conselho Estadual de Saúde, participou da OfIcina Anti-nuclear do Nordeste, realizada em abril deste ano, onde relatou sua história e de outros atingidos pelo césio 137. Odesson falou do preconceito de que é vitima até os dias de hoje. Além de perder a sobrinha, a casa, tudo que lembrava sua história, fotos, documentos, tudo que pertencia a ele foi para o depósito.
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Odesson conta que perdeu familiares, amigos, emprego. Quando foi autorizado a voltar ao trabalho, foi vítima do medo que todos tinham dele. Ninguém se aproximava, nem mesmo o médico trabalhista, que o aconselhou a aposentadoria. "Quando fui comprar uma nova casa, tive uma surpresa que não esperava: a vizinha fez um abaixo assinado exigindo que eu e minha família não pudéssemos morar naquela rua, orientada por seu médico particular, afirrmava que a radiação emitida pela família poderia agravar seu estado de saúde. Reconstruir a vida, recomeçar não é fácil", afIrma Odesson.
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É consenso entre especialistas da área e ambientalistas que se crie no País um órgão regulador autônomo e independente para a fiscalização das áreas de radioproteção e segurança nuclear. Rogério dos Santos Gomes, físico e doutor em Engenharia Nuclear, explica que "na área de rejeitos o Brasil possui uma legislação caótica sobre a seleção de locais e construção dos depósitos que dispõe que cabe à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN),projetar, licenciar, construir, operar e fiscalizar os depósitos, enquanto a Convenção Internacional sobre a segurança do combustível usado e segurança de rejeitos, aprovada pela Agência Internacional de Energia Atômica, assinada pelo Brasil, aprovada pela Câmara e pelo Senado e sancionada pelo Presidente da República, dispõe que cada país deverá assegurar a efetiva separação entre os órgãos que licenciam e fiscalizam e os que constroem e operam locais de rejeitos".
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Que garantia podemos ter se o mesmo órgão que executa é o que fiscaliza? Além do Brasil, apenas Paquistão e Irã mantêm esta estrutura. Ainda segundo Rogério Gomes "em julho de 2008 foi criado pelo presidente da República o Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB), sob coordenação da ministra-chefe da Casa Civil e compreendendo 11 outros ministros de Estado, tendo sido consenso entre todos a necessária criação de uma agência reguladora nuclear, promovida através da separação da CNEN. Hoje, passados quase dois anos, nada de prático foi alcançado, com a coordenação do CDPNB tendo passado para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, que no seu documento sobre os rumos do Brasil até 2022, não contempla a necessária criação de um órgão regulador independente. Ao que parece, o discurso de aumento do programa nuclear brasileiro não estará associado à criação de estruturas para garantir que toda a atividade nuclear se desenvolva evitando riscos à população e ao meio ambiente".
CUSTOS MUITO ALTOS
Vendo a energia nuclear pela lógica do aquecimento global, ela parece perfeita, mas, quando colocamos na ponta do lápis toda a contabilidade e os impactos ambientais causados por ela desde a mineração até a destinação final de seus rejeitos, será que realmente estamos prontos para investir no nuclear?
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Nos Estados Unidos, a grande polêmica da construção do depósito definitivo no Estado de Nevada ainda não terminou. O governo dos Estados Unidos gastou, só com estudos prévios para definir qual seria o melhor local para o depósito, 7 bilhões de dólares. Os custos da construção estão estimados em 58 bilhões, com vida útil de pelo menos 10 mil anos. Críticos ao projeto temem que o material possa escoar pelos campos ao redor da montanha e contaminar o meio ambiente, além do risco de se transportar o material altamente radioativo por longas distâncias. Caso o depósito da Montanha de Yucca não se concretize, os norte-americanos voltam à estaca zero: onde depositar seu lixo radioativo?
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Vazamentos estão por toda parte, até mesmo em um depósito no deserto do Estado de Washington. Colocar num ônibus espacial e enviar para outro planeta? Quais seriam as consequências se acontecesse um acidente com um ônibus espacial carregado de lixo radioativo? A NASA já teve dois sérios acidentes envolvendo ônibus espaciais.
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O tsunami que atingiu a Indonésia em 2004 removeu do fundo do mar da Somália, contêineres de lixo radioativo jogados ilegalmente em sua costa. A população da Somália sofreu com hemorragias em vários órgãos, sangramentos na boca, queimaduras de pele, além da contaminação das águas e do solo. Ainda existe a possibilidade que estas pessoas contaminadas possam desenvolver câncer e anomalias genéticas nas próximas décadas.
