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terça-feira, 5 de agosto de 2008

AS BARBAS DE PEDRO




Esteve aqui em Poços de Caldas um visitante de nome Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga. Já ouviu falar dele? Estranhou o longo nome? Reconheceu nas fotos o dono das longas barbas brancas? Trata-se de Sua Majestade Dom Pedro II, o segundo imperador do Brasil, que nasceu no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1825 e assumiu o trono em 18 de julho de 1841, aos 15 anos de idade, sob a tutela de José Bonifácio e depois do Marquês de Itanhaém.

Dom Pedro II foi uma das mais emblemáticas personalidades que o Brasil já teve, e não apenas na minha modesta opinião. Coroado ainda menino, tornou-se homem cultíssimo e dono de visão aguçada para o futuro, que só se concretizaria por meio da educação, ciência e tecnologia -Dom Pedro II trouxe para o Brasil avanços importantes como o daguerreótipo (precursor das câmeras fotográficas), o telégrafo, o selo postal e o hoje indispensável telefone, além de ter sido grande incentivador da cultura.

Dom Pedro II deixou o Brasil dois dias após a proclamação da República, em 17 de novembro de 1889, falecendo dois anos depois em Paris, aos 66 anos.

Leitura obrigatória para quem tem interesse pela história de Poços é o excepcional trabalho da historiadora Nilza Botelho Megale, intitulado “Memórias Históricas de Poços de Caldas”. O livro traz a informação da visita de dois dias do Imperador, cuja chegada se deu em 22 de outubro de 1886, acompanhado da Imperatriz D. Tereza Cristina e comitiva, para a inauguração do Ramal de Caldas da Estrada de Ferro Mogyana.

Curiosa herança da visita de Dom Pedro II foi a polêmica foto da Família Imperial, que teria sido tirada defronte ao Hotel da Empresa (Empresa Balneária, que funcionou como concessionária das termas nos anos 1880). O fato foi esclarecido por D. Nilza: na verdade a foto foi feita em Petrópolis e aqui distribuída como lembrança da visita do Monarca à cidade, gerando a confusão. Tudo por conta da legenda que há no rodapé da foto: “D. Pedro II e Família – Hotel da Empresa – 1887 – Poços de Caldas”.

Já o clássico “Poços de Caldas – Synthese Historica e Crenologica”, do Dr. Mario Mourão, publicado em 1933, conta: “(O Imperador) ficou em Poços de Caldas dois dias, indo passear na Cascatinha e Cascata das Antas, sempre acompanhado em ambos os passeios por enorme massa popular”. Diz ainda que “Sua Majestade veio na companhia da Imperatriz, da Princeza Isabel, do Conde d´Eu, dos principes e de uma luzida côrte, entre os quaes o Visconde Ibituruna, o medico do Paço, e varias damas de honor”.

Além das cascatas, o Imperador conheceu toda a cidade, tendo se banhado no Balneário Pedro Botelho. Também visitou a Fonte Sinhazinha e subiu o Morro do Itororó para ver a paisagem.

Há um outro livro interessantíssimo, cuja leitura também recomendo: trata-se de “As Barbas do Imperador”, brilhante trabalho de Lilia Moritz Schwarcz, que desvenda a vida do Imperador em obra de mais de 600 páginas. No trabalho ela conta que Dom Pedro II esteve em nossa cidade no ano de 1861, quando “conheceu as milagrosas águas termais de Poços de Caldas”. Então, segundo a história, Dom Pedro II esteve duas vezes em Poços de Caldas.

Visitas desse quilate são raras, e poucas cidades de Minas Gerais tiveram a oportunidade de receber Sua Majestade. Os locais por onde passou em Poços poderiam estar indicados com referências à visita, mas resta apenas a homenagem da Praça Dom Pedro II, ainda hoje apontada como “Praça dos Macacos”, por conta da denominação da fonte ali existente.

Pedro foi um homem de grandeza impressionante. Antes de embarcar para o exílio forçado, após a proclamação da república, deixou a seguinte mensagem:

“Cedendo o império as circunstâncias, resolvo partir com toda a minha família para a Europa amanhã, deixando esta pátria de nós estremecida, à qual me esforcei por dar constantes testemunhos de entranhado amor e dedicação durante quase meio século, em que desempenhei o cargo de chefe de estado. Ausentando-me, eu com todas as pessoas de minha família, conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo votos por sua grandeza e prosperidade".

Em sua bagagem, um pacote contendo terra do Brasil, encontrado depois em seus pertences, com um escrito de próprio punho do Imperador: “É terra do meu país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria”. Assim foi feito.