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De acordo com a médica Maria Vera de Oliveira, do Centro de Referência do Trabalhador-Santo Amaro, em São Paulo, "não existem níveis seguros de contato com a radiação". Por estarem sempre ligados a militares, estes estudos são dificultados. Por mais que se diga que a energia nuclear deva ser usada para fins pacíficos, ela sempre estará muito próxima daqueles que fazem as guerras.
No caso de Nagasaki e Hiroshima até hoje não se sabe quais foram as reais consequências para as futuras gerações Acredita-se que os estudos foram dificultados e até mesmo impedidos para que não se soubesse os reais danos causados pelos Estados Unidos ao Japão, mesmo estando a guerra praticamente acabada e o país destruído.
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QUESTÕES ÉTICAS
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Ex-trabalhadores da Nuclemon afIrmam que a torta II e o mesotório produzidos na Usam eram estocados no terreno de Interlagos e depois carretas levavam os produtos até Poços de Caldas, onde eram jogados na ribanceira. Um dos entrevistados mostra a cicatriz na barriga, perdeu um rim e tem muitos problemas de saúde. Mas enche os olhos de lágrimas quando conta que ia a Poços de Caldas para ganhar um "extra", sem saber o alto preço que pagaria. Diz que o pior foi quando ficou sabendo que tipo de trabalho fazia, e que tipo de material jogou na ribanceira. "É triste pensar que posso ter prejudicado muita gente". Este trabalhador é mais uma vítima do descaso com que o Projeto Nuclear Brasileiro é conduzido.
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Heitor Scalambrini, doutor em Energética da Université d'Aix-Marseille III e professor da Universidade Federal de Pernambuco, questiona se é ético deixar para as futuras gerações resolverem os problemas do lixo radioativo que nós produzimos. Ainda segundo Scalambrini, "o PNB nasceu na ditadura e até hoje depende de demandas de alguns setores das forças armadas, fascinados pelo poder que a energia nuclear Ihes traz. Outros grupos de interesse que fazem "Iobby" são os setores industriais "preocupados" com o risco de um apagão, grupos de cientistas, pelo prestígio e oportunidades de novas pesquisas e pelo comando do processo, os fornecedores de equipamentos e as empreiteiras, por motivos óbvios".
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O professor Scalambrini acredita que uma matriz energética diversificada seria a solução para o País, inclusive para aproveitar todo o potencial de fontes alternativas que existem por aqui. Para ele, a energia nuclear talvez seja o futuro, mas ainda há muito o que estudar.
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Não se pode subestimar os riscos com segurança. Rogério Gomes acredita que o Programa Nuclear Brasileiro não está maduro, que corremos o risco de um acidente como o de A1cântara, próximo a usinas nucleares. Um estudo feito pela pesquisadora Geórgia Reis Prado concluiu que a população de Caetité, na Bahia, está 100 vezes mais exposta à contaminação por urânio que a média mundial.
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Não se pode subestimar os riscos com segurança. Rogério Gomes acredita que o Programa Nuclear Brasileiro não está maduro, que corremos o risco de um acidente como o de A1cântara, próximo a usinas nucleares. Um estudo feito pela pesquisadora Geórgia Reis Prado concluiu que a população de Caetité, na Bahia, está 100 vezes mais exposta à contaminação por urânio que a média mundial.
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A lavra de urânio está associada a metais pesados. Segundo o pesquisador Lamego, um estudo realizado na área de mineração de urânio de Poços de Caldas indica que a "emissão de manganês era muito mais signifIcativa, do ponto de vista da saúde humana, do que aquelas relativas aos elementos radioativos, que sofriam (e ainda sofrem) um rígido controle pela Comissão Nacional de Energia Nuclear".
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O debate aberto e democrático deveria ser pré-requisito para se decidir qual o tipo de energia queremos, e que sociedade queremos construir.
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Joelma Couto é jornalista.