Dom Pedro II merece a admiração e o respeito de todos os brasileiros, e Poços de Caldas poderia fazer mais pela memória de seu mais ilustre visitante. É, como disse antes, minha modesta opinião.

Legendas e créditos das fotos:
1-Dom Pedro II em Poços de Caldas (arquivo da Fundação Biblioteca Nacional).
2-Suas Majestades Imperiais em Petrópolis, 1889, três anos após a visita a Poços. Note o livro nas mãos de Dom Pedro II: um homem da cultura. (arquivo do Museu Imperial de Petrópolis).
3-Carro de viagem de Dom Pedro II, o Vagão Imperial. Talvez com ele o Imperador tenha visitado a cidade (arquivo do Museu da Imagem e do Som – SP).

quinta-feira, 29 de maio de 2008

PAUL HARRIS: INJUSTA HOMENAGEM



Você sabe quem foi Paul Harris? Talvez não, mas certamente já viu em Poços de Caldas e em muitas outras cidades que visitou uma indicação "Rotary Club". Pois bem, Paul Harris foi o fundador do Rotary, associação centenária que hoje congrega mais de 1 milhão de pessoas por todo o planeta, atuando em programas de interesse social e cultural, entre eles as campanhas de erradicação da poliomielite. Você pode saber mais sobre a obra iniciada por Paul Harris e o Rotary em centenas de sites na internet, como em http://www.rotarypcaldas.org.br/ ou http://www.rotarysp.org.br/.

Mas o que há entre Paul Harris e Poços de Caldas? Simples: na sua próxima ida ao centro, ali no comecinho da Rua Junqueiras, olhe bem para o que sobrou do magnífico prédio da estação de trens. Preste atenção no lado esquerdo da fachada, em meio a uma enorme mancha de môfo, originária de um vazamento de calha que não foi reparado pelo menos nos últimos cinco anos e você verá uma placa indicativa azul, com a seguinte grafia: PRAÇA PAUL HARRIS.

Esta é a "homenagem" da cidade a um nome mundialmente importante como Harris. No prédio da antiga estação hoje fica a sede da Guarda Municipal. Desalentador saber que quem zela entre outros pela integridade dos prédios públicos municipais abriga-se em local tão deteriorado. Trata-se pois de outro "cartão postal" da cidade - localizado em área de passagem quase obrigatória de habitantes e turistas- totalmente descuidado, como se não houvesse tinta e pintor de parede na cidade. Enfim, uma falta de respeito com o patrimônio, com quem ali trabalha, com o cidadão e com o turista, que traz divisas para Poços.

"TREM BÃO"
O transporte ferroviário trouxe e ainda traz riqueza para Poços. Talvez o amigo leitor nem saiba, mas os trens ainda circulam diariamente pela cidade, não mais chegando até o centro, pois a estação foi desativada e os trilhos retirados.

"o ramal de Caldas foi inaugurado em 1886, para trazer mercadorias da região de São João da Boa Vista e de Poços de Caldas (na época conhecida como Caldas), já em território mineiro. O ramal seguiu, entretanto, deficitário por muitos anos, chegando a ter, de tempos em tempos, seus trens de passageiros suspensos devido a isso. Porém, acabou por ser o único de todos os ramais da Mogiana que permanece ativo até hoje, por causa do transporte de minério de alumínio da estação de Bauxita, uma antes da de Poços de Caldas. Trens de passageiros circularam pela linha até fins de 1976, quando foram suprimidos. Até meados dos anos 90, um trem turístico ainda percorria em determinadas ocasiões o ramal, mas hoje nem ele existe. Os trilhos, entretanto, foram retirados no trecho terminal em Poços de Caldas." A Estação Bauxita fica na CBA, no final da Avenida Celanese.

Como se vê, trata-se de local de importância histórica e que se bem cuidado certamente teria relevância turística nos dias de hoje. Há uma promessa antiga de retirar a Guarda Municipal de lá, que certamente merece instalações mais dignas. Seria o primeiro passo. Depois, o que fazer com a velha estação? Minha modesta sugestão é copiar o que a Vale fez com a estação de trens do Porto de Vitória, ES, local que tive oportunidade de visitar algumas vezes. O prédio virou um "museu-restaurante-recinto de eventos". É verdade que a estação lá é bem maior, mas pelo menos um museu ferroviário com centro de referências turísticas caberia bem ali, evidentemente num espaço restaurado com qualidade. Se não for pedir muito, pelo menos uma locomotiva antiga com uma vagão-restaurante servindo refeições de bom nível, na parte de trás da estação, junto à plataforma. A Vale fez isto em Vitória, acho que temos capacidade também. O retorno virá e Paul Harris finalmente vai ter uma homenagem compatível com sua biografia.