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Saiba mais sobre o caso da Nuclemon em São Paulo clicando no link:
http://perigoconcreto.blogspot.com/2010/04/nuclemon-deposito-de-lixo-radioativo-na.html
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Visite o sirte da revista Caros Amigos: http://www.carosamigos.com.br/
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Saiba mais sobre o caso da Nuclemon em São Paulo clicando no link:
http://perigoconcreto.blogspot.com/2010/04/nuclemon-deposito-de-lixo-radioativo-na.html
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Visite o sirte da revista Caros Amigos: http://www.carosamigos.com.br/
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Excelente artigo. Muito oportuna sua publicação nesse blog. Essa questão é muito séria e cabe a discussão e esclarecimento por parte das autoridades competentes.
ResponderExcluirEm todo lugar que se vá em Poços e região esse assunto é debatido. Precisamos de um posicionamento oficial, claro e definitivo.
Lixão na INB: querem jogar o futuro no lixo
ResponderExcluirNo início deste mês de julho, fomos surpreendidos com o inusitado anúncio de que a AMARP (Associação dos Municípios do Alto Rio Pardo) estaria liderando esforços para construir um aterro sanitário nas instalações da INB – Indústrias Nucleares do Brasil, no Campo do Cercado, município de Caldas. Logo de princípio dá para ver que é uma idéia estabanada e que seus autores não pararam para pensar com mais profundidade e seriedade sobre o assunto. Não analisou e ponderou os aspectos ambientais, históricos, econômicos, antropológicos e vários outros que devem ser levados em consideração quando se pretende fazer algo que tem um impacto tão importante como esse.
Pra começo de conversa, o Campo do Cercado não é a casa da mãe Joana. Tem uma profunda importância na história da região do Planalto de Poços de Caldas e do Brasil. Importância esta relacionada ao nascimento da indústria nuclear no país, nos idos dos anos 50, quando aquele era nossa maior jazida de urânio e de onde saíram as primeiras cargas para os nossos primeiros reatores atômicos. Pioneirismo que deu o impulso inicial para este importante campo de nossa soberania que até hoje estamos a procurar com muito esforço e superando muitas dificuldades.
Foram das minas do campo do Cercado que saíram as primeiras cargas que alimentaram o reator da usina de Agra dos Reis. E também de Angra II, construída muitos anos depois. Como pode se observar, aquele lugar foi de extrema importância para o desenvolvimento e para a autossuficiência energética do país. Tanto é que o governo federal, à época dirigido pelos generais Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo, investiram muitos milhões de dólares para a viabilização das atividades desenvolvidas no Campo do Cercado. Primeiro, com a Nuclebrás. Depois, Urânio do Brasil e agora Indústrias Nucleares do Brasil.
Com a descoberta de novas jazidas em Caetité, na Bahia, fez com que as minas fossem consideradas economicamente inviáveis para a atual conjuntura. Por isso, elas foram desativadas. Mas no local continuaram as instalações industriais e vários laboratórios que hoje estão bastante ociosos. E esta ociosidade fez nascer na cabeça de alguns políticos as mais variadas conjecturações e devaneios. Transformá-lo num lixão é apenas mais uma.
Transformar o campo do Cercado num lixão não é uma boa idéia sob nenhuma circunstância. Ainda mais quando a iniciativa é feita sob o comando da AMARP, uma instituição cercada de denúncias de improbidade administrativa, mal uso do dinheiro público, nepotismo e muitas outras irregularidades. Tanto é que no final da década de 90, a Câmara Municipal de Poços de Caldas obrigou o afastamento da prefeitura de seu quadro de associados. A entidade então se mudou para Caldas, mas o estilo controverso continuou o mesmo e o seu secretário Mauro Lima continuou agindo com um poder ainda maior, já que estava livre da fiscalização exercida pelos vereadores e pela imprensa de Poços de Caldas. Deu no que está dando.
A instalação de um aterro sanitário mais moderno e sustentável é necessária para a região. Mas não nas dependências da INB. Existem muitos outros locais mais adequados e que causam menos impactos. E ainda há de se levar em consideração que é lá que nasce alguns dos principais rios da região: rio das Antas (muito importante para Poços), rio Verde (importante para Caldas) e o Jaguari Mirim (importante para Andradas, Espírito Santo do Pinhal e São João da Boa Vista).
Devemos procurar a solução para o lixo das cidades da região, mas jamais devemos de levar em consideração a nossa História, o nosso meio ambiente e as nossas aspirações futuras. Queremos um progresso sustentável e integrado, com geração de empregos e qualidade de vida – e não uma gigantesca lata de lixo, como é que nos apresenta esta infeliz idéia.
Dra. Regina, a Sra. e a vereadora Maria Cecília têm uma luta árdua pela frente. Tenho interesse sim em conhecer os detalhes, e penso que esse material deveria ser encaminhado não apenas à mídia local, mas divulgado nacionalmente.
ResponderExcluirNo passado votamos uma lei inconstitucional proibindo presídios nos limites da cidade. Com perdão do trocadilho: e as cadeias atômicas?
O assunto deve ser abraçado de forma radical também pelo chefe do executivo, atual líder-mór dos interesses dos poçoscaldenses, cuja segurança deve estar em primeiro plano, ainda que o resultado desses levantamentos inviabilizem interesses outros.
É preciso transparência, e isso o Poder Legislativo, aliado ao Executivo e ao Ministério Público não somente podem, como devem, exigir. As instalações sob suspeita devem ser abertas, com possibilidade de acesso não apenas "onde o padre deixa", mas principalmente atrás das portas trancadas.
Ou vamos continuar a incriminar as inocentes capivaras?
Esse espaço está à disposição das Vereadoras -e de quem quer que esteja interessado nesse debate sério- até que a verdade seja totalmente esclarecida.
Acompanho desde meados da década de 80 esta questão e já deu para perceber que há uma grande polêmica entre os defensores e os adversários da instituição. Ambos os lados têm suas convicções e seus argumentos. Quais são mais prodedentes, imparciais ou exatos, é difícil para um leigo saber com exatidão. Porém, sem querer entrar em controvérsia, a idéia de se instalar um lixão (uo aterro sanitário) no local é totalmente descabida. Seja por aspectos históricos, naturais, científicos ou seja lá o que for. Como na reportagem, a jornalista cita a hipótese da explosão das naves americanas como argumento de falta de segurança para envio dos resíduos atômicos para o espaço, a mesma regra se aplicaria na questão do lixão. Se ocorresse um vazamento de xurume, este poderia contaminar as nascentes. Já imaginou o que seria uma vazamento turninado com xurume atômico? Poços de Caldas poderai ser pioneira mundial nesta modalidade de tragédia e o presidente da AMARP, Mauro Lima, seria um jênio (com jota mesmo)!
ResponderExcluirPrezado jornalista Rubens Caruso Jr.
ResponderExcluirFui procurada pela jornalista Joelma Couto nos meses de maio e junho p. passado para uma entrevista sobre os resíduos nucleares existente no Planalto de Poços de Caldas. Essa questão tem sido uma das minhas lutas na Câmara Municipal e, como médica, estou atenta e preocupada com as ações da INB, que vem sendo questionada pela própria CNEN, pelo descumprimento de determinadas normas de segurança oferecendo riscos ao eco-sistema e a saúde da população de Poços de Caldas e de cidades vizinhas.
Formalizei uma denuncia ao Ministério Público sobre o acidente ambiental causado pela INB em 28/05/2010, com o desprendimento de placas sedimentadas contendo material pesado na Bacia de Águas Claras que deságuam na Represa Bortolan.
Solicitei, na ocasião, a presença da Polícia Ambiental (PM) que imediatamente lavrou um Boletim de Ocorrência (BO) onde a empresa alegou que o fato teria sido gerado por capivaras que passaram pelo local. A Bacia denominada SV (D4) de onde se desprenderam as placas já foi objeto de outro acidente, idêntico a esse último, e também questionado pela CNEN.( importante lembrar que não foram as capivaras que causaram o dano ambiental anteriormente ocorrido) .
A Curadoria do Meio Ambiente de Caldas, através do Promotor Dr.José Eduardo de Souza Lima, já tomou conhecimento do fato e deverá entrar com uma Ação Civil Pública referente ao caso.
Pelas informações recebidas, esses “acidentes” não foram casuais, mas decorrentes de erro de projeto ( sem autorização da CNEN), sem projeto aprovado previamente e sem registro da obra no CREA e o que é pior sem RT.
Importante esclarecer que existem dois problemas sérios com relação à segurança nas instalações da INB no Campo do Cercado. O primeiro é referente à falta de segurança e manuseio das áreas de bota-fora e bacia de rejeito ( onde existe muito material pesado ( inclusive rádio) que, de acordo com a sazonalidade poderá trazer sérios e graves riscos à saúde da nossa população. O segundo problema é com relação ao acondicionamento – irregular - de Torta II e Mesotório nas instalações da INB em Caldas. Na verdade trata-se de rejeito (lixo) sem qualquer utilização futura e está estocado em Caldas por decisão da CNEN já que esse material a ela pertence.
Caso seja do seu interesse e no sentido de esclarecer com isenção e clareza os fatos que envolvem a INB com relação ao descaso ambiental por ela praticado, coloco-me à sua disposição para apresentar os documentos que corroboram minha afirmativa sobre essa preocupante situação.
Lembro, ainda, que solicitei a realização de uma audiência pública, que ocorrerá no dia 26 de agosto próximo, nas dependências da Câmara Municipal onde serão tratados dois assuntos de grande importância: Os rejeitos radioativos e a questão dos riscos inerentes ao uso do amianto ( que em Poços já ceifou uma vida e outra encontra-se em fase terminal ).
Importantes personalidades já agendaram o comparecimento para esse evento e será o momento para, de forma definitiva, buscar soluções que perduram por décadas sem que sejam adotadas medidas corretivas.
Vereadora Regina Cioffi
PPS
Quando as `otoridades irão fazer algo em beneficio da população` ou irão fazer como as águas da represa ........
ResponderExcluirPAULO RIBEIRO FERRAZ - CALDAS(MG)
ResponderExcluirComo cidadão caldense, Conselheiro do Codema de Caldas e Acadêmico de Tecnologia em Gestão Ambiental, não posso concordar com as notícias veiculadas na mídia com referência à criação pela AMARP, entre os seus nove filiados, para a criação do CIMARP-Consórcio Intermunicipal dos Municípios do Alto Rio Pardo, para a CONSTRUÇÃO DE UM ATERRO SANITÁRIO no terreno da antiga mina, nas dependências da INB, em Caldas. Se, ao invés de ATERRO SANITÁRIO SIMPLESMENTE, se partir para a implantação de uma USINA DE RECICLAGEM E COMPOSTAGEM DO LIXO, sem dúvida, que estarei de acordo.Justifico a minha opinião contrária, tendo em vista que o CIMARP já nasceu na contramão da Lei Federal nº 12.305, de 02.08.2010, recentemente sancionada pelo Presidente da República e, que ficou mais de vinte anos em discussão. A referida lei menciona do início ao fim que devemos PRIORIZAR a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos. Investir em logística reversa. Da maneira como foi anunciado, é um projeto de grande impácto ambiental para CALDAS, mesmo com licenciamento ambiental, não tenho dúvida. E, também questiono a mais de vinte anos, que os órgãos ambientais não são confiáveis. Quantos problemas ambientais sérios se verificou nos últimos tempos no Estado de Minas Gerais! E todos são licienciados!
É uma vergonha o que os poderosos da cidade fazem com a gente.será que ainda devemos votar em alguem.pra que serve o voto???
ResponderExcluirpessoas estao morrendo e eles nao fazem nada
se o uranio contaminar a cidade eles simplesmente pegam o aviao e mudam de PAIS.
E QUEM NAO PODE PEGAR AVIAO,MORRE SEM PODER FAZER NADA.
Caro Rubens
ResponderExcluirRealmente é preocupante a questão da radioatividade, porém estudos bem feitos e usados corretamente, os riscos são controlados, dissipados, e até neutralizados, basta querer fazer a coisa correta.
Sobretudo vejo também preocupante o que fazer com o imenso buraco, encher de terra novamente, tapar e plantar arvores? Isso é um tremendo desperdício de energia e falta de visão empreendedora, diria até mesmo desperdício de dinheiro.
O local poderá ser uma referência mundial de readaptação de sítio degradado pela mineração. A região já é um polo turístico, porque não incrementar com novos atratores entrópicos da situação gerada?
É perfeitamente possível tornar um ativo para a região, trazendo divisas para os municípios circunvizinhos.
at.
ab.
Maria diz
ResponderExcluirCOMO MORADORA DE POÇOS DE CALDAS ME SINTO TRISTE E PREOCUPADA COM ESTE PROBLEMA NA CIDADE, ACHO QUE ESTA SITUAÇÃO DE PROVAVEL CONTAMINAÇÃO JA EXISTE HA MUITO TEMPO POIS TENHO OBSERVADO MUITAS PESSOAS DOENTES E ME CHAMA A ATENÇÃO O NUMERO DE PESSOAS COM CANCER NA CIDADE QUE AS AUTORIDADES PROCUREM OBSERVAR ISTO COM URGENCIA.